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domingo, 14 de agosto de 2011

A fé desenvolvendo a economia

TEMA: CAPITALISMO – A RACIONALIZAÇÃO DA FÉ?

A Reforma religiosa introduziu uma nova forma de conceber a economia, cuja importância os próprios protestantes não perceberam imediatamente, sendo hoje o que se chama capitalismo. A análise de Weber mostra que esta introdução do capitalismo não obedeceu inicialmente a uma motivação econômica, porém religiosa, ou seja, o desenvolvimento da economia não depende necessariamente de transformações internas a ela, mas estas podem ter uma fonte externa.

É relevante observar que naqueles tempos os valores religiosos eram predominantes, sendo que eles não determinaram apenas a ética, mas também a conduta prática da vida em todos os domínios, inclusive no da economia.

Sabe-se que a crescente racionalização da vida é um dos temas centrais do pensamento sociológico de Max Weber. O capitalismo introduziu essa racionalização na vida econômica. Com efeito, as convicções religiosas são determinantes no estilo que inauguraram na economia.

Weber estabelece uma relação entre a crença religiosa protestante e a prática de um racionalismo econômico, e a partir disso vai construir o que denominou de espírito do capitalismo, através do qual busca explicar o caráter racional da economia capitalista.

No protestantismo, a relação da religião com o mundo terreno é profundamente modificada e a salvação vai ser centrada na intensidade da existência do indivíduo nesse mundo. Assim, nessa nova religião, a partir de Lutero, e na versão desenvolvida por Calvino, ela passará a encorajar um comportamento econômico particular: a profissão torna-se, perante Deus, um dever, uma vocação, uma prova de fé. Tal modo de viver difunde-se ao longo de toda a Europa e América do Norte pregando um comportamento de busca do lucro.

Em outras palavras, Weber quer explicar o processo de racionalização principalmente como um desenvolvimento de uma orientação religiosa única e particular ao mundo de Lutero e Calvino. Esse conceito na concepção do pensamento social de Max Weber, uma vez que na obra desse autor, a racionalização ocupa um lugar central, sendo, portanto, um dos conceitos mais importantes para a compreensão de sua sociologia.

Economia superando a religião

Em "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo" de Max Weber, propõe-se a relação entre essa nova vertente religiosa e a nova proposta de sistema econômico.

Com o fim da Idade Média, a moeda passou a ter sua circulação aumentada gradativamente no ocidente. A diferença consiste no modo de ver o dinheiro. Com o passar do tempo, o dinheiro, para muitos investidores, passou a ter um único fim: produzir mais riquezas. Entende-se que para o autor, assim a união citada acima foi essencial.

Antes, com o domínio do pensamento católico, os burgueses eram acusados de cometer a usura [por exemplo, ao cobrarem juros em empréstimos estariam valorando o tempo, apesar de este não pertencer a ninguém. Aqueles que emprestaram o dinheiro, contudo, argumentavam que cobrariam apenas o que poderiam ter obtido caso houvessem investido o valor emprestado]. A chamada "ética protestante" teria sua importância ao não condenar o pensamento de acúmulo, pelo contrário, este é considerado uma virtude. Trabalhar é o meio da salvação e gastar o mínimo possível para juntar cada vez mais seria uma meta.

Esse ganhar mais e mais presente por onde se fosse vai, aos poucos, parecendo não só natural como essencial, ao que o autor diz na página 21: "É uma obrigação [dever do indivíduo em relação à carreria] que se supõe que o indivíduo sinta em relação ao conteúdo de sua atividade profissional (...)". A economia moderna capitalista mostrar-se-ia " como uma ordem de coisas inalterável, na qual ele [o indivíduo] tem de viver" e, aquele que se opusesse seria "eliminado do cenário econômico".

Ao dizer que "o capitalismo atual, que veio para dominar a vida econômica, educa e seleciona os sujeitos de quem precisa, mediante o processo de sobrevivência econômica do mais apto", não pude deixar de pensar em darwinismo econômico. Seriam os protestantes os mais aptos nessa história?

Começaria a pensar na supervalorização da religião em questão para a sobrevivência do capitalismo. Ao falar do tradicionalismo com o exemplo de aumentar o preço pago por tarefa realizada, na página 24, podemos ter inicialmente uma visão negativa: "o homem não deseja 'naturalmente' ganhar mais e mais dinheiro, mas viver simplesmente como foi acostumado a viver e ganhar o necessário para isso". Poderíamos pensar em qualidade de vida - se já temos o necessário para sobreviver, para quê continuar trabalhando em demasia e deixar de curtir o lazer, a família? Seria uma "teimosíssima resistência desse traço orientador do trabalho pré-capitalista. E ainda hoje encontra, e por mais atrasadas que sejam as forças de trabalho (do ponto de vista do capitalista) com que tenha de lidar".

Conversar com adeptos de diferentes religiões me fez questionar a crítica pura ao catolicismo, em especial esse medieval, elogiando apenas o protestantismo com a importância ao trabalho. Entretanto, o possível extremismo entendido pode ser positivo justamente por atrair a atenção e buscar reflexão. Porém, não podemos generalizar e entender que católicos não querem enriquecer e que todos os protestantes são os defensores do capitalismo, contribuem para o avanço deste, mas evitam gastos tanto quanto possível.

Ainda seguindo o que pensava, a aversão à obtenção do lucro fora resolvida, o que interessava ao ideal burguês, e por isso o protestantismo merece destaque na superação do pensamento condenatório, permitindo com que chegássemos ao capitalismo atual independente da religão - ou perguntamos qual igreja o dono da loja frequenta ao comprar?



imagem extraída de: http://www.hermesfernandes.com/2009_02_01_archive.html; acesso: 14/08/2011 às 23h20

Integrados? Acho que não!!!

Max Weber expõe na obra “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo” que a criação e afirnação do Capitalismo deve-se a forma como novas religiões tratavam esse recém criado movimento econômico e lidavam com a fé e com o materialismo. Tais religiões derivavam do Protestantismo e firmavam suas teses no lucro e no bem estar social e do corpo material. Dessa forma, inicio minha crítica expondo de maneira rápida o assunto. Weber diz que a racionalização do homem alterou sua visão no âmbito religioso e por isso a melhor aceitação a acumulação do dinheiro e que aqueles, do Ocidente, que se arraigaram às questões protestantes “comiam bem” ao invés de “dormirem sossegados”.

Essas são visões puramente científicas ao meu ver, de modo que não concordo com a maioria das pregações do autor. Posso, por vez, ter minhas ideias levadas pela religião Católica, a qual fui criada, mas penso que não há exceções entre nós.

