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domingo, 6 de agosto de 2017

O Contragolpe Conservador

Os pensadores setecentistas Francis Bacon e René Descartes foram, em grande medida, os responsáveis pelos alicerces da ciência moderna. Seus trabalhos “Novo Instrumento” e “Discurso do Método”, respectivamente, são de fulcral posição dentro da fundamentação da lógica na qual se amparam as pesquisas cientificas modernas. A posição central da razão, da dúvida e, mais proeminentemente, do resultado que possibilita a real interação entre homem e natureza colocam a espécie humana, doravante, em posição de dominância.
Nota-se, não obstante, que em contexto contemporâneo o imenso gama de possibilidades e mecanismos para compartilhamento e fomento de novas ideias torna-se, em caso quase paradoxal, uma forma de fazer ecoar acepções retrógradas. O antissemitismo e a intolerância hodiernos formam como uma barricada, a qual impede o progresso de concepções que apontem mudanças e, por conseguinte, o progresso.
O contragolpe conservador pode ser explicado, em parte, pelas teorias elaboradas por Descartes e Bacon. São muitos os que, por priorizarem as concepções já formadas diante de novas verdades – submissos aos “ídolos” de conformação pessoal e social, como postula Bacon – não permitem que o conhecimento avance. Tal comportamento, imerso em uma certeza cega, é evidentemente contrário ao elemento básico da prática científica a Descartes: a dúvida. A possibilidade de duvidar é o que permite ao homem o alcance do progresso e do sucesso evolutivo.

Portanto, é evidente, feita a análise sob o prisma dos pioneiros do pensamento científico hodierno, que a onda de pensamento retrógrado não é provocada pela suposta inversão da moral humana, mas pelo medo de enfrentar uma mudança iminente no limiar do terceiro milênio. O bloqueio conservador não se desmanchará, mas é fulcral que os dispostos a produzir conhecimento e reflexões positivas ao mundo notem que a maneira para sobrepor o conservadorismos não é contorná-lo, mas combate-lo de frente: o esclarecimento advém da corrosão dos ídolos antigos.

Fernando M. G. Peres.
1º ano Direito - Noturno.

Ciência para que homens?

As obras de Francis Bacon e René Descartes foram importantíssimas quando se diz respeito à teoria do conhecimento, uma vertente filosófica que busca analisar como alcançar o conhecimento verdadeiro. Cada um a sua forma estabeleceu métodos para chegar a esse conhecimento, Bacon de uma maneira mais empirista e Descartes racionalista, mas ambos com a ideia de uma universalidade no modo de produzir ciência. Eles acreditavam que a ciência além de neutra, deveria possuir alguma utilidade que servisse ao bem estar do homem.
Observando a realidade é muito difícil, isso se não for impossível, dizer que a ciência é realmente neutra, afinal só o fato de o cientista escolher um objeto em vez de outro para seus estudos já demonstra certa parcialidade. Mas, mais que isso, a ciência é vista como uma ferramenta que serve interesses, muitos assuntos, fenômenos, substâncias são estudados ou não baseados no quanto de lucro eles vão gerar.
Outro ponto a ser analisado é se a ciência realmente é feita para o homem em geral, o que observando, por exemplo, valores exorbitantes de medicamentos que por serem produzidos por uma única empresa tem uma porcentagem de lucro imensa em cima deles, podemos concluir que a ciência é produzida, vendida e utilizada por apenas alguns homens. Isso pode ser analisado em diversos âmbitos, como na área da saúde, na qual quem não tem boas condições financeiras não possui acesso aos melhores equipamentos para a realização de uma cirurgia, e na área da educação, em que quem pode pagar as melhores escolas, melhores cursinho acaba entrando para as melhores faculdades, tendo assim uma melhor formação acadêmica.
Portanto, na época em que Bacon e Descartes acreditaram que a ciência deveria ser neutra e servir ao homem, essas ideias foram revolucionárias e hoje elas são utópicas por serem um ideal quase impossível de se alcançar e nada correspondente com a realidade. 

MARIA CLARA TEIXEIRA AGUIAR, 1º ANO DIREITO / NOTURNO
A MARIONETE


Descartes e Bacon, precursores da ciência moderna, ao proporem o uso da razão como essencial para a obtenção do conhecimento, tinham em mente a libertação da população de um senso comum, e deveras lúdico, da verdade. Com o passar dos séculos e através de uma imprevisível mudança de valores acadêmicos e morais, a metodologia científica acabou se sobrepondo à tradição dos costumes, adquirindo credibilidade por seus grandes feitos como a cura de doenças, a produção em massa de alimentos, a evolução dos meios de transporte, etc.
Porém a premissa de Descartes e Bacon encontrou na sua concretização a sua morte, visto que a ciência moderna não visa a descoberta de uma verdade incontestável e útil para a humanidade, mas prende-se a busca do conhecimento sem se preocupar com sua aplicação. As desigualdades sociais e econômicas nunca foram maiores. Enquanto são investidos milhões de dólares na procura de água em Marte crianças na África Subsaariana morrem de diarreia.
Logo constata-se que o problema nos avanços da qualidade de vida das pessoas não está necessariamente  na técnica empregada na busca pelo conhecimento mas indiretamente  ligado aos manipuladores da mesma. Mesmo os processos mais lógicos e disciplinados estão à mercê de titeriteiros audazes e dispostos a corrompe-los e controla-los em favor próprio.

Aline Ferreira do Carmo    1º ano Direito diurno


Liberte-se
Duvide do patriarcado
Desconstrua os papeis de gênero
Não aceite a cultura do estupro
Não se limite ao “universo feminino”
Liberte-se

Duvide da mídia
Desconstrua os valores que ela lhe impõe
Não aceite o maniqueísmo
Não se limite a uma única verdade
Liberte-se

Duvide dos costumes
Desconstrua o conformismo que há em você
Não aceite preconceitos disfarçados de tradição
Não se limite ao comportamento esperado
Liberte-se

Duvide de tudo que lhe foi dito
Olhe para o mundo de uma nova maneira
Não permita que ideias alheias se incorporem as suas
Não aceite o que lhe foi imposto

Liberte-se 

Brenda Schiezaro Guimaro - 1º ano 
Direito - matutino

Pior para quem?

