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sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Comte e eu

Eu sempre achei que o conservadorismo até hoje existente na sociedade era apenas falta de reflexão aliada à comodidade dos mais velhos. Porém, hoje descobri que tudo isso se deve também à Comte.
Comte, defendendo a ordem, as instituições estáticas, me fez ir à missa todo o domingo durante a minha infância e adolescência e me impediu de contar aos meus pais que simplesmente não tenho nenhuma crença religiosa. Me fez ser julgada pelas minhas roupas, que não me cobrem o suficiente. Me fez ser julgada por começar a beber, afinal, sou mulher. Me impediu de deixar meus pais saberem que tenho uma vida sexual ativa, já pensou se eles descobrem que sou puta e não me guardei para o casamento? Me impediu de ter uma relação próxima com meus pais, afinal, estou abaixo deles na hierarquia da minha família. Me fez ser julgada pelo modo que levo meus relacionamentos amorosos: aberto? súbito? pouco duradouro? Comte também me faz ter medo de engravidar, não poder abortar e ser julgada por isso. Além disso, Comte me distanciou dos meus pais só por eu ter uma ideia diferente sobre as temáticas sociais, o papel do Estado e a necessidade de hierarquia.
Graças à Comte, eu também não tive autonomia para escolher livremente o curso que faria na faculdade. Letras não dá futuro, nem história e nem geografia. "Por que você não faz medicina ou engenharia? Eu não paguei escola para você à toa".
"Ordem e progresso". Meus pais nunca estudaram sociologia mas seguem à risca as ideias de Comte. Felizmente comigo foi diferente, prefiro enfrentar a ordem imposta e procurar novos conceitos de progresso.
Rafaela Carneiro Gonella 1° ano Direito matutino

O ciclo da ordem

“Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã

Todo dia ela diz que é pra eu me cuidar
E essas coisas que diz toda mulher
Diz que está me esperando pro jantar
E me beija com a boca de café

Todo dia eu só penso em poder parar
Meio dia eu só penso em dizer não
Depois penso na vida pra levar
E me calo com a boca de feijão

Seis da tarde como era de se esperar
Ela pega e me espera no portão
Diz que está muito louca pra beijar
E me beija com a boca de paixão

Toda noite ela diz pra eu não me afastar
Meia-noite ela jura eterno amor
E me aperta pra eu quase sufocar
E me morde com a boca de pavor

Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã”

Cotidiano – Chico Buarque


Pode ser interpretado na música acima a teoria positiva de Comte. Visto que tal teoria parte do princípio de que os indivíduos deveriam aceitar a estrutura existente, assim como os seus respectivos “lugares sociais” sem a contestação, o indivíduo da canção apesar de pensar em poder parar, “se cala com a boca de feijão” e assim faz diariamente, aceitando a ordem e a rotina em que se insere. A honra relacionada ao trabalho ocasiona uma padronização social, pois procuraria direcionar os indivíduos às premissas estabelecidas para um funcionamento da sociedade carregado de ordem e posteriormente de progresso, ou seja, é criado um esforço disciplinador da sociedade burguesa cruzada por contradições. 