Católicos preferem a pobreza e o reino dos céus, enquanto os Protestantes preferem suas moedas e fartura terrena? Creio que não. Misturar religião e economia pra quê? São coisas extremas e que não são dependentes uma da outra. Sou católica, defendo o capitalismo e nem por isso conflituo os dois na minha vida. Não faço voto de pobreza, não me abstenho de bens materiais, mas ajudo minha comunidade da maneira que posso. Acredito naquilo que me fortalece, não misturo racionalismo com fé. Meu Deus é real pra mim e vive no meu consciente e inconsciente, independente daquilo que outros pregam e combatem. Independente, principalmente, se sigo ideais capitalistas ou comunistas.

Além disso, muitas pessoas que seguem religiões de bases protestantes, posso afirmar de maneira convicta, não pregam somente o lucro ou a acumulação de bens materiais. São pessoas religiosas, que creem fielmente naquilo que independe da razão.
Acredito que aqueles que pretendem acumular mais e mais ou procuram riqueza na frugalidade da vida são a hiprocrisia do mundo... “Sou ateu, graças a Deus”.

Talvez eu possa estar errada em algumas partes ou então ser interpretada como “quem é você pra combater Weber?”. Mas minha “ira” se baseia naquilo que pregam mediante pesquisas que não se encaixam com o objeto estudado. Religião e racionalismo são antagônicos. Posso respeitar as opiniões alheias sobre o Catolicismo ou o Protestantismo, mas generalizar seus seguidores e caracterizá-los de acordo com o sistema econômico são maneiras desprezíveis de opinar sobre o assunto.

Podemos ser a favor de qualquer sistema econômico e pregar e seguir qualquer religião... Ser Protestante não significa ser ganancioso. Da mesma forma que ser Católico não significa ser beato.

Dinheiro em detrimento da fé?


Antes de entrar na discussão de fato a respeito do capitalismo, Weber diz que é imperioso levarmos em conta a realidade histórica e social da época investigada para assim entendermos o real significado do ''espírito do capitalismo''.A descrição desse espírito é feita a partir de um documento no qual constam famosas frases capitalistas, como a máxima ''tempo é dinheiro''.Além disso é notável a presença da religião e do questionamento sobre a fé na obra de Weber, comumente relacionando-as com o sistema capitalista e suas influências e comparando-as com esse sistema.

Nessa nova era capitalista vivida pelo autor, a ética ''da moda'' era ganhar mais e mais dinheiro-o summum bonum- independentemente do modo, classe ou instituição e dessa forma o homem passa a ser um fantoche do dinheiro e possuí-lo seria sua única finalidade na vida.Nesse contexto nem a Igreja estava imune aos atos e influências capitalistas, ora cobrar enormes quantias pela salvação é prova disso, portanto é questionável o verdadeiro intuito dessa instituição: visa ao bem social ou à arrecadação para o próprio bem individual e capitalista?É óbvio que o autor não pondera tal assunto diretamente-até porque em sua época tal fato seria suicídio devido ao poder eclesiástico-, porém relaciona o capitalismo à perda de poder e fiéis por parte da Igreja e tal fato ocorre pois, na visão de Weber, as pessoas imbuídas do espírito capitalista tendem a ser indiferentes à Igreja, e isso nada mais é do que o capitalismo em detrimento da fé.

Ao longo do texto o capitalismo parece crescer e tomar forma, acarretando no final a afirmação de que o sistema não precisa mais do suporte de qualquer força, seja ela política, religiosa,...enfim, ele torna-se independente como uma criança que aprende a andar.O capitalismo passa então a querer ser o centro das atenções-como um adolescente- e quem não se adapatar ao seu modo de vida e às condições de sucesso será marginalizado, sobrepujado: ''o capitalismo atual, que veio para dominar a vida econômica, educa e seleciona os sujeitos de quem precisa, mediante o processo de sobrevivência econômica do mais apto'', teríamos aí uma relação de Darwin e capitalismo, o que parece extremamente plausível-o mais apto sobrevive.

Por fim, o capitalismo mudou drasticamente a vida de toda uma sociedade, alterando hábitos familiares e de trabalho, tornando a aquisição e o lucro a satisfação social e não mais a fé.Podemos dizer que com sua ascenção o capitalismo desbancou a supremacia da Igreja - por alterar condutas e pensamentosao redor do mundo- e por conseguinte a fé também diminuiu, chegando ao ponto da indiferença com a Igreja e da submissão ao dinheiro.Ainda hoje o capitalismo reina, e apesar de sua crises cíclicas não parece estar perto de sua morte, logo ele é o adulto que governa hábitos, culturas e todo o planeta, pois praticamente inexiste quem não esteve, esteja ou vai estar sob sua grande influência.

Pedágio

Max Weber, em sua obra A ética protestante e o espírito do capitalismo, em especial no segundo capítulo, discorre a respeito da evolução deste sistema ao longo do tempo. De início, faz a seguinte observação: o impulso de ganhar dinheiro – a auri sacra fames – não é exclusivo do capitalismo, uma vez que existia em tempos remotos (como exemplo, Judas Iscariotes ‘vendeu’ informações sobre Jesus por algumas moedas, ou então, como o próprio autor exemplifica: médicos, apostadores, mendigos possuem tal vontade). Nem mesmo a troca ou o comércio são caracterizadores dele, mas o espírito do capitalismo liga-se à ideia de racionalização, ou seja, à dinamização racional do investimento utilizada de modo a obter maior lucro, a enriquecer. Como base para essa afirmação, Weber cita alguns fatores que confirmam esse ponto de vista: a separação dos bens da empresa em relação aos bens do indivíduo; o impulso dado a ciências e técnicas revertidas na aplicação prática; a estrutura do direito como ferramenta a dar segurança às atividades capitalistas, além da disposição do homem em adotar essa conduta.

Em convergência a esse fato, Max destaca a reforma protestante, a qual, segundo ele, teria sido o ponto chave para essa racionalização: influenciando ainda mais a vida dos seguidores, tornou o acumular com o fim em si mesmo sinônimo de virtude e eficiência. Essa nova ‘ética’, por conseguinte, teria sofrido um embate, uma resistência de um tradicionalismo, associado à doutrina católica, que veria essa conduta como desonesta, um desvio de caráter. Dessa forma, relata: “O católico é mais quieto, tem menor impulso aquisitivo, prefere uma vida a mais segura possível, mesmo tendo menores rendimentos, a uma vida mais excitante e cheia de riscos, mesmo que esta possa lhe propiciar a oportunidade de ganhar honrarias e riquezas. Diz o provérbio ‘coma ou durma bem’. Neste caso, o protestante prefere comer bem, e o católico, dormir sossegado” (WEBER, Max. pg 23). Assim, para o autor, o católico seria acomodado com sua situação, e o protestante preocupado simplesmente com o seu enriquecimento.

