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domingo, 15 de abril de 2012

Alicerces de um direito sistêmico


O filme “Ponto de Mutação”, baseado no livro do físico austríaco Fritjof Capra, demonstra um intenso debate ideológico entre a visão mecanicista, proposta por Descartes, e uma nova concepção de mundo denominada sistêmica ou holística. Aparentemente, essa discussão restringe-se ao âmbito das ciências naturais, entretanto essa visão sistêmica que alicerça a hermenêutica atual e soergue-se contra os pilares retrógrados do positivismo jurídico.
Grandes pensadores jurídicos, como Justiniano e Napoleão alimentaram a utopia que suas obras legislativas eram completas e não necessitariam jamais de interpretação e comentários. Essa visão jurídica pauta-se pela premissa que “Lex clara non indiget interpretatione”, entretanto se analisássemos de modo holístico, concluiríamos que o jurista ao esforçar-se para atender aos fins sociais na aplicação da lei, esses mesmos fins alteram-se no curso da história. Portanto, se um jurista dividisse o todo em partes para melhor julgá-lo (método cartesiano), perderia sua essência e o conduziria a uma sentença anacrônica, diferentemente se buscasse compreender a realidade que está inserido o réu, por exemplo.
O direito é uma estrutura dinâmica, no qual seus integrantes devem buscar incessantemente por romper com os estereótipos que o prenderam a ser uma ferramenta pré-fabricada e pronta para ser utilizada, desprezando os caminhos que resultaram na evolução de determinado fato.
Cada jurista ou personagem do cenário político brasileiro deve inspirar-se no exemplo exposto no filme, no qual um homem mira uma árvore e não ver simplesmente caule, raízes, galhos e folhas, mas descobre vida, insetos, oxigênio, nutrientes, alimento, sombra, proteção, energia e uma síntese de integração.

Uma vaga noção de tudo, e um conhecimento de nada


O filme Ponto de Mutação, dirigido por Bernt Capra, com certeza deixa a desejar em sua produção cinematográfica. Contudo, as discussões filosóficas abordadas no decorrer de sua trama superam a mediocridade de seu enredo.
Uma das questões mais importantes abordada no filme é a crítica da fraguimentaçao das coisas, tanto nos termos materiais como nos imateriais. Nos dias atuais, há uma grande necessidade de especificação em determinadas áreas do conhecimento, o que de certa forma é muito proveitoso ao homem. Entretanto, essa necessidade de aprofundamento que é imposta pela sociedade também faz com que outros ramos do conhecimento fiquem em segundo plano, fazendo com que a mente humana se limite, e também que o homem se assemelhe a maquinas, que só fazem o que são programadas para fazerem.

Novos paradigmas


O filme ponto de mutação trata de um tema muito pertinente nos dias de hoje dentro do mundo acadêmico. A mulher que faz o papel de física no filme contrapõe-se ao costume da sociedade de fragmentar as diferentes realidades para entendê-la e subjugá-la sem escrúpulos.

Tal costume está impregnado em nós, desde a introdução do método cartesiano e do pensamento baconiano, onde o homem deve subjugar a natureza, dominando-a. Em decorrência dos problemas ambientais e a questão da sustentabilidade o uso do método holístico defendido pela personagem, ganha espaço por tentar enxergar a realidade das coisas como um todo, em um sistema onde tudo está interligado e depende de outros elementos para existir.  

Sem dúvida o método holístico é muito mais complexo, mas também exige da sociedade um pensamento muito mais consciente e ativo. Exige pensar nas consequências dos nossos atos para um todo, exige pensar em como nosso atuar e nossa mera existência interfere e interage com o cosmo.
Pode-se ainda pensar que esse método pode ser benéfico inclusive na ética humana, e, portanto muito pertinente dentro do Direito. Como cada ato, cada concepção da moral e dos costumes interfere no todo social.

De certo modo, isso nos faz também sermos mais humanos e menos imediatistas no nosso modo de pensar. Num caso concreto, pode fazer-nos sermos menos apegados as normas e olhar mais para o todo da situação, analisar elementos psicológicos, sociais, físicos, e também em como tudo isso afeta a sociedade. Pode inclusive ser uma oportunidade para mudarmos o modo de ver as coisas, os costumes e abrir-nos a novas e criativas oportunidades.


O MUNDO, EM NOSSAS MÃOS?


