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domingo, 29 de maio de 2011

Uma nova aurora corrompida

“O iluminismo foi um movimento global, ou seja, filosófico, político, social, econômico e cultural, que defendia o uso da razão como o melhor caminho para se alcançar a liberdade, a autonomia e a emancipação.”

Essa frase mostra de maneira sintética o que foi o movimento iluminista, o qual, para Marx e Engels, seria essencial para a implementação de uma novo sistema, o socialismo. Para eles, o iluminismo constituiu uma ruptura com o passado, uma quebra com os paradigmas convencionais, sobretudo, da religião e de uma tradição européia marcada pelo absolutismo. É o momento no qual a sociedade desperta para observar a si mesma com os olhos da razão, sem os olhos da tradição ou da religião. Porém, se em um primeiro momento essa nova aurora representa uma transformação profunda, da busca da liberdade, logo, ela se converte em uma racionalidade burguesa (de mercado) – ordem que cria seus próprios privilégios de classe.

Essa era a angústia de Engels, pois logo posteriormente à revolução francesa, essa liberdade tão almejada passa a ser restrita a uma só classe (não era uma emancipação real). Por isso, Engels repudia as primeiras evocações de um socialismo preconizado no começo do século XIX (socialismo primitivo). Esse socialismo fazia uma interpretação equivocada da realidade, uma vez que, para eles, seria possível emancipar toda a humanidade das diferenças de classe, como se aquela nova ordem fosse somente um desvio da trajetória humana. Eles pregavam que era preciso despertar a solidariedade ampla natural humana, os seus desejos mais profundos de eliminar todas as diferenças, e assim, reverter esse desvio da ordem burguesa. Isso geraria um modo de produção onde todos cooperariam sem egoísmo, trabalhariam em prol de todos, um complementaria o outro. Entretanto, para Engels, isso era utópico, não poderia realmente acontecer, pois a burguesa nunca abriria mão de tudo que havia conquistado, justamente no momento que começava a transformar de forma tão profunda a realidade.

A crítica a esse socialismo utópico (baseado somente na retórica – uma vez que o proletariado não poderia fazer tudo por si mesmo) ocorre em nome da necessidade da construção de um socialismo científico. Marx e Engels acreditavam que as pessoas não deveriam imaginar uma nova sociedade (metafísica), mas entender a realidade e construir uma proposta científica para o futuro.

Para compreender melhor esse tão criticado socialismo utópico, utiliza-se de dois conhecidos nomes: Saint Simon e Owen. O primeiro fala sobre o conflito entre trabalhadores e ociosos. Ociosos seriam os burgueses, os que viviam de renda, altos funcionários que viviam a sombra do estado. Os trabalhadores eram aqueles que geravam riqueza cumprindo uma função específica na sociedade. Para ele, o governo deveria ser da ciência e da indústria (expressar o mundo econômico), uma vez que os ociosos e os “descamisados” já tinham tido a oportunidade de governar, principalmente na revolução francesa, e mostraram que não conseguiam transformar o mundo, pois não tinham habilidades mínimas de empreendimento. Já Owen se mostra preocupado com o fato de que o capitalismo era produzido pelo esforço de trabalhadores, mas que somente uma minoria possuía acesso a essa produção (burguesia). Para ele, a solução estaria na educação das crianças, o que levaria a emancipação da classe e de cada individuo por si só, fazendo com que todos entendessem as necessidades dessa civilização moderna (esse pensamento foi fundamental para o progresso das leis trabalhistas). Porém, levando em consideração a realidade capitalista isso dificilmente ocorreria, pois as crianças eram assimiladas ao processo de produção ao invés de serem educadas para o futuro.

Por esses motivos, Engels acreditava que tudo isso não passava de mera idealização de homens bem intencionados, mas que não buscavam respaldo na realidade concreta.
Assim, sua proposta seria investigar e interpretar o real, a fim de encontrar a verdade cientifica das coisas. A crítica à metafísica é o ponto essencial de toda a ciência que ele preconiza como materialismo dialético (enxergar a realidade em uma perspectiva muito ampla). A ideia da dialética marxista é buscar as conexões anteriores aos acontecimentos, que fazem chegar ao fragmento atual, à perspectiva final. A luta de classes se extinguiria(assim, o Estado não seria mais necessário já que não há antagonismos), mas não a dialética – essa só se transformaria, passando a ser a luta do homem com suas próprias insuficiências, a luta do homem para gerar um mundo cada vez mais pleno (seria a dialética da prosperidade coletiva).

Toda a riqueza que o capitalismo gera continuamente, não atinge a todos, e assim há a marginalização da mão-de-obra, aumento da miséria e da pobreza.Além disso, a máquina, ao invés de diminuir o trabalho humano, o intensifica sem haver aumento salarial. São essas contradições que resultarão na sua superação. Chega um momento que não é mais possível extorquir o trabalho das pessoas para que esse modo de produção sobreviva (há limites, inclusive ligados à moral). A contradição do capitalismo deve ser analisada cientificamente, devem-se entender as artimanhas desse sistema que consegue explorar até mesmo quando nossos sentidos não percebem (classe social dominante conseguiu, pela primeira vez, realizar uma exploração sutil, sem coerção física).

Nesse ponto, torna-se essencial uma distinção. A dialética de Hegel é diferente da dialética marxista. Para Hegel, na história, há uma seqüência de contradições onde culturas emergem e outras perecem (a história mostra isso), assim a humanidade está em permanente processo de desenvolvimento. Já Marx questionava se esse desenvolvimento estava diretamente ligado à cultura. Para ele, os modos de produção (com seus antagonismos) que perecem e levam às transformações (a cultura seria uma emanação da economia, assim como a política, as mentalidades e as instituições).

Assim, o materialismo dialético teria justamente a função de desvendar as leis do desenvolvimento histórico. As respostas para os males de toda uma época não estariam na concepção das idéias, mas na própria realidade.

A partir do dia em que se conheceram, a obra de Karl Marx e Friedrich Engels converteu-se numa obra comum. Eles foram os primeiros a explicar, nas suas obras científicas, que o socialismo não é uma invenção de sonhadores, mas o objetivo final e o resultado necessário do desenvolvimento das forças produtivas da sociedade capitalista atual.

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