Diante disso, coloco-me contrário à posição de Weber. Primeiramente, informo que se a Igreja fora contrária a princípios capitalistas, como a usura, isso decorre da cautela que tem para que se evite que o avanço se sobreponha ao ser humano. Ou seja, impedir que o homem seja despido de sua dignidade. Com a consolidação do capitalismo e por vivermos nesse sistema, por sua vez, observa-se então que tal lucro é necessário, não há como o negar. Ademais, é extremamente saudável ao homem trabalhar, garantir seu sustento e realizar-se no que faz. Isso não quer dizer que deve acomodar-se em sua situação, adotando a lei do mínimo esforço para viver sossegado. Pelo contrário, deve ocupar sua função exercendo o melhor de si, podendo almejar uma melhor condição de vida, enriquecendo, sem ferir os demais. Além disso, se não aceitasse riscos, não se doaria a missões (cuidado a aidéticos na África, por exemplo), à preocupação com o próximo, as quais não possuem nem fins lucrativos.

Quanto a esse último exemplo, devo mencionar inclusive as missões evangélicas que possuem objetivos muito semelhantes. Nisso, portanto, outro ponto questionável é a afirmação de que protestantes focam-se no enriquecimento em si, quando na verdade, o que se vê não corresponde a tal fato: há preocupação com uma formação ética (presente, por exemplo, no âmbito universitário), aplicação e defesa de valores do cristianismo em diversas áreas como na política, na educação, no dia-a-dia.

Divergindo dos aspectos que apresentei, no entanto, há indivíduos que se denominam cristãos mas que, na verdade, defendem uma espécie de “prosperidade” monetária como valor fundamental. Munidos de um discurso convincente, manipulam fieis a doarem seus bens e, por fim, apropriam-se das doações: destinam-nas a empresas, construção de mansões, aquisição de bens próprios. Tal fato sim, caracteriza um domínio da fé por uma razão baseada em interesses capitalistas, de modo frio e calculista, o que não se compactua com nenhum valor cristão.

Dessa maneira, não se trata da combinação de fé e razão, que leva a um equilíbrio do ser (como disse o saudoso João Paulo II, a fé sem a razão é cega, a razão sem fé leva ao caos); mas na irracionalidade de se colocar ‘pedágios’ interesseiros no caminho do fiel, fato que tanto o catolicismo, quanto o protestantismo consideram lamentável.

Um burguês barroco.

Até a baixa Idade média, os âmbitos social, político e religioso eram bem definidos com classes e pessoas pré determinadas para ocupar tais postos.
Somente certas castas participavam ativamente da política e o social dividido em três estamentos mantinha - se indiscutível através da legitimação religiosa. O homem era obediente à uma crença cuja finalidade era ressaltar nada além da grandiosidade divina. Prova disso é o sentimento introspectivo e de pequenez quando se entra em uma igreja medieval.

O burguês, portanto, é uma pessoa atormentada, barroca, que obteve o poder material mas que não obteve o consentimento da Igreja. É uma pessoa dividida, que a todo momento se indaga: devo seguir a Deus ou ao dinheiro? Moralmente a burguesia afastara - se da Igreja. E para esta, o burguês era uma pedra no sapato que jamais conseguiu engolir.

Assim, a lógica protestante tinha o terreno fértil para germinar.O burguês jamais abriria mão de seus juros, ao mesmo tempo em que se via moralmente indigno perante a ética católica. Surge uma ética protestante regada de axiomas dialéticamente reversos aos católicos. A ética econômica não se infiltrou na ética protestante, ela germinou junto, como ideia central, justamente porque foi criada sob medida ou adaptou - se à certa realidade de classe. Era como se a religião agora alcançasse o patamar horizontal legitimando o burguês.

Para Weber então, o alheamento das coisas mundanas, típico da moralidade católica, já não impedia o burguês em seu empreendimento material.

Aplicando a observação de Weber ao Brasil, é bem comum ouvir no sudeste que as pessoas no nordeste são preguiçosas ou que não têm a mesma dinamicidade característica da vida no sudeste e sul brasileiros.Claro, muitas são as diferenças a começar pela linguagem e por extensão, as religiosas. O nordeste brasileiro possui poucos protestantes, uma região, portanto, profundamente marcada pelo tradicionalismo. Não querendo dizer que por serem de maioria católica, eles estejam optando pela vida tão simples a que vivem e que sabemos poucas características. O que há, diferentemente do que há no sudeste, é uma aceitação de suas condições, as quais concluo, influenciada pelo tradicionalismo religioso da região.

Desespero, ansiedade ou tentativa de manusear o tempo, características típicas das regiões metropolitanas brasileiras não se apresentam em outras, como exemplificado na música do cantor Fagner, Último pau de arara:

''(...)Só deixo o meu Cariri
No último pau-de-arara
Enquanto a minha vaquinha
Tiver o couro e o osso
E puder com o chocoalho
Pendurado no pescoço
Vou ficando por aqui
Que Deus do céu me ajude (...)''

Assim, concluo, classes sociais ou nichos continuam a existir, identificados como um mesmo grupo por terem características próximas ou comuns. Contudo, nunca deve ser desconsiderada, principalmente na investigação sociológica, a carga valorativa, muito mais por esta nunca ser a mesma e por constar em diferentes culturas.