  Muitas vezes pegamos-nos pensando nos problemas do mundo, bolado soluções mirabolantes e chegando a conclusões que nos parecem obvias de como resolvê-los. Questões como a efemeridade da vida e o seu significado permeiam nosso cotidiano e nos levam a discussões que às vezes nos parecem banais e em outras se apresentam caráter revolucionário.

  No filme “Ponto de Mutação” de Bernt Capra, três pessoas com estilos de vida muito diferentes e visões de mundo distintas encontram-se em um castelo na França e iniciam uma discussão sobre os problemas da Terra e das sociedades humanas.  O grupo é composto por um político, um poeta e uma cientista. O conflito entre as visões das personagens nos leva a grandes reflexões a respeito da forma com que enxergamos a vida, de como o homem interfere na natureza e qual a nossa real importância no mundo. 

  Mas afinal de contas, o quanto o homem realmente interfere na natureza, somos realmente capazes de alterar o andamento do “conjunto planeta Terra”, ou somos apenas mais uma parte sujeita a uma força maior, que nos guia em um sentido inevitável? A ideia exposta pela cientista, na qual devemos analisar o universo como um todo e não cada uma de suas partes cartesianamente parece ser realmente muito interessante, no entanto, existe um ponto a ser observado; essa visão é aplicável? E se sim, de que forma conseguiríamos nos utilizar dessa visão para a construção de um mundo melhor?





Sociedade mecanicista

O filme "Ponto de Mutação" é baseado na obra de Fritjof Capra e tem como ponto principal a crítica ao pensamento mecanicista da ciência à época de Descartes. Essa maneira de ver os fatos é fragmentada, isso pois os enxerga como se cada um fosse sozinho, sem conexão com os outros. Tal pensamento é nocivo à sociedade e aos problemas dela.  
A maioria dos políticos pensa como o personagem do filme, vê o mundo de forma pragmática, a utilidade das coisas depende de quão úteis elas serão para a sociedade e por consequência o eleger. Não importa se o progresso de hoje vai trazer problemas para o amanhã. No filme esse problema é exemplificado com a destruição da floresta Amazônica para a criação de pastos a fim de que os lucros sejam revertidos para o pagamento da dívida externa. Tira-se o problema de um ponto para colocá-lo em outro.  
De que adianta tanto desenvolvimento tecnológico se a política de sustentabilidade não o acompanha? Ambos devem caminhar juntos e não fragmentados. No Brasil é muito fácil perceber como  há conexões nos fatos já que os problemas de saúde pública , de educação e deficiência de transporte público estão relacionados a desvio de dinheiro dos cofres públicos pois há maus governantes sendo eleitos no país.   
Solucionar os problemas está muito mais em mudar a forma de vê-los.

A culpa cabe a todos

Descartes e Bacon quando propuseram suas teorias fizeram-no baseados em um mundo muito distante da nossa realidade, o mundo do século XVII. Em uma época em que todos buscavam se libertar da extrema pressão religiosa eles encontraram na ciência pura o melhor método de realizar isso. Porém, nós, em pleno século XXI, frente a todos os acontecimentos ocorridos na História e todos os avanços obtidos pela ciência, não podemos nos furtar de encarar que uma ciência pura, que não se relaciona com a vida, não existe, e que nós somos responsáveis pelo que nossa busca desenfreada pelo progresso acarretou.

Tudo o que nos propomos a fazer gera consequências e temos que saber lidar com elas, sejam elas boas ou ruins. Isso não acontece de forma diferente na ciência, apesar de, na maioria das vezes, os cientistas estarem buscando se aprimorar e trazer benefícios maravilhosos para a ciência e automaticamente para a vida humana, eles tem que encarar o fato de que a ciência faz parte da vida em sociedade e pode proporcionar péssimas experiências à vida humana.

O extremo racionalismo cartesiano que forma nossa sociedade e se expande mais a cada dia pode estar ultrapassado, pois por mais a ciência pura de resultados, estes em confronto as ambições de governos e populações pode gerar o caos no mundo. Portanto, o cientista pode não abrigar toda a culpa, mas não pode se isentar dela.

Independente de quem inventa uma arma de destruição em massa a culpa por sua utilização sempre cabe a todos, pois o cientista a produz, a população exerce pressão sobre o governo para acabar com uma situação que o desagrade e o governo, para não perder votos, utilizar quaisquer artifícios disponíveis para realizar o que acredita ser o melhor para o seu país.