Observando os constantes comentários de meus parentes sobre a atual situação do mundo no quesito de “qualidade de vida”, há a afirmação indubitável de que em “suas épocas” o Brasil era melhor. Seus principais argumentos provêm do aumento da violência, da crença da atual banalização dos antigos costumes, e, principalmente, na crescente “vulgarização” sexual, já que neste século, para eles, muitas músicas e práticas não condizem com suas morais.
De fato, o mundo mudou em algumas décadas mais do que nos últimos séculos. E não foi somente no preceito tecnológico, ele avançou no sentido social. Assim, questiono totalmente essa preposição de retrocesso.
Passando suas adolescências no período da ditadura cercados de dogmas e paradigmas, é simples reclamarem da atual violência no Brasil, assim como, não se enquadrando nas minorias (estando dentro dos “padrões” da sociedade patriarcal brasileira), não verem melhoras em suas liberdades. Esse pensamento é “compreensível” principalmente pelo já citado: não faziam parte da minoria e não foram fisicamente e expressamente contra a ditadura a ponto de sofrerem por isso. Ele é guiado pela restrita lógica de que, se suas vidas individualmente não melhoraram sendo cidadãos “de bem” e vendo o que antes era “proibido e condenável” se tornando “comum”, a vida não está melhor. Vivem dentro dessa pequena bolha que é explicada e criticada pelos fundadores da ciência moderna: Francis Bacon e René Descartes.
Francis Bacon mostra como o puro labor da mente é enganoso. A razão usada para determinar a “deterioração” do Brasil é baseada somente em experiências particulares, desprovida de uma forma de averiguação coletiva. Isso compreende a definição do senso comum antigo, que é baseado, além disso, nas paixões e nas superstições, como critica Descartes.
A romantização do passado, junto com a tradição de que o antigo é melhor e o novo é ruim e a forte crença em afirmações religiosas são demonstrações claras desse modo arcaico de pensar e formar o conhecimento, que, felizmente, mesmo que de forma gradual, está perdendo espaço para o pensamento moderno de ciência. Este se baseia na dúvida de tudo, até mesmo de preposições antes consideradas verdadeiras e certas (Descartes), e na desvinculação dos ídolos do conhecimento, acompanhado de não acreditar somente no que a mente produz (Bacon).
E seguindo Descartes com o critério de definir a verdade ser a clareza, é possível afirmar que o Brasil evoluiu, mas não em todas as esferas. Atualmente, é clara não só a influência desses pensadores, mas o alcance de seus objetivos. Ao rejeitarem conhecimentos baseados em fé, em confirmações inatas e em superstições, uma maior neutralidade é alcançada. Além disso, a evolução no campo social é demonstrada pelo aumento da luta por parte de minorias e, ainda que longe do ideal, o aumento de suas conquistas. Em nenhuma outra época grupos ignorados pelo Estado e pela sociedade possuíram tanta voz e poder. Então, como poderia o mundo estar pior? Talvez para a parte das pessoas em que a ditadura “serviu” porque “não existia” violência, ou porque estavam dentro dos ideais da igreja e das tradições da época, mas definitivamente não para aqueles que sofriam apenas por existirem ou por serem diferentes do “padrão”, e que agora, possuem maior respeito e, principalmente, o direito inquestionável de resistência.


Thalita Andrade Barbosa - 1º ano Diurno 

A necessidade da capacidade de discernimento: Fake news

Bomba! Doria acordou moradores de rua com jatos de água “, “Governo Temer vai bloquear dinheiro de contas bancárias da caixa, antes de ser tirado do poder”, “Vacina da febre amarela é fatal”, esses são exemplos de notícias que circulam pela rede mundial de computadores, mais conhecidas como “fake News” ou “notícias falsas”, sendo disseminadas rapidamente e causando impactos na sociedade e em regimes políticos.

Diante do exposto no tratado “Discurso do Método” elaborado por René Descartes vê-se que todos os indivíduos possuem a mesma capacidade de discernir o verdadeiro e o falso, tendo opiniões divergentes por seguirem caminhos diferentes, porém tal capacidade, na contemporaneidade, não é utilizada de forma efetiva. Tal fator é decorrente de diversos motivos, dentre eles tem-se a cegueira proposital ou não das pessoas diante de alguns assuntos, de forma a proteger o seu pensamento ou por simples questão de tentativa de enganar outrem.

No mais, na obra “Novum Organum”, Francis Bacon realiza uma crítica quanto aos que se dizem empíricos, pois esses na verdade utilizam mais a dedução e superstição do que a empiria. Nesse panorama, a elaboração de notícias falsas pode ser dada como fruto dessas que não se apoiam na observação dos fatos ou em experiências vividas, comprometendo o conteúdo e a absorção de conhecimento pelos indivíduos.

A clareza sobre determinado assunto é essencial para evitar a propagação das notícias falsas, evitando a pressa nas reflexões cotidianas, e complementando os deveres com o que Descartes diz: “(...) efetuar em toda parte relações metódicas tão completas e revisões tão gerais nas quais eu tivesse a certeza de nada omitir.”.


Marco Antonio Cid Monteiro da Silva – DIREITO - NOTURNO

Novum Soneto do Método

A crítica à metafísica é sedutora
Lânguida é, pois, da filosofia, sua gênese
Conjectura é a razão à sua diátese
Faz-se o Discurso da ciência traidora

Genuíno cristão, que pratica a têmpora
É resposta, o espírito, à anamnese
A alma é pressuposto, logo, faço o parêntese
Metafísico, pois, sois vós em sua metáfora

Não se ausenta, bem como, Bacon, do engano
À metafísica deixou, também, sua ofensa
Vê o fim positivo, ainda que não profano

Da ciência, a meta, do que induz e que pensa
Vê, na física, o absoluto mundano

Ora, dois, tudo é ciência, se por trás há crença?