Der Geist Des Kapitalismus

"O homem é dominado pela produção de dinheiro, pela aquisição encarada como finalidade última da sua vida. A aquisição econômica não mais está subordinada ao homem como meio de satisfazer suas necessidades materiais."
Na obra "Die Protestantische Ethik Und Der Geist Des Kapitalismus'' (A Ética Protestante E O Espírito Do Capitalismo), mais propriamente no segundo capítulo, ''Der Geist Des Kapitalismus'' (O Espírito do Capitalismo), Max Weber entende o regime capitalista como um embate cultural e convida seus leitores a analizar a história sub variadas ópticas, jamais satizfazendo-se com o materialismo histórico : '' No estudo de qualquer problema da história universal, um filho da moderna civilização européia sempre estará sujeito à indagação de qual a combinação de fatores a que se pode atribuir o fato de na Civilização Ocidental, e somente na Civilização Ocidental, haverem aparecido fenômenos culturais dotados (como queremos crer) de um desenvolvimento universal em seu valor e significado.O mesmo ocorre com a força mais significativa de nossa vida moderna : o Capitalismo.''.Para Weber, o capitalismo distingüe-se do ''impulso para o ganho'', uma vez que este sistema econômico encontrou a contribuição, na sua formação, de inúmeros outros fatores.Quanto à idéia de que o regime e a ''ânsia do lucro'' se confundem, ele é claro : ''A superação dessa noção ingênua de capitalismo pertence ao ensino do jardim de infância da História da cultura.O desejo de ganho ilimitado não se identifica nem um pouco com o capitalismo, e muito menos com o 'espírito' do capitalismo. O capitalismo pode até identificar-se com uma restrição, ou, pelo menos, com uma moderação racional desse impulso irracional. De qualquer forma, porém o capitalismo, na organização capitalista permanente e racional, equivale à procura do lucro sempre renovado, da 'rentabilidade'''.O autor defende que a racionalidade é elemento imprescindível para a existência e manutenção do capitalismo.Ele, todavia, não despreza o alicerce econômico do regime : ''A organização industrial racional, orientada para um mercado real, e não para oportunidades políticas ou especulativas de lucro, não é, entretanto, a única criação peculiar do capitalismo ocidental. A moderna organização racional da empresa capitalista não teria sido viável sem a presença de dois importantes fatores de seu desenvolvimento : a separação da empresa da economia doméstica, que hodiernamente domina por completo a vida econômica, e, associado de perto a este, a criação de uma contabilidade racional''.Ele também destaca as contribuições jurídicas e científicas (sobretudo das ciências da natureza) para o amadurescimento e perpetuação do capitalismo : ''A forma peculiar do moderno capitalismo ocidental foi, à primeira vista, fortemente influenciada pelo desenvolvimento das possibilidades técnicas. Sua racionalidade decorre atualmente de maneira direta da calculabilidade precisa de seus fatores técnicos mais importantes. Implica isso principalmente numa dependência da ciência ocidental, notadamente das ciências matemáticas e das experimentalmente exatas ciências da natureza. Entre os fatores de importância incontestável, encontram-se as estruturas racionais do direito e da administração. Isto porque o moderno capitalismo racional baseia-se, não só nos meios técnicos de produção, como num determinado sistema legal e numa administração orientada por regras formais''. Weber reconhece também a importância da racionalização do próprio ser humano.O espírito do capitalismo, sintetizado na citação introdutória, é também o resultado de uma ética própria e convencional ao sistema.O sociólogo acredita que esta ética tem sua origem no que denominou de ''protestantismo ascético''. Sob esta denominação ele incluiu algumas correntes protestantes, das quais trata com certa atenção. São elas : o Calvinismo (corrente na qual ela mais se detém), o Pietismo, o Metodismo e as Seitas Batistas. Ao mencionar cada corrente, o autor enfatiza os aspectos de tais doutrinas que ele considera responsáveis pela criação da ética capitalista.Com relação ao Calvinismo, ele nota : ''O Calvinismo foi a fé em torno da qual giraram os países capitalisticamente desenvolvidos - Países Baixos, Inglaterra e França - as grandes lutas políticas e culturais dos séculos XVI e XVII. Por isso, para ele nos voltamos em primeiro lugar. Desapareceu o Pai Celestial do Novo Testamento tão humano e compreensivo, que se alegra com o arrependimento de um pecador como uma mulher com a moeda de prata perdida que encontrou. Seu lugar é ocupado por um ser transcendental, além do alcance do entendimento humano, que, em seus desígnios inteiramente imprevisíveis decidiu o destino de cada um e regulou os mínimos detalhes do cosmos na eternidade. A graça de Deus, uma vez que seus desígnios não podem mudar, é tão impossível ser perdida por aqueles a quem Ele a concedeu como é inatingível para aqueles aos quais Ele a negou''. A ética do capitalismo pode ser sintetizada nos seguintes axiomas de Benjamin Franklin : ''As mais insignificantes ações que afetem o crédito de um homem devem ser consideradas. O som de teu martelo às cinco da manhã, ou às oito da noite, ouvido por um credor o fará conceder-te seis meses a mais de crédito.Lembra-te de que o dinheiro é de natureza prolífica, procriativa. O dinheiro pode gerar dinheiro e seu produto pode gerar mais, e assim por diante.Guarda-te de pensar que tens tudo o que possuis e de viver de acordo com isto''. Outro aspecto desse embate cultural, para Weber, é a resistência que, por vezes, o capitalismo enfrenta ou entrentou : ''O homem não deseja 'por natureza' ganhar cada vez mais dinheiro, mas simplesmente viver como estava acostumado a viver, e ganhar o necessário para este fim. O capitalismo moderno, onde quer que tenha começado sua ação de incrementar a produtividade do trabalho humano através do incremento de sua intensidade, tem encontrado a infinitamente obstinada resistência deste traço orientador do trabalho pré-capitalista; e, ainda hoje, quanto mais atrasadas estejam (do ponto de vista do capitalismo) as forças de trabalho tanto mais têm de lidar com ela''. Por consegüinte, Max Weber concebe o capitalismo como um embate cultural : ''Entretanto, a origem e a história de tais idéias são muito mais complexas do que supõem os teóricos da 'superestrutura'".

O embate cultural esculpindo sociedades

É evidente que as formações culturais das sociedades até então existentes são a base para o comportamento de seus membros, e para o seu desenvolver histórico. Dentre tais aspectos culturais o homem é fortemente influenciado pelo mítico, pelo sobrenatural, desde as mais primitivas formas vistas em periodos anteriores a escrita, passando pelo politeismo clássico e chegando as crenças religiosas atuais.

Tomando a cultura como base Max Weber em A ética protestante e o espirito do capitalismo, demostra a influência da religião no homem que prefere trabalhar menos ao ganhar mais, e também no homem que segue metódicamente os axiomas de Benjamin Franklin.

Notadamente o capitalismo em sua gênese tem seu espirito altamente liagado a fé protestante. Porém se observarmos o momento atual poderemos ver que a cultura se moldou (sendo esta sua caractesrisca mais natural, mobilidade) e os mundos católico e árabe estão insiridos no capiltalismo de maneira tão competitiva quanto os protestantes, para tanto é necessário apenas observar o que se tornou o mercado do petróleo.

O embate e a mobilidade cultural são fatores que fazem esculpem as sociedades, tal fenômeno não poderia ser diferente com o capitalismo.

"religião secular do trabalho” - Albert Curry Winn

O livro “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo” de Max Weber tem como cerne a compreensão do capitalismo a partir do desenvolvimento da ética protestante, analisando as conseqüências culturais e econômicas decorrentes da reforma protestante.

Faz-se mister, inicialmente, depreender a respeito do movimento protestante, cujo surgimento deu-se com a Reforma, iniciada por Martinho Lutero, como crítica ao Catolicismo. Ressalta-se que essa reforma foi impulsionada tanto por motivos religiosos quanto econômicos e políticos. No que tange ao plano econômico, a ética católica condenava a usura, contraponde-se, portanto, aos preceitos capitalistas. Desse modo, era imprescindível, para a burguesia, a criação de uma nova ética religiosa que se adequasse ao seu espírito capitalista. Tem-se, assim, como resultado, a ética protestante, baseada, principalmente, no conceito de predestinação em que somente Deus decide quem será salvo ou não. Essa doutrina diverge totalmente dos dogmas católicos, pois a salvação do homem não é garantida por suas boas ações.

