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quinta-feira, 28 de maio de 2015

Imposições para existir
     Émile Durkheim, expoente sociólogo francês, em sua obra intitulada “As regras do método sociológico” traz o conceito de fatos sociais. Para defini-los, podemos considerar três aspectos que os caracterizam: a coercitividade, já que os fatos sociais fazem parte de um conjunto de normas da sociedade que pressionam os indivíduos; o caráter de serem externos, por independerem dos indivíduos e por existirem antes deles, e geral, pelo fato de existirem, de alguma forma, em todas as sociedades.
      Com o intuito de contextualizar a teoria proposta por Durkheim, podemos relacionar a forma coercitiva de inúmeros elementos que sucumbem a sociedade, isto é, as imposições que são colocadas em prática, todos os dias, constantemente.
        Nesses tempos, não há liberdade de escolha, seja de estilo de vida, de estética ou até mesmo de expressão e pensamento. Vivemos fadados a padrões estabelecidos, e se tentamos estar fora deles, somos criticados e caracterizados como “anormais”
        Os fatos sociais nos cercam e são inegáveis. A própria mídia nos comprova tal consideração ao nos impor informações dotadas de manipulações, além de, quando atrelada ao comércio, criar mecanismos que tentam comprovar o motivo pelo qual precisamos consumir tais produtos.
      Assim, podemos considerar que o caráter impositor desses fatos existem, inclusive no nosso imaginário. Seguimos esses padrões de forma automática, sem contestá-los ou agir de forma diferente.
         Com isso, a letra da música “3ª do plural” elenca alguns fatos sociais que nos cercam:
         
Corrida pra vender cigarro
cigarro pra vender remédio
remédio pra curar a tosse
tossir, cuspir, jogar pra fora
corrida pra vender os carros
pneu, cerveja e gasolina
cabeça pra usar boné
e professar a fé de quem patrocina

Eles querem te vender, eles querem te comprar
querem te matar, de rir ... Querem te fazer chorar
quem são eles?
quem eles pensam que são?

Corrida contra o relógio
silicone contra a gravidade
dedo no gatilho, velocidade
quem mente antes diz a verdade
satisfação garantida
obsolescência programada
eles ganham a corrida antes mesmo da largada

Eles querem te vender, eles querem te comprar
querem te matar, à sede...eles querem te sedar
quem são eles? 
quem eles pensam que são?

Vender... Comprar... Vedar os olhos
jogar a rede contra a parede
querem te deixar com sede
não querem nos deixar pensar
quem são eles?
quem eles pensam que são?

Gabriela Cabral Roque
Introdução à Sociologia

1º ano - Direito diurno 

Ser e Ser

"- Estou preocupada com Amélie porque gosto de você.
- O que quer dizer?
- Em geral os homens de quem eu gosto são mentalmente instáveis. Eu gostaria de saber mais sobre você.
- Pode perguntar.
- Uma andorinha só não faz...
- Uma andorinha..? Verão.
- A prática faz...
- A perfeição.
- A curiosidade...
- Matou o gato.
- Pela boca...
- Morreu o peixe.
- Pedra que rola...
- Não cria limo.
- Antes tarde...
- Do que nunca.
- O que os olhos não vêem...
- O coração não sente.
- Nada mal.
- Você os coleciona?
- Em casa, dizemos que um homem que sabe provérbios não é de todo ruim. "

Esse diálogo entre Gina e Nino, amiga e par romântico da personagem Amélie, do filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain sempre me intrigou. Somente após ler Durkheim e sua definição do fato social foi que pude finalmente entender como uma coisa tão banal e aparentemente uma simples brincadeira - que é colecionar provérbios – pode definir uma pessoa.

Para o pensador, também francês, a individualidade ocorre apenas na "constituição orgânico-psíquica do individuo", em sua consciência (citando outro filme, Submarine, "No-one can truly know what anyone thinks or feels"). Porém, essa consciência complexa e indecifrável pouco importa, porque nosso comportamento é externo a nós mesmos, incorporado pela osmose coercitiva que é característica do fato social. Ser, ou não ser não é mais a questão. Somos e somos repetidamente. Um caleidoscópio de papéis sociais: nada mais a pensar, nada mais a inventar. Só sentir, sentir tudo de novo como tudo novo.

Os fatos sociais são previstos e imperativos por leis, regras sociais, um ethos, um padrão: as normas jurídicas, a religião, o bom costume, a classe social, a tradição, os provérbios... Contrariar essas leis gera uma punição externa, seja uma sanção jurídica, seja uma exclusão social do infrator, e também, uma autopunição, essa que acontece na nebulosidade do psíquico e enchem as clínicas dos psicólogos. Para mim, essa necessidade interna de obedecer às regras vem do desespero humano de sentir que pertence a algo. Talvez resultado do conhecimento que homem tem de sua própria morte (outro provérbio, na vida só temos uma certeza...) que o faz querer pertencer a algo mais duradouro, algo objetivo, palpável, fora de seus pensamentos e sentimentos, que possa ser estudado e registrado. Talvez simplesmente para não viver em sua concepção de realidade sozinho.

Gina acredita no poder dos provérbios como lei social. E eu também.