Pedro Cabrini Marangoni - primeiro ano noturno

Devaneios sobre os devaneios

Não há nada melhor do que agir de acordo com sua certeza e estabilidade emocional/racional - o ser humano tem, por essência, a necessidade de segurança e confiança de estar fazendo a coisa certa em todos os aspectos. Ninguém age sem que sua mente ratifique tal ação, essa é a premissa básica para que façamos o que fazemos. Mas o que é o certo? O que é o errado? Como definiremos tais antagonismos? E defini-los será o certo a fazer? Ou isso gerará rotulismos e estereotipações que mais julgam do que dizem a verdade? Mas, pois, qual é a verdade?!!
Muitas dúvidas se criam e se alastram pela nossa psique rapidamente, sem que tenhamos tempo para refletir sobre, pois a própria reflexão gera mais e mais dúvidas sobre o que estamos refletindo. A princípio parece um caminho sem fim, não? É isso que gera depressão, síndromes, incertezas, insônias, preocupações e excessos em geral. Como criolo disse: “ Por que as pessoas sadias adoecem? Bem alimentadas ou não, por que perecem? Tudo está guardado na mente”. A falta de controle sobre a mente e os pensamentos desmedidos são extremamente nocivos à nossa saúde mental e física. O controle – ou descontrole – mental gera consequências ao nosso corpo e à nossa saúde. Por isso, a racionalidade como primeira e única forma de conhecimento e constatação é um grande erro e precipitação. O próprio senso comum é criado e difundido no arquétipo social de massa pelo princípio da racionalidade que define e valora todas as esferas da vida única e exclusivamente por uma crença de uma moral dogmática que deve ser seguida. De onde essa moral é oriunda? De um paradigma que olha o homem como máquina e meio para um fim de outros homens? Vai saber... Mas o que devemos saber é que essa moral foi criada para algum fim e para o controle social de alguma forma, senão não existiria.

A experiência, por si só, também é algo de baixo valor em razão da necessidade de digestão dos momentos e ocasiões vividas, que só se dá a partir da racionalização individual e pessoal de cada ser humano, na sua ímpar individualidade. Com certeza todos já desconstruíram conceitos pré formados após viver uma situação que contrariou e distorceu tudo o que antes era tido como verdade ou como certeza. Eis o grande dilema da vida humana, entrar em consonância com os pensamentos e atitudes vividas, desvendar os mistérios e os assuntos considerados como um tabu. Cada homem é um microuniverso de pensamentos e ideais criados a partir da experiência de vida a que o levaram a ter tal conceito e modelo para si mesmo. E essa experiência justaposta à racionalização digestiva das vivências tem que ter relação direta com a sensibilidade, com a felicidade ou repulsa de tal ato. O intangível tem que ser considerado para tudo. A ciência e racionalidade concreta, quando sozinhas, são insuficientes. O homem deve entender mais de si mesmo. Intuição é mais do que saber e só aprende que se dispõe a errar. Enquadrando-se e visando agir de modo a ser feliz, as pessoas, individualmente, melhorarão, e, acreditando na prerrogativa de que o macro só evolui e se desenvolve com a evolução e desenvolvimento do micro, o mundo tornar-se-ia um lugar com mais certeza e empatia, visto que o um que entende-se único, entenderá o próximo também único de seu singular empirismo, respeitando-o e adaptando-se à imensidão de divergências potencialmente educativas.

Matheus Rangel Libutti; 1 ano; Direito noturno

Anacrolândia


Em seu escritório, o velho prefeito da cidade preparava-se para gravar um comunicado aos seus eleitores o qual seria transmitido pela TV, quando seu assistente concluiu:
- Basta seguir o seu roteiro, como num teatro...
- Que Deus nos abençoe, vamos precisar.
O assistente posicionou a câmera.
- Em três, dois, um...
- Bom dia, cidadãos! Hoje, quero revelar parte dos esforços da prefeitura para garantir o melhor para nossa querida cidade, Anacrolândia. Como todos sabem, nossa população vem sendo ameaçada pela nova onda de casos de dengue. O intrigante é que na época de nossos avós, ninguém se preocupava com garrafas ou pneus no quintal. Estes eram, inclusive, os brinquedos das crianças... – Respirou fundo e prosseguiu em tom severo – Devo alertar que é impossível saber qual tipo de “informação” a grande mídia tenta nos impor! Porém, assim como todo cidadão de bem, tive uma educação que me preparou para a vida. Não devemos nos perguntar “por que” nossa cidade está desgraçada, mas “para que”! Estamos nos afastando cada vez mais do que é certo, por puro egoísmo humano. Quando Deus não está satisfeito, ele manda pragas. Entendam, nossas pragas não são gafanhotos, mas mosquitos. É por isso que estou assinando um decreto que convoca todos ao jejum, para que, assim, possamos nos reconectar ao nosso Deus...
Um visitante chamado Moderno, apoiado no balcão do bar, ouvia o discurso enquanto um pequeno grupo ao seu lado comentava:
- Será?! – perguntou um enquanto comia Bacon. 
- Claro! Faz todo o sentido! – E completou, sorrindo – Esse é o meu ídolo!
O turista quis, logo em seguida, retornar a sua cidade natal para ver como estavam resolvendo as coisas por lá. O que encontrou foi impressionante: Mutirões de limpeza eram organizados pela prefeitura, a qual recebia grande apoio da população, agora esclarecida e disposta a agir de maneira emancipada.
Ainda dentro de seu carro, pode ouvir o jovem prefeito anunciando:
- Dessa forma, soltando estes machos geneticamente modificados, testados e aprovados em laboratório, interromperemos o ciclo de vida das fêmeas, as quais não reproduzirão com eficiência, e controlaremos o número de casos de dengue.
- Senhor prefeito, acredita que essa intervenção está de acordo com o interesse de Deus? – Indagou alguém.
- Sim! Deus anuncia na bíblia que o homem deveria reinar sobre a natureza. É o que estamos fazendo através da ciência! Em nome do bem-estar do povo, claro...
Ao descer do carro, Moderno simplesmente exclamou:
-Ah! Como é bom pisar em chão firme!

Diogenes Spineli Soares Filho, 1º Ano, Direito Noturno.

Discurso de Ódio: por uma desconstrução

A dinâmica contemporânea brasileira, em meio a uma crise econômica, social e de representatividade política, intensificou as polaridades ideológicas existentes no país assim como o discurso de ódio frente às minorias. Tal querela demonstra a mazela social existente em um país dividido em que a maioria - alienada pelo o que deveria servir de transmissão da informação e do conhecimento (poderio midiático) – utiliza-se de discursos simplistas e reducionistas, criados pela viralização do senso comum em massa, para delimitar a verdade pela opinião sem uma análise crítica da realidade. Muitas vezes, isso acarreta em verborragias que ferem os princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) como a violência contra a população LGBT, a discriminação racial assim como o preconceito religioso, dentre outros. Por esse prisma, a filosofia dos cânones Descartes e Bacon atua como embasadora para o entendimento do discurso de ódio brasileiro uma vez que abre possibilidades para uma realidade sem estereótipos conservadores disseminados pelo país.
Quando versamos sobre a possibilidade de um conhecimento neutro, é válido frisar que todo ser humano vê seu presente e analisa as coisas através de pré-noções estabelecidas pela estrutura familiar, psicológica e educacional que cada um tem. Ou seja, cada indivíduo raciocina e transpassa o que sabe, implicitamente, conforme o que já viveu, os seus costumes, a sua cultura e os valores massificados de cada época. Tais “lentes” individuais dificultam o verdadeiro conhecimento, o qual, para Descartes, deve partir de uma possível neutralidade sem paixões ideológicas ou de conflito de interesses (como na análise de uma Proposta de Lei em que partidos priorizam seus interesses econômicos e políticos em detrimento do bem comum). Nesse sentido, para o autor, o caminho para afastar tal problema é através da dúvida hiperbólica. Ou seja, duvidar de todo estereótipo já impregnado na sociedade através da experiência para que, enfim, chegue à verdade e isso exige desconstruir as próprias convicções.

