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segunda-feira, 30 de abril de 2012

a utopia do positivismo


"For I dipt in to the future, far as human eye could see; Saw the vision of the world, and all the wonder that would be..." - Locksley Hall, Alfred Tennyson

Auguste Comte, francês nascido na virada do século VIII para o XIX, cresceu no período da revolução francesa e da gênese da primeira revolução industrial. Engenheiro e homem de seu tempo, predispôs-se a observar a sociedade em que vivia e tentar aplicar certa logica em seu funcionamento.
Ainda que, nas ciências humanas, seja malquisto por sua visão mecanicista dos fenômenos, seu positivismo teve absoluta importância e valor na construção da sociedade em que vivemos. Ademais, Comte é profundamente impactado pelo que observou na organização das recém-criadas indústrias e da divisão e especialização do trabalho que aos poucos surgia.
Seu ideal de sociedade previa a harmonia absoluta e a ausência de conflito como substrato fértil e condicional para a evolução e o crescimento conjunto; ou seja, tal como engrenagens bem sincronizadas executando as funções que lhes são designadas, fazendo o todo movimentar-se. Ora, para Comte, revoluções e conflitos de classe são anomalias ou rupturas desnecessárias da ordem que prejudicam o alcance do bem comum em prol de ambições egoístas. Em suma, seu pensamento, ainda que ignore o fator humano e a individualidade, tem em sua utopia grande valor para analise.
Um estado que não se ocupe em resolver conflitos, pode ocupar-se em oferecer dignidade e boas condições de vida para todos, desde que todos cumpram seu papel de forma eficiente, sem levantar maiores questionamentos, seguindo um projeto de país predeterminado. Assim, tal ideal só se torna aplicável (ao menos na forma descrita) em sociedades de governo autoritário, totalitário ou paternalista, que mantenha controle indubitável em todos os aspectos e componentes do tecido social.
                Tais ideias não ecoaram no vazio e encontraram ouvidos nos mais diversos recônditos do mundo, sendo que sua influencia pode ser rastreada até o inicio do século XX, desde a organização de nações inteiras – como o Brasil pós 1889 - e em governos totalitários como os regimes fascistas europeus, principalmente no que tange a importância dada à ordem absoluta da sociedade, da padronização, da cidadania através da supressão da individualidade.
De fato, em sua busca por ordem, Comte ignora que a imprevisibilidade é característica notável da humanidade e que é impossível aplicar indistintamente conceitos de organização e de causa/consequência em fenômenos mais complexos do que simples fórmulas exatas. Esquece do desejo inerente de triunfar sobre as dificuldades, de se colocar a prova e até mesmo dos próprios conflitos interiores da mente humana.
No entanto, é preciso reconhecer o mais profundo mérito do pensamento positivista. Seu ideal de harmonização visando o crescimento, evolução e aprimoramento conjunto da sociedade é, de fato, de grande beleza e, inclusive, almejável no futuro de nossa organização social, ainda que sujeita às adaptações esperadas em uma teoria originada a quase 200 anos.

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