Todos têm sangues nas mãos pelos inocentes que pagam pelas nossas ambições, então temos que começar a nos responsabilizar, começando pelos que produzem a destruição, para transformar nosso mundo em um lugar mais equilibrado.


ENTRE DÉSCARTES, BACON, SARTRE E CAMUS


Ponto de Mutação, filme inspirado no livro de Capra, tenta descrever as divergências geridas pelo embate entre a visão cartesiana e holística de seus defensores.De pouco apelo dramático ou sensacionalista, o filme deixa a desejar em termos de cinematografia ; porém , as questões filosóficas propostas superam a atuação regular dos atores e tornam secundárias a beleza do litoral do Norte da França.
Produzido no começo dos anos 90, período no qual a reflexão referente às implicações éticas da ciência estava na sua infância, sobretudo no campo da genética, assim como a preocupação global com a preservação ambiental , o filme apresenta duas visões principais acerca do uso e da função da ciência. A visão cartesiana sugere o homem como senhor da ciência ,  de forma que essa seja uma ferramenta para o desenvolvimento em seu âmbito tecnológico, econômico e social.Essa visão , portanto, defenderia  a evolução contínua e não ponderada do material inanimado , desde que trouxesse  benefícios concretos à humanidade.Se a visão cartesiana, apresentada primeiramente no filme seria a tese, a visão holística , então , seria sua antítese. A antítese, consequentemente , questiona o parâmetro estritamente utilitarista e positivista empregado por aqueles que controlam  e influenciam as pesquisas cientificas mais significativas.Nesse argumento, dever-se-ia examinar profundamente as implicações sociais,éticas e não materiais da ciência como agentes de transformação e de suas transformações decorrentes de seu processo.

No entanto, é por meios cartesianos que os oradores dos lados filosoficamente antagônicos se encontram. Apesar de discórdias de valores quase que irremediáveis, os espectros distantes se encontram em uma síntese, bem ao estilo cartesiano. A síntese, reconhecida por ambos os argumentos, sustenta que um novo padrão de ciência deveria ser idealizado, um que indicaria novos caminhos de equilíbrio, de sustentabilidade e de harmonia entre a necessidade do desenvolvimento econômico e a as conseqüências ao homem e seu ambiente sujeitos da ação antrópica. O filme, nesse ponto específico, revela sua falha estrutural. Embora a visão alternativa ao pensamento cartesiano proposto nos diálogos seja relativamente coesa, ela é imprecisa por não conseguir traduzir teorias de mudança em propostas efetivas de realização. Sendo assim, por mais que a visão da personagem feminina considere boa parte das dúvidas existências e científicas do homem, falta-lhe instrumentos de praticidade. Assim, a síntese entre a visão cartesiana e a visão holística da personagem feminina é superior, uma vez que um novo modelo de ciência e sociedade sem proposta efetiva de aplicabilidade torna-se ideologia.
O filme, então, abre as portas cognitivas dos curiosos intelectuais e propõe discussões calorosas e provocadoras para aqueles que tenham condições de enfrentar as fronteiras da existência humana e  da ciência. Obra fundamental para apreciadores de Sartre e de Camus; pela superfície vê-se entretenimento, no seu núcleo, filosofia e existencialismo na sua forma pura.


O tudo de todos.