Da mesma forma, esse senso comum, advindo dos valores religiosos, ideológicos e culturais, disseminado, neste caso, pejorativamente, deve ser rompido. Nesse sentido, Bacon analisou o que poderia influenciar e embaçar as “lentes” da visão do homem, ou seja, as falsas percepções do mundo conforme essas pré-noções das coisas. A isso, ele deu o nome de “Ídolos”. Seja através da natureza humana ou da amorosidade (‘Ídolos da Tribo’); seja através dos costumes e tradições pelo mundo a sua volta (‘Ídolos da Caverna’); seja pela ideologia partidária ou doutrinação (‘Ídolos de Foro’); seja por outros tipos de explicações para a realidade, como a astrologia (‘Ídolos do Teatro’); o homem sempre é moldado por “Ídolos” e o único caminho para o verdadeiro conhecimento, assim como para a desconstrução de estereótipos a fim de extinguir o discurso de ódio, é pela luta contra essas falsas percepções do intelecto humano.

 Débora Amorim de Paula, 1º ano - Diurno 

As bases da ciência moderna e a educação brasileira contemporânea

“Repartir cada uma das dificuldades que eu analisasse em tantas parcelas quantas fossem possíveis e necessárias a fim de melhor solucioná-las”. (DM, p. 11). Desse trecho retirado da obra Discurso do Método (DESCARTES, René) podemos “pinçar” uma das principais ideias do autor sobre o conhecimento: o fracionamento. Aplicando esse conceito para a educação contemporânea podemos perceber que toda a base curricular é fragmentada em matérias e não há em si uma integração, o que dificulta o entendimento do aluno noção de um conhecimento como um todo.
É comum se atribuir a Francis Bacon a frase “O conhecimento é em si um poder” apesar de não existir nenhuma prova de que foi ele mesmo que a proferiu. Porém, a citação resume bem um dos conceitos do autor. Conhece-se a revolução da Ciência Moderna, que tem por Bacon seu pioneiro, o ápice do mecanicismo. O saber, para Francis, devia ser instrumental, favorecer ao homem, ou seja, devia prover e exercer poder sobre a natureza. Essa ideia é transferida com facilidade para o estudo que nossos jovens recebem nos dias de hoje, o conhecimento tornou-se muito voltado ao prático e pouco se valoriza matérias como sociologia e filosofia, que ficariam no campo abstrato. O conhecimento que, de certa forma, não forma mão de obra ou não é cientifico pouco importa.
No governo brasileiro atual, o presidente da república e o Ministério da Educação propuseram uma reforma no Ensino Médio, reforma essa que influenciará a educação como um todo no país. O principal ponto dessa reforma trata de uma nova divisão da base curricular, o conhecimento antes fracionado em matérias passará a se dividir em áreas do conhecimento: Humanidades, Ciências, Linguagem, Matemática e Curso Técnico.  
Então, percebe-se que o mecanicismo de Bacon e o Fracionamento de Descartes ainda se encontram presentes na nossa educação. Cada vez mais se preocupa em racionalizar e dividir o conhecimento, não há preocupação em formar um jovem em um universo único e completo, e sim, em formar uma mão de obra especializada em áreas.

Há muitas dúvidas em relação a esse tema, mas a principal delas é: a construção de uma geração nesses moldes educacionais favorece a quem? Com certeza não aos jovens do nosso país.

Luísa De Luca - 1 ano direito noturno

A dificuldade de se buscar a razão atualmente

Séculos atrás, Francis Bacon e René Descartes elaboraram caminhos para que possamos guiar nossos pensamentos visando obter conhecimento baseado na razão, sem interferência de paixões ou ídolos que nublariam decisões que temos que tomar no dia a dia. Embora divergentes, seus métodos, tem sido usados desde então, buscando superar as falhas de nossos sentidos e crenças pré-estabelecidas.
Estipulou-se que a dúvida deveria abranger tudo que já se conhecia, e que o conceito do que era verdadeiro e do que era falso seria posto a prova novamente, à medida que os princípios básicos estipulados por Descartes na busca da razão científica eram seguidos. Também se criticava o trabalho da mente guiando a si mesma, pois as antecipações da mesma originavam o senso comum, contrariando o objetivo da priorização da razão.
O problema está na falta de uso desses métodos, ou pelo menos, de algumas de suas características para avaliar as chagas da sociedade atual. Pessoas utilizam de qualquer fonte de informação para chegar a um conhecimento muitas vezes errôneo, não se preocupando com a origem da notícia ou com as possibilidades da mesma ser verdadeira. Resultando em notícias falsas espalhadas e repetidas tantas vezes que acabam tornando-se uma versão fajuta da verdade.

Essa efervescência que sofremos atualmente de uma busca constante por alguma notícia, mesmo que não seja verdadeira, facilita o caos político, econômico, social e moral que presenciamos. Falsos ídolos, percepções de mundo diferentes sendo compartilhadas de forma errada e a crença na imparcialidade de meios midiáticos provoca um efeito de “emburrecimento” da população e consequentemente, a perda da busca pela razão ao longo da caminhada da humanidade.

Ananda Gomes Sanchez, 1º ano, Direito Noturno

População mundial = 7,2 bi de opiniões ou apenas uma?