Maria Eduarda Ferrari Leonel - 1 Ano de Direito - Noturno

O preço do Bem Estar

                                A emergência de uma sistematização de conhecimento em meados do século XIX traduziu as transformações que por sua vez desabrochavam na referida era. Nascia para o mundo o Positivismo. Concebido de forma conjunta com as transformações sócio-espaciais, este adentrou no rol das ciências com a finalidade de estudar uma sociedade que se encontrava sob sucessivas metamorfoses. Os esforços de uma interpretação científica do inconstante meio trazia consigo uma vigilância niveladora de normalidade. Os acontecimentos sociais obedeceriam, portanto, a leis específicas, os fenômenos e anomalias teriam em seu cerne explicações similares. A história das civilizações teria algo em comum - todas elas tinham uma maneira congênere de explicação da sociedade, seja a ideológica, a metafísica e, agora, a atual positivista com o triunfo da razão;
                              Essa abcisão niveladora que tinha, conforme exposto, o objetivo de homogeneizar a sociedade e, assim, atribuir explicações comuns para anomalias distintas, pôs fim a algo inerente ao meio social - a individualidade. Ainda que a referida ciência priorizasse a união dos indivíduos como algo benéfico para o bem comum, a essência do ser humano foi deixada de lado como algo também contribuinte para a construção da sociedade. O sistema fora assim criado como uma associação simbiótica entre coletividade e meio, de modo que, separados, tendem a decadência. Desse modo, qualquer desvio do pré-estabelecido seria apontado como fora da normalidade.
                               Em uma manhã comum, a qual a rotina outra vez tomaria conta, Gregor Samsa abre os olhos. O despertar veio acompanhado de certa estranheza outrora nunca sentida. Os movimentos estavam limitados por uma rigidez contestável. Após certa dificuldade em se levantar, a explanação veio a tona por meio de seu reflexo no espelho - ele havia se transformado em uma barata. A mãe de Gregor era a ponte que ligava o pai - que não queria vê-lo - ao filho. E por mais que seus instintos maternos tentassem protegê-lo e forçassem-na a amá-lo, o menosprezo e o receio pelo anormal eram responsáveis pelo desejo incontrolável de tirar a vida do próprio filho. Gregor morreu em decorrência de uma ferida causada por uma maçã que sua mãe jogara em suas ´´costas´´. De maneira análoga a crônica de Kafka, a sociedade positivista NÃO se une para acolher e nivelar o anormal em seu seio. É como se olhassem uma árvore de caule torto separadamente do solo  da floresta que assim o fez nascer. A individualidade, as diferenças, AS ESCOLHAS são colocadas em segundo plano para que o bem comum possa prosperar.  A união que se incita atualmente prevê apenas prestígios materiais que fogem à dor do ser. As ´´baratas´´ que dia pós dia são vítimas de ataques de maçãs revelam até onde a ciência não consegue - e nunca conseguirá - enxergar. A destreza do homem hodierno olvida-se que, quando tocar uma alma humana, precisa ser apenas outra alma humana.  
                                      O entendimento do corpo social é deveras complexo para que seja ajustado a teorias exatas e leis engendradas. Mas, em algo, Comte estava certo - a concórdia entre os indivíduos tem força suficiente para moldar e ajustar o progresso no caminho certo. 
                                        Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.


Ana Carolina Ribeiro - 1 ano de Direito - DIURNO

Oração da filosofia positivista



Dos tempos idos nos livre
Da razão não atribuída aos eventos
Mas com o que foi não se preocupe
Apenas com o que é se ocupe

Ó, método, ferramenta niveladora
Nos traga a unidade necessária
Das ciências todas se encarregue
Da razão se abasteça

Observação, conosco conserve
Tudo aquilo que ser parecer lei
E descarte tudo que for apenas da vontade do rei
Nos ajude a entender o mundo para prevê-lo

Ao nosso lugar nos encaminhe
E aqueles que saírem do papel, humilhe
Afinal, ninguém é maior que a ordem científica
E a ninguém cabe a ameaça ao desenvolvimento

Que não investiguemos as causas primeiras
Que não sejamos distraídos da defesa da estática
Que apenas com o atual nos ocupemos
Afinal de contas, o que nos importa é apenas o funcional
Pouco nos importa tratar as questões em seu todo, de maneira ideal

Tatiane E. Lima - 1º Ano de Direito - Matutino

A consolidação de preconceitos existentes na ordem social à educação metafísica.