Os fatos sociais e a ditadura da moda

     A sociedade ocidental do século XIX, considerando-se seu contexto histórico, foi extremamente norteada pela massiva produção do conhecimento em diversas áreas da ciência. Exemplo disso é a sociologia a qual, fundada em Comte, encontra consolidação nas ideias de Émile Durkheim. Segundo o francês, as sociedades em geral caminham e funcionam de acordo com certas formas de agir e pensar exteriores ao homem, chamadas pelo mesmo de fatos sociais. Esses fatos, diz o sociólogo, podem ser definidos como "tipos de conduta ou de pensamento não apenas exteriores ao indivíduo, como também dotados de uma força imperativa e coercitiva em virtude da qual se impõem a ele, quer ele queira, quer não".
     Nesse contexto, considerando o caráter coercitivo e automático dos fatos sociais, o próprio Durkheim utiliza-se de exemplos de sua época quando diz: "Industrial, nada me proíbe de trabalhar com procedimentos e métodos do século passado; mas, se o fizer, é certo que me arruinarei". Porém, não é preciso voltar no tempo a fim de se acharem exemplos quando o tema em pauta é tão contemporâneo. Pega a ditadura da moda e terás um prato cheio. Quando se considera o homem contemporâneo da sociedade ocidental, uma imagem pronta logo vem à mente. O indivíduo que nasce nesse contexto se encontra já condicionado a se vestir de acordo com uma indústria a qual lucra milhões às custas de distúrbios alimentares e nem ao menos se questiona ou se conforma voluntariamente a esse fato social. A perspectiva de se vestir de uma forma diferente da convencional passa, enfim, despercebida pela sociedade.
     Dessa forma, percebe-se a atemporalidade dos fatos sociais pregados por Durkheim. A partir disso, é preciso criar na sociedade uma consciência mais atenta a esses fatos, com o objetivo de evitar ao máximo essas formas de coerção e, acima de tudo, emancipar o indivíduo de modelos pré-estabelecidos.


Renan Djanikian Cordeiro
1º ano do Direito Noturno
     

Personalidade X fato social

 Em ''Que é fato social?'' , Durkheim não só critica nosso posicionamento frente a sociologia como também nos faz refletir sobre as dinâmicas da sociedade.
 Sendo assim, o conceito de fato social é apresentado como aquilo que independe do individuo e o faz agir conforme seu grupo social, estabelecedor de regras sociais, e o lugar em que ele está.
 Fato social entra, então, em conflito com a ideia de personalidade. Como ser único se todos nossos comportamentos e posturas são condicionados por fatores além de nosso alcance? Como ter controle de si mesmo?
 Sobre tudo isso, apresento a música de Dado Villa Lobos, Renato Russo e Marcelo Bonfá, que nos leva a questionar o que seria a normalidade de um individuo subordinado a tantos fatos sociais.

Parece cocaína
Mas é só tristeza
Talvez tua cidade
Muitos temores nascem
Do cansaço e da solidão
Descompasso, desperdício
Herdeiros são agora
Da virtude que perdemos

Há tempos tive um sonho
Não me lembro, não me lembro

Tua tristeza é tão exata
E hoje o dia é tão bonito
Já estamos acostumados
A não termos mais nem isso

Os sonhos vêm e os sonhos vão
E o resto é imperfeito

Dissestes que se tua voz
Tivesse força igual
À imensa dor que sentes
Teu grito acordaria
Não só a tua casa
Mas a vizinhança inteira

E há tempos
Nem os santos têm ao certo
A medida da maldade
E há tempos são os jovens
Que adoecem
E há tempos
O encanto está ausente
E há ferrugem nos sorrisos
Só o acaso estende os braços
A quem procura
Abrigo e proteção

Meu amor!
Disciplina é liberdade
Compaixão é fortaleza
Ter bondade é ter coragem
Lá em casa tem um poço
Mas a água é muito limpa
Isabela Alcântara- 1º ano- Direito Diurno

Comportamento Coagido

     O filósofo francês Émile Durkheim propôs a discussão acerca do fato social. Este poderia ser definido como praticamente todos os fenômenos que ocorrem dentro da sociedade apresentando certo interesse social. Entretanto, de acordo com a definição, todos os acontecimentos humanos poderiam ser chamados de sociais.
     Desta forma, ao analisar a comunidade, pode-se perceber que há alguma repressão a atos ofensivos à consciência pública por meio do controle exercido sobre a conduta dos homens. Por conseguinte, esta repressão definida como coerção pauta o funcionamento da sociedade de modo que os cidadãos comportam-se para se adequar ao comportamento esperado pelos próximos a menos que estejam dispostos a serem coagidos.
     Logo, afirma-se que os homens são programados a agir de determinada maneira dado que a educação proporcionada a uma criança baseia-se num estímulo incessante para impor ao infante formas de enxergar, de agir e de sentir que este não teria alcançado naturalmente. Assim, o jovem é preparado para adotar certa conduta social para, posteriormente, adquiri-la e passar a adotá-la como se estivesse no "piloto automático" acreditando que isto parte de sua individualidade e personalidade e não, de seu agrupamento social.
     Observa-se que esta coerção insinua-se discretamente sobre o indivíduo de modo que este, em geral, não percebe sua influência. À vista disso, conclui-se que há relação direta entre coerção e fato social uma vez que este é percebido como um padrão ao qual os homens são obrigados a pautar suas ações e a referida obrigação é delimitada pela coerção.
      Em suma, o fato social, segundo Durkheim, é toda forma de agir sujeita de causar ao sujeito uma coerção exterior ou toda forma de agir que é generalizada numa sociedade e, concomitantemente, detém uma existência particular, livre de manifestações individuais.

Camila Migotto Dourado
1º ano Direito - Diurno