Em meio a tanto progresso, o século XXI se apresenta como um corpo autônomo, impressionando com sua capacidade de produzir informações, técnicas e opiniões. Assim, muitas vezes, as bases de formação do mundo moderno são congeladas, como se apenas se validassem para as situações em que foram formuladas.
Duas dessas bases são os pensamentos de René Descartes e Francis Bacon, no século XVII, no que se diz respeito à reformulação do pensamento científico baseado na pura e livre interpretação da razão, acompanhada pela experiência.
Descartes defende, em sua obra "Discurso sobre o Método", que um dos princípios básicos da razão científica é não aceitar como verdadeiro algo que não se conheça na íntegra e que, por assim ser, seja capaz de gerar dúvidas. Mesmo que o foco do filósofo tenha sido a ciência, é possível desviá-lo à sociedade atual, naquilo que diz sobre sua reação às informações vinculadas.
Hoje, pela rápida circulação de informações pelas vias tecnológicas, vê-se que a sociedade se apresenta mais suscetível a absorver discursos prontos, sem que haja alguma análise - ou seja, a pura aceitação do que está pronto -, e os divulgar para que opiniões formadas se repitam, por mera falta de interesse - se assim for melhor de classificar seu motivo - de formular seu próprio discurso, baseado em valores individuais e não em apenas aqueles que meramente se assemelham àqueles. Como exemplo, espaços para a circulação de notícias equivocadas ou falsas, discursos rasos e "hate speeches" se abrem.
Além disso, a sociedade atual, ao aceitar esses discursos, não se dá nem a oportunidade de ter dúvidas e, por meio delas, alterar qualquer realidade presente.
Ainda nesse mesmo aspecto, surge a elevação de algum indivíduo que tenha se destacado por suas ideias - e essas não necessariamente compatíveis aos exemplos supracitados - como se ele representasse todo aquele contingente que compartilha da "mesma" opinião.
Assim, pode-se aproximar a isso o que Francis Bacon - lá no século XVII - colocou sobre os ídolos formados: aqueles que representam as falsas percepções do mundo. Ou seja, as ideias desse indivíduo que são aceitas por muitas pessoas não significam uma verdade absoluta, uma correta percepção do mundo e de suas circunstâncias, que podem ser adaptadas à realidade de qualquer lugar do mundo, postas suas diferenças.
Com isso, vê-se a formação de ídolos da caverna, conforme proposto pelo filósofo em sua obra "Novum Organum", que são aqueles que bloqueiam a mente humana, por se vincularem às relações do homem com o mundo, no que se diz respeito à formação desse homem, por meio de suas bases intelectuais - educação, cultura e leitura. E esse bloqueio é nítido hoje e, talvez por ele existir, é que se vê discursos reproduzidos.
Posto isso, é notável que essas duas ideias se fazem muito atuais e que, por isso, devem ser consideradas como espelhos para uma realidade que deve ser mudada. Há a necessidade de uma sociedade mais engajada, interessada, opinativa e individualizada.
Talvez, o mundo de hoje precise descongelar esses pensamentos anteriores, pois eles dizem muito a respeito de suas sociedades.
Aqui, colocam-se em cheque todas as opiniões aceitas sem alguma análise ou questionamento e ainda a existência desses atuais ídolos da caverna.
As ideias antigas nunca se fizeram tão modernas. A sociedade da informação nunca se fez tão má (in)formada. Ídolos nunca foram tão fáceis de serem formados. E, 7,2 bilhões de pessoas nunca tiveram 7,2 bilhões de opiniões.

Vivian Facioli H. Mello - 1º ano Noturno
Jesuítas, Japão e cinema
2017

Higor Caike Jordão Zanzarini
1º ano – Direito
Turno: noturno
            A despeito da divergência que existiu entre as correntes de pensamento empirista, da qual Francis Bacon era adepto, e racionalista, com o qual René Descartes se identificava, é possível indicar em ambos alguns elementos em comum, tal como pode ser constatado com a análise dos textos em questão. Essencialmente, apesar de suas discordâncias, a finalidade de ambas as correntes era a mesma: produzir um saber científico seguro, livre de elementos que o poderiam prejudicar.
            Tais elementos podem possuir diversas naturezas, e seria possível afirmar a existência de alguns “ídolos” que seriam alvo de desprezo para ambos os grupos. É o caso, por exemplo, da tomada irrestrita de uma tradição cientificamente não comprovada como verdade única e absoluta. Trazendo o debate para a realidade cultural contemporânea, é possível mencionar uma obra do renomado diretor estadunidense Martin Scorsese: o filme Silêncio, de 2016.
            Ao retratar o sofrimento e perseguição pelo qual jesuítas passam no Japão do século XVII, o filme, pelo menos a princípio, traz à tona a infrutífera busca psicológica destes homens por indícios da presença de Deus em suas vidas. Na ausência de indícios empíricos ou racionais, sua fé é colocada à prova, e os mesmos se veem tentados a abandonar o caminho divino.

            Em termos da cultura popular contemporânea, os fatos que acometem os jesuítas no filme Silêncio fazem com que os homens de Deus envolvidos na trama pensem “fora da caixinha”, ou seja, que se defrontem com a realidade e tradição que os criou, uma vez que as mesmas se demonstram ineficientes para explicar os novos fatos com que essas pessoas se deparam. Filosoficamente, trata-se essa questão de um dos maiores enfoques do pensamento moderno: a discussão acerca da incompetência da tradição para explicar as coisas do universo, enfoque esse que também não fugiu às reflexões de Bacon e Descartes, a despeito das grandes divergências entre esses pensadores no que diz respeito ao caminho que se deveria tomar para se obter tal explicação, e da reflexão que pensadores dessas correntes, como é o caso do próprio Descartes, promovem acerca da existência de Deus.

O conto de Akangatu

  Creio que neste dia, Akangatu estava novamente isolado de sua tribo, pesquisando sobre diferentes espécies de plantas e animais como sempre fez. Akangatu sempre foi um descobridor. Não é uma pessoa social nata, por isso convive na tribo Angá somente pelos laços que contém com sua mãe, por mais que tenha idade o suficiente para sobreviver sozinho. 

  Neste dia, como qualquer outro, saiu para a selva densa e distante para dar continuidade com sua pesquisa. Mas, por um momento, notou algo de diferente em um aracambé, ou cachorro-do-mato, parecia estar cansado mas além disso, estava com manchas pretas, parecia ser uma pelagem diferenciada, aquilo o intrigou porém,  deu continuidade a sua jornada. 

  Na mesma semana, Akangatu retornou ao local, e percebeu que aquele mesmo cachorro estava com as manchas maiores. Não só maiores como tomaram dominância na pelagem do animal, restando apenas listras da coloração antiga. Além disso, aparentemente o aracambé mal conseguia se levantar. Preocupado, o jovem levou o bicho para sua biboca, um espaço humilde que utilizava para experimentos e como refúgio, e lá o deixou por duas noites com comida.