            Augusto Comté, filósofo francês nascido em 1798, consolidou sua teoria sobre a filosofia positiva há mais de um século. No entanto, tal teoria ainda consta em nosso século e é presente até em pensamentos políticos de nossos líderes nacionais. Em uma de suas observações, Comté deixa sua preferência pela observação direta através da ciência, para a previdência do ato e efetuar sua ação. Em tal linha de raciocínio, aplica-se consubstancialmente a supervalorização das ciências técnico-científicas, concretizadas no positivismo, enquanto evolutivas para a humanidade em detrimento das ciências humanas, e se trazido para o mundo contemporâneo, relaciona-se com preconceitos e esteriótipos vivenciados em diversas profissões e cursos especializadores que tem como base a educação metafísica.
            Para o filósofo, assim como para muitos preceptores do poder, as ciências humanas são vistas como perigosa, porque trazem a tona nos seres humanos sentimentos de transformação e melhora, que apesar de objetivar o avanço, precedem contrariedade às leis naturais e o modo de atuar a que estamos familiarizados. Tal ideia tende a ser lógica, vez que se torna descomplicado agir sobre o preceito de reinserir o indivíduo na normalidade, e não mudar um sistema que é passível de falhas. A naturalização de itens antes errados não sustenta o positivismo de manter a aptidão de agir, estática, e, dinâmica, a ação efetiva. Além disso, quando há mudança – tal termo é o único possível empregado ao relatar o Brasil, visto que até hoje nenhum movimento antes ocorrido pode ser considerado revolucionário – na ordem, ela é muitas vezes feita pelos próprios governantes, para que se possa a todo custo “desestabilizar dentro dos padrões”.
            Através disso, se transfere à tona a subestimação dos cursos de humanas em nossa sociedade, com diversas sátiras e ironias, e até mesmo com repreensão da família na escolha desses curso pelos descendentes. Bordões que valorizam o dinheiro que tais profissões muitas vezes não conseguem trazer, até mesmo pela falta de reconhecimento somada ao fator de serem menos voltadas para a indústria para o modo de produção aplicado, acabam por reprimi-las do convívio social e são deixadas de lado. É o caso da reforma do ensino médio, que proporciona aos alunos escolherem cursos dos quais tem mais aptidão, e eliminar matérias até então obrigatórias, como Sociologia e Filosofia, que se analisadas com mais clareza englobam não só a profissão que o estudante seguirá, mas também sua convivência e relação com outros à sua volta até mesmo no trabalho.
            Dessa maneira, a teoria proposta por Augusto Comté proporciona muitas reflexões à temáticas tão implícitas no mundo contemporâneo que passam muitas vezes despercebida. A consideração deixada neste texto consiste na superestimação das ciências focadas no trabalhador eficiente enquanto “gorila domesticado”, tal como explicita Taylor, que age maquinalmente e não questiona a sociedade e a sistemática inserida, acarretando a longo prazo a disfunção do pensar criticamente, tornando a educação metafísica algo banal e subestimado.

Michelle Fialkoski Mendes dos Santos - 1° ano Direito Diurno

Pragmatismo positivista

          O positivismo busca apenas explicar os fenômenos apenas pela vinculação entre fenômenos, não pela essência das coisas. O mesmo acontece com as relações humanas. Essa corrente tenta explicar todas as ações e situações com base nas experiências vividas, sem levar em conta todo o contexto que levou à ocasião.
          As pessoas, afetadas pela perspectiva positivista, veem no trabalho uma fonte de dignidade, sendo assim, necessário para a convivência em sociedade, pois essa impõe uma necessidade de honra e dignidade.
          Para o meio social, só é digno aquele que desenvolve uma função para o todo. Qualquer função que seja benigna para uma maioria é motivo de dignidade para a pessoa.
          Mas até que ponto essas imposições de uma sociedade são boas para uma pessoa? Até que ponto a normalidade é realmente necessária?
          As normas são provindas da necessidade humana de um padrão de normalidade para que as desvirtuações possam ser punidas. Apesar de parecer necessário, e embora eu até concorde que esse padrão reja o meio em que vivemos, as normas nem sempre afetam de forma positiva a vida das pessoas, ainda mais na perspectiva positivista.
          Essa perspectiva é pragmática demais para lidar com pessoas que tem histórias e realidades diferentes, pois a norma prevê um desvio e a partir dele uma punição. Mas, quando se lida com pessoas, é difícil entender a situação que levou ao desvio, mas é ainda pior fingir que essas situações não existem e não exercem influência sobre as ações das pessoas.
          Apesar disso, os desvios não podem ser tão frequentes a ponto de afetarem a concepção de normalidade, para que o meio social consiga manter certas normas e costumes.