    Se em algum momento lhe fosse exigido que descrevesse um ser humano como um todo, você falaria que este ser não passa de muitas células que formam sistemas que funcionam, na maioria dos casos, de forma perfeita entre si, sem tentar explicar isso com uma visão mais ampla, incluindo instintos, história e sentimentos? Muito provavelmente não. Mas porque então temos uma grande tendência a nos referirmos dessa forma, muito minuciosa e reducionista, quando se trata de outros organismos ou objetos?
   Vivemos hoje em uma sociedade que progressivamente se torna mais objetiva, principalmente após a Revolução Industrial. Um ótimo exemplo dessa transformação é o já batido, porém muito apropriado para ilustrar-la é o do sapateiro. O sapateiro antes da revolução era um mestre da confecção do sapato, sabia cortar, costurar, lustrar e tudo que envolve o processo. Conforme o mercado se tornava mais exigente o mestre se viu obrigado a dividir seu trabalho para aumentar seu poder de competição. Com isso o processo se tornou cada vez menos específico, ao passo que já não se conseguia acompanhar o processo como a fabricação de um calçado, e sim várias pessoas realizando trabalhos manuais muito simples.
   Entretanto, e se pensarmos nesta situação de forma mais ampla? E se transferirmos este reducionismo para o meio ambiente, por exemplo? Uma grande floresta não é mais vista como um só “organismo com vida própria”, tão explorado no filme “Ponto de Mutação”, e sim como uma série de organismos constituídos de matéria prima, que pode ser utilizada para produzir novos bens de consumo.
   Obviamente não podemos ser hipócritas, negando a inegável (perdoando a redundância) importância e benefícios da Revolução Industrial, ou da próprio reducionismo, que proporcionou grande avanço para a humanidade. Porém devemos zelar pela manutenção do sentimento que existe entre nós, desde tempos muito inóspitos, de que de alguma forma fazemos parte de um organismo próprio, para que, quem saiba, um dia possamos realmente vislumbrar o funcionamento deste organismo de que fazemos parte.

Conexão com a prática


No filme “Ponto de Mutação”, adaptação do livro de Fritjof Capra, há a apresentação de um pensamento sistêmico totalmente integrativo, sustentado por uma idéia de que todas as coisas estão conectadas, revelando uma cadeia de disposições e acontecimentos sem condições exatas de compreensão pelo homem. Esse pensamento, segundo o que é dito no filme, pode ser aplicado nas diversas áreas do conhecimento e da vivência social.
O conforto trazido ao indivíduo pela ignorância ou pelo descaso em se abrir para o novo, em analisar as ações por diferentes pontos de vista, é o que deve se abolir ao utilizar esse pensamento, capaz de fornecer uma abertura ao entendimento da interdependência dos fatos cotidianos.
Ao utilizar esse principio como técnica na aplicação das leis e das políticas públicas, é certo que, a longo prazo, teremos uma mudança no caráter do direito. Como sabemos, o direito é exercido por profissionais com suas próprias características morais e ideológicas, suas crenças políticas e religiosas, que julgam diferentes casos que não se enquadram em um padrão perfeito. Essa diferença entre cada indivíduo e cada ação é que deve ser analisada levando em conta um parâmetro de integração com a realidade social e econômica, ambas regentes de toda nossa sociedade atual.
Entretanto, é no mínimo inalcançável a perfeita integração das normas jurídicas com um julgamento ético sobre todos os casos especificadamente. A responsabilidade do juiz, promotor ou advogado está na conciliação dos interesses coletivos da sociedade ou individuais de uma pessoa com o que ditam as leis.
Em outras palavras, a aplicação prática do direito deve seguir a evolução que a humanidade adquiriu ao longo do tempo e a complexidade dos problemas sociais atuais. Não há somente uma causa e uma consequência para cada problema existente, assim deve se abranger as possibilidades ao, por exemplo, aplicar a jurisprudência, interpretar um artigo.

O novo paradigma

No filme “Ponto de Mutação”, dirigido por Bernt Capra, surge de um debate entre uma física e um político, um questionamento à Ciência Moderna. A física, contrapondo-se à visão imediatista do político, acredita que, por a ciência priorizar a racionalidade e o mecanicismo da sua análise sobre o mundo em geral, refletindo aspectos dos pensamentos cartesiano e baconiano, não é um instrumento tão válido pois analisa o objeto apenas sobre um aspecto, deixando muitos outros, que também o influenciam, ignorados. O método por ela julgado ideal seria o denominado holístico, o qual realiza as interconexões entre os múltiplos aspectos que interferem no elemento de estudo.
Uma das principais ideias que é combatida por tal método, nascida do pensamento baconiano, referia-se ao uso ilimitado da natureza, a qual, segundo o autor, deveria ser escravizada em benefício da ciência. Atualmente, a crítica é ainda reforçada devido aos problemas referentes ao meio ambiente, como o aquecimento global, que provam a invalidade de tal pensamento, já que a exploração desenfreada da natureza que antes era observada está causando efeitos muito negativos à humanidade. Com esse problema em vista, começou a crescer na sociedade o pensamento da sustentabilidade, que consiste em conciliar o avanço da tecnologia com a preservação do meio ambiente. Assim, vê-se que não é possível avaliar a natureza, por exemplo, apenas sob a égide dos benefícios que sua exploração pode trazer, mas também das consequências naturais e sociais que ela acarreta.
Mas o método holístico também se aplica às ciências humanas, como o Direito, tornando-o muito mais eficiente na função de concretizar a justiça, uma vez que prega uma visão que vai além do imediato, interpretando assim todas as condições sociais ao analisar a ocorrência de um crime, por exemplo. Desse modo, o Direito desliga-se do imediatismo e da visão única apresentada pelas leis, e passa a analisar a sociedade por um aspecto verdadeiramente humano.
Em suma, é esse o ponto de mutação referido no filme, uma maneira que reforma o fazer científico, pregando que o homem deve racionalizar, mas sem expurgar as emoções, que representa assim a mudança no paradigma da ciência objetiva, antes considerada como ideal.