Todavia, a predestinação expõe o indivíduo a uma angústia constante pelo fato de que o seu destino é imutável. Assim, com o intuito de minimizar o sofrimento do fiel, formulou-se a concepção de que o êxito profissional tornava-se uma conformação da salvação. Infere-se, pois, que a riqueza é o sinal da salvação.

Como um dos resultados dos preceitos protestantes, tem-se a racionalização da vida. Vale ressaltar que há diversas vertentes relacionadas ao protestantismo, tais como: Luteranos, Calvinistas e Puritanos, cada qual com seus ideais. Entretanto, foram os puritanos que integraram a racionalização em seu estilo de vida, a partir da harmonização da vida cotidiana com suas convicções religiosas.

A influência do estilo de vida puritano, centrado na concepção de vocação, dignificação do trabalho, favoreceu o desenvolvimento de uma vida econômica racional e burguesa. Nota-se, pois, que o capitalismo fora, em grande parte, resultado imprevisível e indesejado da Reforma.

Impende ressaltar que o espírito capitalista não decorre pura e simplesmente da persecução do lucro, mas, sim, principalmente da dinamização racional do investimento, decorrente, entre outros fatores da racionalização contábil, resultante da diferenciação de um Patrimônio particular no universo dos patrimônios existentes, conforme previsto, atualmente, na Resolução do CFC nº 750-93, Princípio da Entidade; da racionalização científica, cujo desenvolvimento capitalista está intrinsecamente relacionado à evolução científica, visto que aquele aplica as novas técnicas e conceitos na economia; da racionalização jurídica, na qual foram desenvolvidas estruturas que possibilitassem o desenvolvimento capitalista; e, por fim, a racionalização do homem.

Nesse cenário, surge um embate cultural travado pelo tradicionalismo e o espírito capitalista. O primeiro tem como objetivo principal a sobrevivência enquanto que o segundo baseia-se na acumulação de capital.

Verifica-se, hodiernamente, o predomínio do espírito capitalista. Corrobora-se, tal afirmação, a partir da constatação da própria sociedade. O reconhecimento do sucesso de um indivíduo baseia-se primordialmente em seu sucesso econômico, elaborando-se, para isso, até mesmo um ranking mundial das pessoas mais ricas e, consequentemente, influentes do mundo, o que é um despautério. Ademais, os valores são criados ao encontro desse espírito, ou seja, a valorização da educação não está relacionada, principalmente, com a evolução intelectual e, por conseguinte, espiritual do indivíduo, mas, sim, com o intuito de ampliar as possibilidades de sucesso profissional do mesmo. E mais, a escolha da profissão é pautada na perspectiva de riqueza.

Outrossim, os mercados financeiros, a estrutura jurídica, os valores, as políticas públicas, tudo foi desenvolvido e aperfeiçoado para a intensificação e o progresso do capitalismo. Além disso, os meios de comunicação recrudesceram os ideais capitalistas.

Contudo, a propagação desses ideais contribuiu para o aumento das desigualdades sociais, na marginalização e exclusão dos indivíduos, no aumento da violência, na redução da qualidade de vida pela maior parte da população, entre vários outros aspectos negativos presentes na sociedade.

Impende, portanto, retomar e disseminar novas concepções que favoreçam o aspecto mais humano da sociedade, a fim de reduzir o abismo existente entre os indivíduos. Sabe-se, porém, que tal feito é quase impraticável, haja vista os interesses escusos de uma minoria elitista.

O protestante prefere comer bem e o católico dormir sossegado

Para Weber o processo civilizatório não surge meramente da troca ou do surgimento da burguesia como classe hegemônica, mas muitos outros fatores estão associados à evolução da sociedade. Daí a crítica ao materialismo histórico que, da mesma forma que uma religião, tenta explicar tudo somente de um fator: o capital, a economia.Para Weber a reforma protestante é importante para o surgimento do capitalismo pois ao contrário de preconizar uma libertação dos homens e mulheres, as 95 teses pregadas (literalmente) por Lutero, buscavam a moralização da vida e do Clero e não a sua secessão. O que incomodava Lutero era que os preceitos deixados por Jesus sequer eram seguidos pelo Clero. Virtude e eficiência na ética protestante é acumular mais, economizar. Na cultura americana, o espírito do capitalismo é o “american way of life”: acumular.A reforma tornou-se importante pois começa à defender de forma criteriosa que alguns dos preceitos ali defendidos seriam a base da vida cotidiana e concreta. Alguns desses preceitos dizem respeito não necessariamente à economia, mas que acabam transbordando para estes como uma ética de vida. Weber diz que para os católicos o capitalismo não frutificou de forma mais generosa porque os católicos estavam mais apegados não à conduta da vida e sim ao futuro. Até pela doutrina católica e protestante nota-se tal diferença: o catolicismo prega a salvação como fruto da gratuidade divina e o protestante como prêmio pelas obras na Terra.Evidencia-se, portanto, a importância da aplicação de uma ideologia relacionada à fé no desenvolvimento da economia e na forma que se adota para viver. A fé que é um valor intrínseco, muda a forma de um grupo agir, acaba por se "materializar" e influenciar na economia.


Um embate cultural: uma questão de valores

Durante a última semana, muito se foi discutido sobre a questão do infanticídio de algumas tribos indígenas brasileiras.É um tema polêmico que por hora, será debatido na perspectiva weberiana.
Quando se fala na polemicidade do tema, é necessário saber que o é pela falta de consenso entre as diversas partes. Por um lado, 'Weber e companhia' defenderiam a tese dos valores culturais os quais interferem na análise sociológica. Por outro lado, humanistas exacerbados sendo contra ' a barbárie' cometida pelos índios.
Weber defende a tese de que a cultura indígena, por exemplo, deve ser analisada não de acordo com os valores do investigador, mas de acordo com os valores do investigado. Isto é, uma boa análise sociológica deve ser entendida tanto no Oriente quanto no Ocidente, o que não ocorre acerca do assunto polêmico, aqui debatido. Para ele não há neutralidade dos valores do investigador, mas deve prevalecer os valores do investigado, pois, segundo ele, 'neutro é quem já optou pelo mais forte'.
Já os humanistas, muitas vezes com argumentos embasados nos dogmas cristãos, defendem a idéia do 'não matarás', o que vai contra a concepção de Weber, já que essa análise só vale para o Ocidente, pois no Oriente há muitos países com pena de morte por exemplo.
Mas a questão é outra, porque falar é calar. Enquanto se discute se o cidadão 'não-índio' deve intervir na cultura indígena, devido ao infanticídio, esquece-se ou camufla-se os diversos outros infanticídios sobre os quais ninguém fala. Por exemplo: quantas crianças morrem de fome no Nordeste por ano? Isso não é um infanticídio, gerado pela divergência de classes do capitalismo não só brasileiro , mas também global? Quantas são as crianças que morrem na Praça da Sé, em São Paulo, vítimas do crack, da maconha, do cigarro(sendo estes, mecanismos de fuga da realidade para crianças sem oportunidades com quase nenhuma perspectiva de vida)?
Logo, a questão aqui mencionada, é um embate cultural, mas também um embate econômico, um embate político, um embate social, um embate de VALORES, em que não só se deve analisar os valores do investigado, mas também os valores do investigador, para que não ocorra tantas camuflagens, tantos 'erros'( próximos da hipocrisia) ao se julgar uma cultura, como foi exemplificado.