          Sendo assim, todos sabemos da dificuldade de aceitar os desvios e entender as situações que levaram a eles, mas como lidamos com seres humanos, precisamos ao menos tentar que as normas não sejam aplicadas de forma tão pragmática, contrariando a perspectiva positivista.

Maria Antonia de Paula 1º Direito Diurno

Superficialidade procústica automatizada



          Com a emergência da Revolução Industrial, em meados do século XVIII, constatou-se, não raro, uma organização sistemática e hierarquizada da sociedade. Tal processo fomentou o surgimento de classes antagônicas no que se diz respeito ao capital. Enquanto a burguesia detinha este, o proletariado o almejava (sendo necessária a venda de sua mão de obra). Analogamente às engrenagens de uma fábrica, a sociedade industrial dispunha de certa ordem motriz embasada em preceitos de leviandade, padronização e automação. Assim, entre superficialidade disseminada, sistematização arraigada e robotização crescente, a sociedade industrial instaura-se, sendo de importância fulcral para a propagação do sistema capitalista.
          Na obra “Modernidade Líquida”, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman discorre sobre a progressiva superficialidade e fragmentação das relações humanas, fato que é potencializado pelo incessante imediatismo no qual a sociedade submete-se. Tal atestação finda com uma crise identitária humana, visto que instituições antes sólidas (Igreja, Estado, família, etc) acabam por liquefazerem-se. Antagonicamente à circunstância comprovada por Bauman, o filósofo francês Auguste Comte discorria que as instituições não deveriam ser dissolvidas, e sim solidificadas, servindo como meio para gerar a moral e equilibrar a sociedade industrial, fornecendo a ordem (pressuposto indispensável para o progresso humano).
          No mitologia grega, Procusto fora um homem obcecado pela sistematização, submetendo viajantes à uma cama previamente ajustada. Caso fossem demasiadamente altos, Procusto amputava suas pernas, caso fossem menores que a medida estabelecida, o homem esticava os membros da vítima. Em um contexto hodierno, tal mito simboliza o anseio de padronizar. Comte, ao defender leis invariáveis da sociedade e ao focalizar somente em fatores imediatistas, propicia a disseminação de padrões, fomentando o estabelecimento de ordens estáticas e de arquétipos pré- definidos. 
          Ademais, a obra distópica “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley é crucial para analisar a robotização crescente na qual a contemporaneidade insere-se. Nesta distopia, uma sociedade futurista é hierarquizada, sendo o destino de seus membros definido em laboratório. A felicidade é alcançada com o “soma” e a automação de todos os aspectos existenciais arraiga-se. Analogamente, em uma sociedade na qual a robotização é enaltecida e a ordem é sinônimo de prosperidade, temos a instauração de ideologias fixas, as quais transcendem o questionamento e devastam particularidades.

          Finalmente, a filosofia positiva de Comte, a qual explicita-se como concreta, científica, racional e empírica desvela-se inábil para embasar os preceitos de uma sociedade, uma vez que perpassa as causas primeiras, desdenha as peculiaridades e alicerça suas concepções em moldes. Basicamente, engrandece teorias, desprestigiando a prática. A superficialidade procústica automatizada é pútrida, tal qual a ideologia comtiana.

Isadora Mussi Raviolo - 1º ano Direito Noturno