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domingo, 29 de abril de 2012

(Des)Ordem


Quem quer manter a ordem?
Quem quer criar desordem?
É seu dever manter a ordem?
É seu dever de cidadão?
Mas o que é criar desordem,
Quem é que diz o que é ou não?
São sempre os mesmos governantes,
Os mesmos que lucraram antes.
Os sindicatos fazem greve
Porque ninguém é consultado,
Pois tudo tem que virar óleo
Pra por na máquina do estado.
Quem quer manter a ordem?
Quem quer criar desordem?
“Desordem” – Titãs

Essa tão esperada ordem discutida pelo francês Augusto Comte no começo do século XIX ainda se torna atual nos dias de hoje. Afinal, qual seria a definição de ordem em mundo com tantas diferenças e tantas desigualdades? É evidente que a idéia de ordem faz jus aos decretos do Estado, que como elemento máximo da nação impõe suas vontades ao cumprimento da sociedade, afinal “tudo tem que virar óleo pra por na máquina do Estado”. Os governantes de hoje, principalmente dos Estados capitalistas, preocupam-se em manter a sociedade organizada de acordo com as suas ambições, para evitar rebeliões, e continuarem com a mesma comodidade e conforto que sempre tiveram, recebendo salários cada vez mais altos, enquanto a grande maioria da população sofre com a falta de dinheiro, a falta de saúde, a falta de emprego, ou seja, com a falta. Assim, a letra da música acima faz uma pergunta que deve ser questionada: “Quem quer criar desordem?” A sociedade que vive aprisionada em suas vidas sem auxilio estatal, ou o próprio Estado, que não faz nada para mudar o alto nível de discrepância social vivenciado atualmente?

Comte afirmava que cada indivíduo desempenhava uma função específica, e que era fundamental que esse indivíduo se mantivesse no seu papel para dar continuidade ao funcionamento da sociedade e, dessa forma, assegurar que a ordem fosse garantida. Dessa maneira, Comte justifica a existência de todas as classes sociais e das mazelas existentes no mundo. O positivismo compara a sociedade a um organismo biológico, no qual nenhuma parte tem existência independente, assim, pode-se fazer um paralelo com as idéias de Karl Marx, na qual a existência das classes sociais menos favorecidas é justifica pela existência dos ricos. Comte tinha a ordem como valor supremo e para ele era importante que as pessoas entendessem o valor da obediência e da hierarquia. Ao contrário de Marx, que lutava por uma revolução do proletariado para que os pobres pudessem alcançar uma vida melhor, Comte afirmava que cada cidadão tinha que aceitar o seu papel dentro da sociedade, pois não importava de que maneira, seja por repressão do Estado, ou injustiças, mas a ordem tinha que ser garantida. De acordo com esse ideal de manutenção da ordem a qualquer custo, novamente pode-se fazer um paralelo com as idéias de outro filósofo, Nicolau Maquiavel, que afirmava que “os fins justificam os meios”, assim, não importam os caminhos que forem adotados para se chegar a uma sociedade perfeita, a ordem é de importância máxima e tem que ser alcançada a qualquer custo.

Sendo assim, “È seu dever manter a ordem? É seu dever de cidadão?”. Até quando um cidadão deve aceitar o seu papel na sociedade, seja ele bom ou ruim, em função de tal ordem utópica que põe em detrimento o bem estar da população menos favorecida em função da continuidade perfeita da máquina do Estado? Para Comte, o progresso só pode ser alcançado dessa maneira, com uma sociedade organizada e hierarquizada, na qual cada indivíduo faz parte da sua esfera social e não deve ambicionar uma condição de vida diferente da sua. Assim, surge um questionamento inevitável: seria essa realidade Comteana, uma forma de vida justa para todos os cidadãos ou somente para a classe dominante?

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