Barreiras Transcendentes

O filme "Ponto de Mutação" destaca, sobretuto, o hábito humano de organizar-se a partir de subdivisões, analisando fragmentos das diversas ciências cotidianas em contraponto a uma análise do todo. Decorre-se, assim, da teoria de René Descartes, introduzida no século XVII, a qual prioriza o estudo através da fragmentação máxima do objeto a ser estudado, visando um conhecimento superior das diversas unidades que o compõem.
O filme, nitidamente, faz crítica a essa teoria cartesiana, uma vez que, ao analisar-se soladamente os fatos exclui-se detalhes úteis ao entendimento superior destes. Destaca-se tal ideia, a partir dos relatos da personagem Sonia, capaz de enxengar de modo interligado os componentes do ambiente que a cerca. Pois, sob seu entendimento, somos muito mais que partes isoladas a serem observadas separadamente, possuímos conexões com o todo e estas nao devem ser descartadas.
Fazendo alusão ao direito, talvez a teoria holística, defendida pela personagem, adiasse a resoluçao de determinados casos devido as minúcias a serem observadas, no entando proporcionaria um resultado muito mais abrangente sobre o ser estudado, o que poderia levar a resoluções benéficas.
Todos somos elementos de um único sistema, sendo assim, nada mais justo do que o estudo do objeto como parte do todo, ou seja, do objeto juntamente ao meio ao qual esta introduzido, ultrapassando as barreiras da subdivisão. A análise holística, dessa maneira, é capaz de associar as diversas características de um elemento e aprofundar-se em sua complexidade, proporcionando, assim, uma observação mais detalhada das partes.


Giovanna Cardassi dos Santos Yarid

O mundo e a sociedade como um todo, e não como diferentes partes

  O mundo ainda é visto como uma maquina na qual a natureza, as pessoas, as instituições e tudo que o compõem são engrenagens que funcionam individualmente, sem dependerem umas das outras. Uma das maiores provas deste fato é o método usado pelas escolas, cada matéria é ensinada separadamente como se elas fossem campos do conhecimento totalmente independentes. No entanto, essa visão cartesiana do mundo não se aplica mais a nossa realidade. Já é mais do que evidente que os fatos históricos possuem uma relação intrínseca com a física, biologia e todas as outras áreas do conhecimento. Por exemplo, a derrota das tropas de Napoleão Bonaparte em Waterloo tem uma explicação que se associa com a biologia, pois a falta de comida e as condições climáticas adversas causaram um desgaste físico nas tropas francesas que alterou o curso da história.
  O filme 'Ponto de Mutação' de Bernt Capra aborda justamente a necessidade de quebrarmos com a visão fragmentadora do mundo e começar a ver o mundo como uma rotina de elementos que estão sempre inter-relacionados. Apesar de ter sido lançado na década de 90, a discussão que o filme provoca não poderia ser mais atual. Os problemas do mundo são encarados como perturbações isoladas no equilíbrio do mundo, porém, a cada dia percebemos que problemas da pobreza ou do desiquilíbrio ambiental só poderão se resolver se chegarmos a raiz, ou seja, se percebermos o que realmente causou esses problemas. Não se resolve o problema da produção de lixo apenas com a coleta seletiva e a reciclagem, uma vez que a quantidade exacerbada de lixo é produto de um padrão de vida que estimula o consumo irracional, o que favorece uma parcela ínfima da sociedade. Logo, o problema do lixo irá se resolver se inexistir a  "necessidade" do consumo, tão difundida na sociedade, e outras soluções para o problema que não mude este padrão de comportamento proporcionarão apenas falsas impressões de que a questão está resolvida.
  A grande questão de 'Ponto de Mutação' é que a raça humana deve se enxergar como parte de um sistema em que a ação de um indivíduo é capaz de modificar o todo.É verdade que as ações de uma pessoa pode mudar a vida de todas as outras, mas a humanidade ainda acha que isso é muito extraordinário para ser verdade. É preciso que deixemos o individualismo e o materialismo de lado, pois só assim podemos chegar a uma solução para essa sociedade doente e cheia de problemas causados pelos homens, e que agora, não fazemos ideia de como resolvê-los.
 