  Ao retornar a sua biboca, o animal estava morto, e as plantas que estavam no local, para fins científicos, apresentavam pintas pretas e estavam também menos coradas que o normal. Fato que ele não percebeu na floresta. Assim, Akangatu concluiu que havia uma nova doença se espalhando pela selva, porém, por alguma razão, não atingia ele, então provavelmente não atingia os humanos.

  Duas semanas se passaram, e a doença cada vez mais se espalhava e estava chegando nos arredores da aldeia, porém, era difícil de ser notada, pois para a aparição da coloração preta, precisava-se de muitos dias, e a parte morta da floresta estava muito distante da população. Mesmo assim, o preocupado indígena foi avisar a sua tribo do que poderia vir futuramente.

  Ele foi falar diretamente com o chefe da tribo, Caetê, um velho guerreiro e fiel à aldeia. Disse que uma doença terrível estaria chegando e afetaria a caça e a colheita daquele lugar. Tirou uma folha do cesto que carregava e mostrou as manchas pretas. O velho não acreditou, disse que Tupã, um de seus Deuses, os avisaria de tal caos, e naquela tribo acreditava-se que os Deuses sempre se comunicariam com os anciões caso algo de ruim acontecesse. Desesperado pela aprovação de Caetê, o jovem consegue provar que a doença é contagiosa entre a flora, mas mesmo assim, o velho não acreditou, disse que ele estaria usando uma espécie de magia e o expulsou da aldeia.

  E a profecia do entitulado “mágico” aconteceu após uma semana. O ambiente estava cercado por árvores pretas e animais mal apareciam naquele lugar. Assim, a tribo foi forçada a se deslocar. 

  Muitos morreram de fome até aquele povo desiludido achar um local digno de vivência, e lá eles aprenderam a nunca mais ignorar uma verdade que foi provada. E o jovem Akangatu felizmente foi acolhido por outro povo, o qual o respeitava. 

Esse conto foi feito para explicar os falsos ídolos de Bacon, uma das bases epistemológicas da ciência moderna.

Rodrigo Tinel Guerra, 1ºAno, Diurno

As bases teóricas da ciência e da academia: Descartes e Bacon

  O estudo da filosofia de Bacon e Descartes é muito importante para compreender as bases e o funcionamento da ciência atual, o que acaba sendo um tema muito bem colocado nos estudos de qualquer universitário em seu primeiro ano de faculdade. Afinal, compreendendo-se a filosofia desses pensadores pode-se ter uma ideia mais clara do que a academia é, ou pretendia ser.

Com esses dois filósofos, a ciência deixou de ser especulativa para ser transformadora, começou a haver uma necessidade de que a ciência se baseasse no real, e não mais no divino, como tinha sido até então. Outro ponto em comum no pensamento dos dois é a pretensão de que o conhecimento fosse neutro, guiado pela razão e pela experiência, embora isso nem sempre ocorra.

No entanto, apesar dessas semelhanças, os pensamentos desses filósofos são muito diferentes. Descartes defende que o conhecimento deve ser baseado na razão, através do exercício da mente através de dúvidas, tendo como o princípio de chegada à verdade a clareza. Assim, é necessário duvidar de tudo até que se chegue em algo que seja claro o suficiente que seja impossível de ser duvidado.

Bacon, por outro lado, acredita que a experiência é a base do conhecimento. É interessante em sua filosofia o cuidado em mostrar que nem sempre aquilo que achamos que é experiência realmente o é. Aí estão caracterizados os ídolos, que são quatro, e podem ser definidos como uma falsa percepção de mundo. São eles: ídolos da tribo (distorções provocadas pela própria mente humana), ídolos da caverna (distorções provocadas pela relação do homem com o mundo à sua volta, como é o caso de sua formação, leituras e bagagens), ídolos do foro (distorções causadas pela relação com as pessoas à sua volta) e os ídolos do teatro (distorções causadas por representações teatralizadas e cheias de superstições, como é o caso da astrologia).

Nesse momento, apresentadas as diferenças entre os pensamentos desses dois filósofos, fica difícil conceber que em algum momento houve um amálgama de suas filosofias culminando na base da ciência e academia modernas. O que ocorre, na verdade, é que se utiliza o pensamento de Bacon no que tange à pesquisa e experimentação da faculdade para só depois recorrer-se a Descartes, formulando-se uma nova teoria através da racionalidade, mas sempre com uma base muito forte na experiência. Assim, se a academia atual se baseia nesses dois pensadores, pode-se concluir que o mesmo ocorre com a ciência moderna. Afinal, a maior parte da ciência, desenvolvimento de teorias e novas tecnologias ocorre no ambiente acadêmico.

Entretanto, a racionalidade e o ceticismo anteriormente propostos por René Descartes não são sempre devidamente reconhecidos e aplicados na academia atual. Assim, são frequentes algumas experiências frustrantes vivenciadas por muitos membros da área acadêmica, a exemplo da proposição de novas teorias, uma vez que é observada, dentro da comunidade acadêmica, uma forte influência advinda de reputação e status social interno, e que foram criadas por membros considerados mais influentes e importantes da própria academia. Portanto, é possível que se dependa de algum renome próprio ou de algum apoiador (seja outro acadêmico ou instituição investidora, por exemplo) para que um projeto ou teoria seja impulsionado e devidamente avaliado pelos pares de seu autor (considerando, claro, que sua avaliação e reprodução demonstre a validez da hipótese). Dessa forma, com uma frequência claramente inadmissível para um sistema que em teoria preconiza a racionalidade, o ceticismo e a empiricidade, ideias válidas e sustentadas logicamente podem ser prontamente descartadas em detrimento de comportamento antiético e, metaforicamente, elitista por parte dos pares de quem as propôs.

Já quanto à Bacon, é interessante notar que seus pensamentos foram adotados mais fortemente em comparação à Descartes. Um dos pilares da universidade pública é a pesquisa e, além disso, quando alguém entra na faculdade, ela é levada a deixar seus ídolos de lado e vivenciar uma experiência intelectual totalmente nova. Porém, acredito eu que se deixamos alguns ídolos para trás ao entrar na faculdade, acabamos nos apegando a outros, como é o ídolo do foro, afinal, o pensamento que predomina na faculdade acaba sendo homogeneizado e definido pelas novas companhias, embora menos conservador e mais desconstruído do que se tinha anteriormente. Os ídolos, portanto, acabam sempre presentes, embora mudem com o tempo e muitas vezes se camuflem bem.