Processo civilizatório

O modo-de produção capitalista foi objeto do estudo de inúmeros intelectuais que delinearam reflexões dispares. Um deles foi Weber, o qual afirma que as forças capitalistas foram fruto de um intenso embate cultural. Embate que subjugou o tradicionalismo preponderante do pré-capitalismo.
Cuidar do capitalismo analisando o choque cultural que o precedeu obriga o investigador a tomar como matéria não só o modo-de-produção, mas também a mentalidade e as perspectivas do homem que conviveu com a mudança do perfil econômico. Esse homem, à princípio, estava interessado em satisfazer as necessidades de sobrevivência que possuía, não havia uma força que o movia a acumular. O proprietário, por sua vez, podia até possuir empresas com estruturas capitalistas, mas ”se considerarmos o espírito que animava o empresário, tratava-se de um negócio tradicionalista: tradicional o modo de vida, tradicional a margem de lucro, tradicional a quantidade de trabalho, tradicional o modo de regular as relações com o trabalho e o essencialmente tradicional círculo de clientes e modo de atrair novos” (Weber,Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo.São Paulo: Pioneira, 1967.)
Além da mutação de mentalidade do trabalhador e proprietário, ainda há uma série de elementos que foram essenciais para a estruturação do capitalismo como a racionalização contábil, o homem antes não privilegiava a idéia da inversão do dinheiro em mais riqueza, mais dinheiro; a racionalização científica, afinal, ciência e tecnologia estão no âmago do novo sistema; e a racionalização jurídica, que com normatizações fez possível o cumprimento de contratos, o direito de propriedade, as regras básicas do investimento.
Também a religião foi fator capaz de firmar o capitalismo, pois o catolicismo concomitante ao sistema pré-capitalista defendia a vida posterior à morte e o despojo. Não obstante, o protestantismo conseguiu regular a conduta dos homens mormente na vida terrena privilegiando o cotidiano.
Desse modo, como bem ilustra o sociólogo docente da Unesp Agnaldo de Sousa Barbosa “o capitalismo é um processo civilizatório, não somente um modo-de-produção” que se firmou com o advento de uma nova classe, a burguesia. As evidentes forças de mercado somente adquiriram o perfil que possuem hodiernamente a partir de inovações científicas, jurídicas, contábeis e mentais.


O PROGRESSO CRISTÃO


Segunda a doutrina marxista a sociedade é uma mera refém das forças de produção e o homem age em conformidade, unicamente, com os preceitos do capitalismo e do consumo, se comportando como um mero fantoche dessas forças onipotentes. Assim, todas as demais relações, como as relações morais, religiosas, culturais e psicológicas são deixadas de lado e nada influenciam no comportamento social, assim como na condução da vida particular de cada individuo. Essa doutrina sempre atraiu e continua atraindo a atenção e a cega confiança de grande parte da população letrada e das elites intelectuais dos quatro cantos do mundo.

Ignora-se, dessa forma, que o capitalismo nunca foi uma cultura ou um modo de vida, assim como jamais passou por cima de todos os demais fatores que formam a identidade social e individual das comunidades humanas e também jamais rebaixo a existência das sociedades em entidades calcadas única e exclusivamente nas relações de consumo.No capitalismo o único arbitro é o consumidor, ele é o centro das atenções da produção, sendo ele que decide quais os produtos que irão prevalecer e quais são aqueles que irão sumir do mercado, logo é um sistema voltado para a satisfação do consumidor. Diante de tais fatos, aliados aos postulados da Escola Austríaca de Economia que refutam cabalmente a teoria de exploração do trabalho bem como provam a impossibilidade de implantação do socialismo, é impossível negar que toda a construção teórica apresentada em “O Capital” foi simplesmente erigida no ar. O capitalismo, então, não constitui nenhuma cultura, apenas molda-se a diferentes tradições e religiões, assim se o capitalismo, ao contrario, tentar destruir e transfigurar os traços tradicionais de uma sociedade é ele que cai impotente e se autodestrói. Podemos dizer, portanto, que os “grandes” estudiosos marxistas György Lukács e Antonio Gramsci estavam corretíssimos ao afirmar que o grande inimigo do socialismo não é o modo de produção capitalista e sim as identidades culturais e religiosas que o da sustentabilidade.

A palavra capitalismo há muito se banalizou, chegando ao ponto de todos afirmarem que sabem perfeitamente o seu significado e, portanto, dispensarem demais explicações sobre a sua real conotação. Atualmente essa palavra adquiriu tal teor pejorativo que chamar alguém de capitalista constituir uma ofensa incomensurável. O fato é que o capitalismo proporcionou uma qualidade de vida para a humanidade sem precedentes na história, podendo-se dizer que mesmo os indivíduos das classes mais baixas da sociedade possuem uma qualidade e expectativa de vida que dificilmente monarcas de outrora e a elite de outros sistemas econômicos jamais imaginaram possuir um dia. Também é notável o fato de que, através do capitalismo, o homem pôde superar as suas fragilidades naturais e, assim, alcançar a imunidade aos intemperismos da natureza. Os principais teóricos que tentaram explicar o capitalismo foram Karl Max, Marx Weber e Alain Peyrefitte, cada qual com sua concepção própria do objeto de estudo, porém notamos que este último possui considerações mais embasadas e concretas que os dois primeiros.

Marx se enganou, assim como sustentou Weber, ao afirmar que todas as ações sociais são frutos, única e exclusivamente, das forças produtivas, portanto a idéia de que a infra-estrutura determina a superestrutura confunde a causa com o resultado ao desconsiderar os preceitos morais judaico-cristãos. É certo que várias estruturas capitalistas já existiam em outros modos de produção e em outras sociedades não ocidentais, porém foi apenas no ocidente que ouve uma racionalização da produção, ao ponto de se aplicar o principio de poupar o máximo possível do lucro para, com isso, reinvesti-lo e multiplicá-lo. Weber atribui isso principalmente à ética protestante, além da separação dos meios de produção das residências familiares, pois o protestante, ao nascer predestinado, não sabe o seu futuro, e, assim, procura na Terra sinais da sua salvação, dessa maneira ele crê que o principal sinal é o progresso econômico. O protestante, portanto, vive uma vida mais contida, sempre em busca da prosperidade econômica.