Por uma abordagem holística


O filme “ Ponto de Mutação” faz uma crítica ferrenha a sociedade cartesiana atual. Ele critica a maneira como abordamos as coisas, fragmentando-as. Afinal vivemos na era da especialização, onde uma pessoa conhece cada vez mais sobre um campo menor de conhecimento. Na época onde o homem quer “escravizar a natureza” e não consegue, como a física no filme, ver a natureza como um sistema, onde uma árvore é um membro desse grande sistema. Querem apenas extrair seus recursos e transformá-los em alguma forma de riqueza.
É preciso que passemos a abordar as coisas de uma maneira holística, avaliando todas as variáveis e não só o nosso lado. É vital que tenhamos uma concepção diferente de Bacon e Descartes, pois suas concepções estão fadadas ao fim, já que prescrevem o uso indiscriminado da natureza como se fosse um escravo e não um sistema ao qual fazemos parte e não somos capazes de sobreviver sem ele.
Outro tema discutido no filme de Bernt Capra é a postura dos cientistas diante de sua invenção e a responsabilidade social. Tema atual pois grandes gênios ficaram em um grande dilema quanto a isso, como Santos Dummont quando viu que o avião que havia inventado estava sendo usado com sentido bélico ele ficou muito mal e cometeu suicídio. Será que o cientista pode ter livre arbítrio sobre sua invenção? Qual seria o limite que o inventor poderia chegar com sua obra? São questões sem respostas, as quais, a medida que a tecnologia avança, se tornam mais necessárias de serem respondidas. Além disso, para agravar a questão as vezes o cientista não tem plenos poderes para decidir o que será feito com a invenção, mas quem decide são os patrocinadores do projeto que na maioria das vezes querem, acima de tudo, serem ressarcidos e gerar lucros.
          Em suma, vários temas são abordados no filme, entretanto o principal é sem dúvida a critica ao modelo cartesiano de sociedade que adotamos e para mudar isso é preciso que tenhamos uma abordagem holística.

O pensamento cartesiano em xeque



Dentre as contribuições de René Descartes, filósofo francês do século XV , para a filosofia e para a ciência, está o seu método cientifico, descrito em sua obra “O discurso do método”.
O método cartesiano é reducionista, visando à especialização dos setores para assim obter maior proveito dos recursos da natureza e aplicar os conhecimentos para produção de remédios, tecnologia e outras ferramentas para o homem.
É inegável a importância do pensamento cartesiano, que revolucionou a ciência e inspirou as Revoluções Industriais e tecnológicas, mas, será que este método seria o método ideal? Francis Bacon prega que sim, argumentando que o conhecimento por si só de nada vale, que o conhecimento precisa de um fim prático.
Em contrapartida, o filme “Ponto de mutação” faz uma crítica muito válida ao pensamento de Descartes. O filme, baseado na obra homônima de Fritjof Capra, coloca o pensamento cartesiano em xeque, apresentando o pensamento holístico. O pensamento holístico vê o todo como interligado, indissociável, como os órgãos de um organismo.
A falha do pensamento cartesiano é justamente essa, ao fragmentar demais as coisas, abandona-se a ideia de todo. O estudo muito específico das partes nos faz abandonar o conhecimento de todo.
Ao explorar-se a natureza em benefício do homem, visando a especialização das partes tecnológicas esquece-se de sua vital importância para o homem. Em meio a tantos problemas como aquecimento global, inversão térmica, chuva ácida, talvez seja a hora de pensar mais no todo.