Rafaela Carneiro Gonella – 1° ano Direito diurno

Os Ídolos de todos os tempos


A partir da concepção de Bacon a cerca da razão, entendemos que sua extensão é demasiadamente perigosa, por não englobar uma metodologia e ser influenciada pelos ídolos. Assim, numa visão contemporânea da perspectiva do filósofo, os dispositivos sociais, como propagandas, internet e mídia, hoje funcionam como os ídolos os quais manipulam a razão humana. Ainda, hodiernamente, os ídolos podem ganhar um significado que ultrapassa a concretude ao atuar num campo psicológico, isto é, a própria irracionalidade, proveniente do ego, é análoga à concepção dos ídolos da tribo.

Desse modo, é notória a semelhança da limitação do intelecto humano, proposto por Bacon, com a própria Psicologia, subsequente, e a atualidade de seu pensamento a cerca da manipulação, que, na verdade, deveria ser entendida como um fenômeno universal. 

Nesse sentido, a manipulação ideológica sempre existiu, em todos os tempos e épocas, mas com destaque para o ocorrido nos regimes totalitários, haja vista que a atuação dos ídolos do forum foi intensa a ponto de fabricar uma nova realidade, como defendeu Hannah Arendt na obra "As Origens do Totalitarismo". 

Esse deve ser o maior exemplo da extensão e perigo da utilização do ídolo que consagra a palavra. No entanto, o Totalitarismo, converge, ainda, com outras questões propostas por Bacon, sendo estas o embate entre a antecipação da ciência e sua interpretação.

Isso é visível a partir do momento em que se entende as principais ideologias do regime Totalitário, as quais buscaram responder a duvida universal do ser humano de quem detém o poder. Tanto o nazismo, como o socialismo russo responderam essa questão utilizando da antecipação da ciência, isto é, com justificativas tecnicamente racionais, mas manipuladas, e que não refletiam a realidade, mas uma fantasia, alimentando, pois, o desejo superficial de respostas do intelecto humano. 

Em suma, Francis Bacon possui em sua filosofia uma concepção que antes se ser atual é universal, ao tratar da manipulação da razão humana. No entanto, apesar de universal, a questão teve seu ápice nos regimes Totalitários, por expressar não apenas uma manipulação, mas a invenção de uma realidade fantasiosa, ou seja, uma falsa ciência. 

Maria Júlia Paschoal Minto
1º ano- Diurno 

Ídolos, noções e visões

De forma rápida os ídolos da ignorância de Francis Bacon, pensador que utilizou a razão como base de seu pensamento crítico, são representados no formato de óculos, os quais proporcionam visões diferentes aos indivíduos ali presentes, fazendo com que as noções enxergadas por eles tenham diferentes aspectos. Cada um dos indivíduos expõe o seu posicionamento sobre o que está vendo, havendo contradições entre si.
Ídolo da tribo: azul
Ídolo da caverna: verde
Ídolo do foro: roxo
Ídolo do teatro: vermelho

Emily Caroline Costa da Cunha - 1º ano de Direito (Diurno)

A Procura de Empatia

Na atualidade, vemos uma apreciação pela razão, seja no modo de produzir, seja na vida cotidiana, sobre tudo, na administração do tempo; tais ideais foram discorridas por René Descartes e Francis Bacon, na Idade Moderna. Mas pelo uso exacerbado da razão ocorreram inúmeros massacres.
Em sua explanação, Bacon, fala sobre “ídolos de foro” que por meio das “palavras, impostas de maneira imprópria e inepta, bloqueiam espantosamente o intelecto” levando os homens a serem “arrastados a inúmeras e inúteis controvérsias e fantasias”. Por exemplo, na Alemanha, em 1933, cerca de 10% da população estava desempregada (6 milhões de pessoas); em meio a uma crise econômica e financeira um homem diz que salvaria o país, assim Hitler subiu ao poder.
Para a dominação da natureza no tocante a convivência em sociedade, Descartes, pela razão, dá a entender que devemos seguir as leis independentemente da situação; pois esse seria um fim prático as várias transformações que a natureza sofre. Utilizando-se dessa ideia, a defesa que, defendia os juízes acusados de outorgar “procedimentos para a perseguição por atacado de judeus e poloneses”, no julgamento de Nuremberg, disse que “apenas cumpriram as leis”.
Vemos já com o Francis Bacon, uma crítica assídua aos gregos: “Os gregos, com efeito, possuem o que é próprio das crianças: estão sempre prontos para tagarelar, mas são incapazes de gerar, pois, a sua sabedoria é farta em palavras, mas estéril de obras”. Devemos criticar onde erramos no passado, mas, acima de tudo, devemos aprender com isso, produzir com isso. Produzir, no caso do Holocausto, mais amor e respeito, não só a vida, mais também, a todo ser humano.
Ao compilarmos esses pensamentos, vemos que há contemporaneidade com os pensamentos desses dois filósofos, mesmo tendo escrito em meados do século XVI. As pessoas veem um problema e querem sanar o mais rápido possível, independentemente do meio a ser utilizado, por exemplo, a eleição de Donald Trump, ou seja, a eleição de 1933 se repete, agora nos EUA. A razão, quando apenas a levamos sem pensar em mais nada é o que nos “cega”, vide a ação policial desmedida contra manifestantes na Venezeuela, “apenas estou cumprindo ordens”, dizem os policiais. Entende-se então, que razão exacerbada é muito prejudicial, e é o que há hoje. Onde não temos mais o lado emocional das pessoas. Não há mais empatia!


Gustavo Maciel Gomes – Direito – 1ºano – Noturno 

VOCÊ NÃO SABE DE NADA

Eu sei nada... mas o que é nada?
Seria a ausência de tudo? Mas o que é tudo?
Eu não sei nem do nada.

Alguém me diz: “ Você tem que racionalizar...”
Tá, então deixa eu raciocinar...
De onde eu vim? Pra onde eu vou?
Bom, eu sei onde eu estou...

Olha, por experiência, posso dizer com excelência e fazer ciência:
Saiu pra fora do portão:
Poluição, desgosto a céu aberto;
Televisão, cortador de intelecto;
Escravidão, cifrão pro seu comércio;
Objetivos incompletos;
Padrão, ilusão, divisão...
Enfim: explosão de dejetos

Guerra em eclosão, não há escapatória, não sei se devo acreditar na sua moral provisória.
Dúvidas consagradas pelo descaso, ungidas com seu óleo sagrado.

Mas eu sigo,  persisto, insisto,
Busco vitória total sobre sua falsa visão imparcial.