Apesar do rigor técnico apresentado por Weber, bem como a sua inegável solidez cientifica, Alain Peyrefitte discorda que o capitalismo é advento atribuído unicamente ao protestantismo, mas sim ao cristianismo como um todo. O eminente sociólogo afirma que Weber esqueceu-se de analisar alguns pontos cruciais do desenvolvimento do cristianismo e do capitalismo. A pedra fundamental do capitalismo é a doutrina judaico-cristã. Tal doutrina afirma que todo o homem é feito à imagem e semelhança de Deus, os colocando em condição de igualdade entre si. Jesus Cristo, figura central do cristianismo, ao dizer para todo o homem amar ao próximo como a si mesmo, contribuiu para a fundação do principio da igualdade jurídica entre os cidadãos, o qual colaborou para a extinção do trabalho escravo e a ascensão do trabalho livre, força motriz do capitalismo. Podemos dizer, além disso, que o cristianismo é herdeiro da tradição racionalista greco-romana, tal fato contribuiu para a racionalização da produção ao ponto de atingir uma produtividade jamais alcançada.

Outro argumento assinalado por Peyrefitte, para defender que o capitalismo é um produto da ética cristã como um todo e não apenas da protestante, é a revolução produtiva ocorrida na Idade Média, fruto dos trabalhos de inovação em técnicas agrícolas e em organização do trabalho realizados pelos monges católicos, que viria a contribuir para o advento do capitalismo. O catolicismo, diferentemente do protestantismo, foi um herdeiro do modo de produção instalado no Império Romano, o que viria a prejudicar a expansão produtiva dos países católicos em relação aos países protestantes. Como fator fundamental do avanço protestante tem-se, também, o fato que os países protestantes conseguiram se livrar mais rapidamente das mãos controladoras do Estado sobre a economia, o que gerava atraso aos países católicos, e avanço aos países liberais e protestantes. Dessa maneira o catolicismo é fundador do capitalismo tanto quanto o protestantismo, porém este último possuiu uma maior facilidade para o desenvolvimento capitalista, como expresso acima. Contudo não podemos menosprezar a obra de Weber, pois ele foi responsável por desfazer o mito do determinismo econômico sobre todas as coisas, legado de extraordinário mérito.

Racionalização da fé: a reeducação de valores


Qual é o impacto produzido pela religião na humanidade? Inevitavelmente, a crença em alguma ideologia capaz de explicar os fenômenos, estratificações de classes e proporcionar estabilidade quanto ao futuro metafísico é primordial para o convívio e adaptação social.

O Cristianismo, por muito tempo, foi alicerce para a segurança e confiança de inúmeros fiéis. Entretanto, o tradicionalismo e a aversão ao enriquecimento desnecessário, fizeram com que a doutrina cristã se tornasse inepta ao desenvolvimento econômico e científico exigidos pela idade moderna. O medo do desconhecido, estimulado pelos líderes cristãos, impedia o progresso e qualquer prática divergente ao cristianismo era apenas tolerada, mas não garantia a salvação divina.

Sob esse prisma, uma nova ética religiosa tornou-se necessária, conforme observou Max Weber na obra – “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, para a dinamização do investimento e do trabalho: o protestantismo.

A racionalização da fé provou ser um caminho útil rumo ao capitalismo (o homem deve produzir dinheiro e, do seu dinheiro, produzir mais dinheiro). O capitalismo, agora com o apoio religioso, salientava que acumular capital é sinônimo de virtude e eficiência, e que o trabalho dignifica o homem.

A ética e o trabalho árduo possibilitam a confiança nos contratos, como ensina Benjamin Franklin. Essa ideologia, assim como a da boa-fé, foi consagrada como um dos princípios do direito.

Isto posto, a racionalização e o capitalismo, acarretaram uma nova ordem política - a de consumo, que apesar do desenvolvimento social e político, torna-se um dos fatores da desigualdade e segregação social.

O espírito do capitalismo nos embates religiosos e culturais

Ao contrário do que se concebe normalmente, o espírito da acumulação e da ambição por lucros não provém do advento do capitalismo, mas é seu principal fator desencadeador. Tal visão empreendedora se difundiu na sociedade e tornou-se presente em todos os grupos e classes, sobretudo entre aqueles que queiram sobreviver no mercado. Mesmo assim, percebe-se , neste amplo meio social, diferenças ao lidar com tal espírito do capitalismo.


Isso se aplica, por exemplo, às particularidades dos posicionamentos dos católicos e dos protestantes em face da obtenção e da acumulação do capital. Suas origens religiosas e alguns resquícios que ainda se fazem perceptíveis revelam o embate entre as duas religiões, como por exemplo as diversas formas de lidar com o trabalho e os diferentes significados da ascensão social nas suas vidas.


Alheios às coisas mundanas e materiais, os católicos relacionam a acumulação de capital à ganância e ao desvio de caráter, o que é visto com reservas, uma vez que podem comprometer sua ascensão ao céu e a obtenção de uma vida eterna, conforme as crenças da Igreja católica. Neste sentido, a ascensão social está relacionada, predominantemente, à satisfação das necessidades reais e, uma vez obtida, para os católicos, não se faz necessária uma maior acumulação, o que, em geral, acaba afastando-os de uma visão empreendedora.


Em contrapartida, os protestantes possuem muita racionalização e dinamização dos investimentos. Ocorre, na verdade, uma racionalização da fé, pois eles associam a acumulação de capital à ideia de virtude e eficiência. Enquanto para os católicos a riqueza nada mais é do que anti-ética e anti-cristã, para os protestantes, é um reflexão de uma boa conduta moral e religiosa, um indício de que os religiosos estão agindo conforme as leis divinas e correspondendo as suas expectativas. Assim, os protestantes mostram-se mais inclinados ao empreendedorismo e aos investimentos; para alcançar seu intento, não medem esforços quanto ao desempenho de funções mais simples até as mais sofisticadas.


Percebe-se, portanto, que a reforma protestante, ao invés de afastar o controle religioso da vida social, intensificou-o, criando um cenário propício para a racionalização da fé. Guiados por uma visão racional, os protestantes situam-se em maior expressão nas camadas mais abastadas por todo o mundo, conforme indica Max Weber na obra A ética protestante e o espírito do capitalismo.


O espírito do capitalismo , como se vê, está presente nos diversos agrupamentos humanos e engendra embates culturais e religiosos, contrapondo a racionalização da fé da ética protestante à busca dos católicos pelo desapego das coisas mundanas que possam comprometer sua salvação.

A Polissêmica Justiça


O capitalismo, sistema econômico vigente em praticamente todos os pontos do planeta, desde o início de seu desenvolvimento já trouxe consigo, intrínseco a seu ser, uma ideia de subjugação das minorias e imposição do ideal soberano para o alcance de seu melhor funcionamento.