Penso, logo existo...
Mas quem nunca existiu e não desistiu de lutar?
Será que tem lugar no pódio da sua competição de ódio?
“ Sejamos moderados, não vamos apelar”

Sua razão serve a quem?
Você vem me fazer de refém, mas não vou ficar aquém,
Eu vou além!
Comigo não tem essa de “ não, senhor” e “ sim, senhor”.
Senhor por quê? Quem foi que disse que você manda no rolê?

Não tem reação sem ação. 
Mas é tanta ilusão, falsidade,
Que a liberdade por um triz me faz acreditar em Matrix.
Infeliz,  amarrada nessa locomotriz,
pronta pra cair no precipício.
Internada nesse hospício maldito,
sou resquício de um passado perdido.

Mas o trem não para... O trem não para
Eu me conheço, eu tenho marra,
Eu vou desatar as amarras.

O trem não para...
O trem não para, o trem é bala, parceiro,
você é só passageiro que acabou de subir...

Você não sabe de nada...

Lauriene Ellen Borges de Bem- 1º Direito ( Noturno)

O MÉTODO DA DÚVIDA E A EDUCAÇÃO TRADICIONAL

Desde o surgimento do mundo enquanto civilização humana até a atualidade observamos mudanças drásticas em quase todos os aspectos civis exceto nas instituições de ensino. A educação é aplicada, ainda, através de uma hierarquia necessária em uma realidade onde o conhecimento é tratado como uma grandeza mensurável. Estes pressupostos estão bem evidenciados no formato de aulas expositivas onde se espera que o mestre – aquele mais sábio – transmita aos alunos – aqueles que nada sabem ou que pouco sabem – conhecimentos tratados como lineares e que devem ser somente absorvidos e nunca questionados ou analisados.

Quando René Descartes decide utilizar como método científico a desconstrução de tudo aquilo que é tido como certeza, ele entende o conhecimento como um caminho a ser percorrido e não uma verdade pronta, única e consolidada, como podemos observar no seguinte trecho de O Discurso do Método: 'cheguei à conclusão de que, se a partir da juventude tivessem me ensinado todas as verdades cujas demonstrações procurei depois, e se eu não tivesse dificuldade alguma em aprendê-las, talvez nunca soubesse algumas outras, e ao menos nunca teria adquirido o hábito e a facilidade, que julgo possuir, para sempre descobrir outras novas, conforme me esforço em procurá-las” (Descartes, p.40).

Quando as escolas, desde a educação infantil até o ensino superior, decidirem aplicar o método científico como método de ensino de forma que entenda que o conhecimento é e pode ser produzido em qualquer instância social, uma verdadeira revolução será provocada na formação dos seres humanos enquanto indivíduos e enquanto sociedade. Somente desta forma superaremos superstições e 'sensos comuns' nocivos para o desenvolvimento humano e social de forma saudável e concreta. Um belo exemplo desta aplicação pode ser observado no vídeo abaixo: https://www.youtube.com/watch?v=5KgABl1codc

Maria Catarina Mahtuk Freitas Medeiros Borges – 1º ano de Direito – Período Matutino


Neutralidade



Na ciência moderna modifica-se o raciocínio,
Com retidão e clareza busca-se a verdade
Assim ídolos e paixões defrontam o declínio
E a razão se funde com a neutralidade.

Não há mais espaço para especulação
Na possível dúvida, julga-se incerto;
Os sentidos enganam a percepção
Certo é: se penso, estou desperto.

Caminhos e experiências diferentes
Alteram a apreensão da realidade,
O que não cria antecedentes
Para que possa-se mensurar a racionalidade.

Na vã contemplação
Os frutos somem
De nada ampara a abstração
No bem-estar do homem.

Conhecimento na neutralidade,
Para Bacon e Descartes,
Nada mais que se opor à alienabilidade.
Afora o Escola Sem Partido,
Aonde toda experiência perde o sentido.

Gustavo Lobato Del' Alamo - Direito 1º ano - Matutino

Ciência: mera contempladora do mundo?

As universidades públicas são tidas como provedoras de conhecimento, seja este proveniente de pesquisas desenvolvidas sob sua própria tutela, seja pela formação de profissionais que prestarão serviços à sociedade ou, ainda, pelo intercâmbio de conhecimento entre universidades. Dessa forma, uma significativa parcela do que é produzido sob o bojo da instituição pública, deve, por conseguinte, tornar-se público.

Assim como tal concepção de conhecimento público, René Descartes, pensador da Filosofia Moderna, defendia a divulgação de seus tratados como forma de contribuir para o bem geral de todos os homens. Nesse sentido, a Filosofia não deveria possuir um caráter meramente especulativo, mas sim, uma relação intrínseca com a busca por transformações. No entanto, certas transformações podem transpassar os limites impostos entre a ciência e a ética e, com isso, questões religiosas - dentre outras de caráter pessoal - passam a comprometer possíveis avanços científicos, como pesquisas sobre o uso da cannabis sativa, princípio ativo da maconha, no combate às convulsões.

Apesar da premissa da ciência moderna no sentido de buscar uma ciência neutra, liberta de sentimentos e noções pré concebidas, a concepção de um conhecimento neutro é algo ilusório. Francis Bacon preconiza que a ciência é uma combinação de ideias anteriores, as quais são pautadas em uma lógica que consolida noções vulgares - nada que delas decorre possui solidez. Com isso, a proposição feita por argumentos não pode ser tida como descoberta de novas verdades, principalmente se tais argumentos estiverem baseados em preceitos religiosos ou cívicos. O intelecto humano tende a arrastar tudo aquilo ao seu alcance como forma de buscar apoio a uma ideia que o agrada - "o homem se inclina a ter por verdade o que prefere"- e, assim, se deixa levar por ídolos que corrompem o acesso à verdade.

Isso posto, notabiliza-se que percepções distorcidas do mundo, obtidas a partir de noções vulgares e influenciadas por certos ídolos não contribuem para o empreender do mundo. O intelecto do homem tende a obstruir a clareza na busca da verdade. Dessa forma, a utilização de um método seguro e organizado torna-se imprescindível para permitir o avanço da sociedade e, de modo mais específico, a Medicina (segundo o exemplo de pesquisa citado anteriormente). A dúvida é o método científico cartesiano, e é, portanto, a partir dela que se pode atingir a verdade. A partir de tal método pode prosperar a ideia de produção de conhecimento como atividade pública e cumulativa. Por fim, é a segurança e retidão na busca da verdade como critério metodológico que possibilita que a ciência não seja puramente contempladora do mundo.

Bárbara Gomes Brandão - 1º ano de Direito (diurno)