Por ser um modo de produção tradicionalmente ocidental representado principalmente pelos Estados Unidos, vemos com grande frequência invasões e desrespeitos em relação às culturas orientais e até às minoritárias dentro do próprio mundo ocidental. Frente a esses abusos de autoridade e poder, debates culturais são uma constante, calcados primordialmente na grande diversidade cultural e na preocupação com sua preservação.

Uma contenda muito atual no Brasil em relação à invasão do patrimônio cultural é a referente à tradição observada em cerca de 20 tribos indígenas espalhadas pelo país de matar crianças com deficiência, que são gêmeas ou que possuem doença não-identificável pela tribo. O embate ocorre ora em campo jurídico, ora remetendo-se aos direitos humanos ora à áreas antropológicas e sociológicas. Porém nota-se que o principal ponto de discórdia dentro desse tema é: O que é sobrepujante? O respeito à cultura alheia tendo em vista as tantas vezes que já nos impomos sobre os costumes e práticas indígenas dizimando de maneira tão prepotente esse patrimônio ou o princípio fundamental da vida, norteador da nossa Constituição Federal e cláusula pétrea, ou seja, com modificação vedada?

Em uma análise mais abrangente, de uma forma webberiana, verificando a história, os fatores sociais e também a singularidade da situação e seus valores particulares, a intervenção não seria vista de maneira positiva, porém, nos casos já observados, de denúncias e pedidos de socorro, ela seria legitimada e justa, uma vez que o Estado teria sido requisitado.

Essa maneira, a meu ver, seria a ideal de tratamento nessas situações, porém, não seria possível sua concretização. As tribos indígenas, por estarem dentro do território brasileiro, devem se submeter ao nosso ordenamento jurídico o qual ampara o direito à vida, esta, na concepção ocidentalizada. Assim, mesmo que para muitas dessas tribos a percepção de vida seja diferente da nossa, esteja ligada às relações sociais, muitas vezes prejudicadas por esses problemas mentais ou físicos, elas devem obedecer à concepção do Estado Brasileiro do qual fazem parte.

Nota-se, destarte, que ainda temos em nosso ordenamento e na sociedade atual grande parte de conceitos etnocêntricos, subjugadores das minorias, herdados dos primórdios do capital. Porém, conceitos que estão em constante trasformação e apesar de nem sempre serem vistos pelo viés da justiça são a base do Estado Brasileiro, que, se não respeitados, traduziriam a desordem e uma sociedade ainda mais impregnada de vícios e defeitos.

A fé como mola do capitalismo

Em “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, de Max Weber, destaca-se sua análise sobre as relações entre as ideias e práticas religiosas e os aspectos mais importantes da ordem social e econômica do mundo ocidental, nas várias etapas do seu desenvolvimento histórico.

Na perspectiva sociológica de Weber, a compreensão das causas que levaram à origem e ao desenvolvimento do capitalismo exigiam uma análise comparativa entre as várias sociedades do ocidente, berço do capitalismo, e outras civilizações, como as do oriente, onde ainda não havia surgido um capitalismo de fato. Procedendo dessa forma, Weber identificou a presença significativa de protestantes de várias seitas, entre os líderes do mundo dos negócios e proprietários do capital, assim como os mais altos níveis de qualificação profissional encontravam-se nas comunidades protestantes. A partir dessas constatações, foi possível sugerir a possibilidade da existência de algum tipo de afinidade entre certos valores presentes na época do surgimento do capitalismo moderno e a ética protestante. Max percebeu, então, que a doutrina protestante defendia aquilo que podemos definir como valores do capitalismo, evidente no trecho da obra: “a perda de tempo (...) é o primeiro e o principal de todos os pecados. (...) A perda de tempo, através da vida social, conversas ociosas, do luxo e mesmo do sono além do necessário para a saúde – seis, no máximo oito, horas por dia – é absolutamente dispensável do ponto de vista moral” p.112.

Uma vez investigada e identificada a influência que tais crenças religiosas exerceram na origem do espírito capitalista, a etapa seguinte consistiu na investigação dos elementos dessas mesmas crenças que atuaram na definição do espírito do capitalismo. Segundo Weber, esse “espírito” é constituído por uma ética peculiar, caracterizada pelo utilitarismo com forte conteúdo ético – evidente nas citações de Benjamin Franklin, que emprega a ideia da ética como a conduta adequada para a obtenção de créditos – na medida em que o aumento de capital é considerado um fim em si mesmo e, sobretudo, um dever de todo indivíduo, uma vez que o ócio, a preguiça, a perda de tempo e o desejo de ser pobre são condenados.

Com esse panorama, o espírito do capitalismo assume o caráter de uma regra de conduta de vida. O capitalismo se torna, então, aquilo que Durkheim denominou fato social, devido à sua exterioridade, coercitividade e generalidade: “Ela força o indivíduo (...) a se conformar com as regras de comportamento capitalistas. O fabricante que se opuser por longo tempo a essas normas será inevitavelmente eliminado do cenário econômico, tanto quanto um trabalhador que não possa ou não queira se adaptar às regras, que será jogado na rua, sem emprego”. p.22.

Esse espírito capitalista ganha tanta força, que até mesmo os valores tradicionais tão enraizados nas sociedades e instituições como religião, família, saúde e outros, que Weber denominou “tradicionalismo” tiveram de ceder. A religião, ao defender alguns dogmas referentes a um paraíso ou à forças não-humanas, fazia com que os trabalhadores não fossem tão eficientes durante suas atividades, uma vez que a vida no mundo era só uma passagem para algo melhor que estava por vir, sendo então um grande entrave para o capitalismo.

No entanto, a ideia de racionalização nos âmbitos científico e jurídico e consequentemente, na racionalização do homem com um todo, foi algo fundamental para que o modo de produção capitalista se desenvolvesse. Esse tradicionalismo que era antes um impecílio para o desenvolvimento do capitalismo, não só se submeteu, como também coloborou para o advento do novo sistema econômico, uma vez que as religiões protestantes passaram a pregar o acúmulo e a multiplicação monetária como forma de salvação.

Para Weber, portanto, esse “espírito capitalista” identificado nas seitas protestantes, cujo elemento básico era o profundo isolamento espiritual do indivíduo em relação ao seu Deus, significava, na prática, a racionalização do mundo e a eliminação do pensamento mágico como meio de salvação.

Atualmente, depois desse impulso inicial, o capitalismo libertou-se do abrigo de um espírito religioso, e a busca de riquezas passou a associar-se a “paixões puramente mundanas”. O capitalismo moderno não necessita mais do suporte religioso sobre a vida econômica, pois a ambição por bens materiais supriu as crenças religiosas.