 


     No filme de Bernt Capra “Ponto de Mutação” baseado no livro homônimo de Fritjof Capra, levanta-se a questão da aplicabilidade do pensamento cartesiano de relações complexas cujo pensamento não pode ser reduzido a uma analise compartimentalizada.
     Para Descartes e Bacon o mundo e natureza deveriam ser dominados, por meio de uma ciência analítica, para servir aos imediatismos humanos; no entanto, o pensamento sistêmico - evidenciado no filme pela personagem Sonia – considera a existência de interdependências e interconexões entre os mais distintos entes do mundo (o social, o econômico, o natural, o cientifico) e exalta a importância de se agir e pensar tendo em mente os resultados e consequências que se pode acarretar.
     Pelo pensamento do filme e aplicando-o a nossa realidade, o agente do direito deve buscar sempre analisar o mundo e os problemas em questão de forma holística, sabendo que suas ações têm profundos reflexos no funcionamento da sociedade. No entanto, deve se ater à realidade, sabendo que cada caso deve ser analisado com profundidade, mas não pode ocupar-se exacerbadamente de questões que dizem respeito ao legislador, nem fugir da função social do direito.
     Desta forma, o agente do direito, lida com a dialética de ser agente e ferramenta social: é acionado para resolver problemas já instaurados com parâmetros já definidos, não obstante deve buscar em suas ações a temperança e considerar os resultados e as causas das questões sob sua guarda.

A integração da nova visão.



No filme "Ponto de Mutação" nos deparamos com uma discussão entre um político, um poeta e uma física; no desenrolar do filme observamos uma crítica ao pensamento de Descartes ao analisar o mundo como uma máquina, enxergá-lo em partes, e a personagem Sonia, uma física desiludida com a ciência atual, traz um pensamento oposto a esse. Para ela o mundo deve ser analisado como um todo, já que a vida não pode ser resumida a partes isoladas, somos muito mais do que isso, não podemos entender o todo estudando separadamente as partes, precisamos compreender suas conecções.
Um organismo não pode pensar somente na sua vida, assim como não podemos pensar em uma parte isolada; esse pensamento individual de esquecimento do ambiente e do próximo nos levou aos problemas ambientais que enfrentamos hoje, ocorrendo nesse ponto uma crítica ao pensamento baconiano de escravizar a natureza. Esse pensamento gerou um progresso que fez o homem enxergar na exploração da natureza uma maneira de solucionar todas as suas dificuldades, porém a raiz dos problemas ambientais que enfrentamos hoje vem dessa visão da natureza.
Somos seres que não vivemos isolados, como dizia Durkheim, os homens precisam uns dos outros, mesmo com as suas diferenças, surgindo daí os tipos de solidariedade; desenvolvemos um pensamento coletivo, interagimos e precisamos dos outros para realizarmos nossas atividades, somos capazes de nos renovar, crescemos, nos adaptamos, não podendo, assim, sermos comparados à uma máquina. Antes de fracionar devemos entender a integração, para assim expandirmos nosso conhecimento e compreendermos os "porquês". 


O filme “Ponto de Mutação” foi baseado no livro de mesmo nome elaborado por Fritjof Capra. O enredo, bastante simples se passa em uma conversa com três pessoas que invocam assuntos de grande interesse para o nosso futuro, bem como algumas vertentes filosóficas. A conversa ocorre com o intuito de mostrar os defeitos de nossos pensamentos e a possível correção para os tais, o que levaria a um grande avanço para a sociedade atual e principalmente para as futuras.

A grande crítica do autor é feita ao método cartesiano, aquele que enxerga a realidade (universo, ecossistemas, pessoas) como uma máquina, composta simplesmente por partículas menores, independentes e individuais.

A grande solução para os problemas contemporâneos seria a observação da realidade como um todo, como um sistema integrado, composto por partículas menores que se entrelaçam, se relacionam para formar o todo. Dessa forma o autor mostra a visão de que um problema, mesmo maquiado como uma virtude temporária, pode levar a outros problemas. Da mesma forma, as soluções, que podem ser malvistas pela sociedade inicialmente, podem solucionar diversos problemas, pois eles também se relacionam.

A Ecologia também é uma ideia marcante do texto, utilizada com o intuito de mostrar que os atos maléficos ao meio consequentemente nos prejudicam. Isso porque o nosso ecossistema é formado pela interação dos seres vivos e da natureza. Interação essa sem a qual não viveríamos.

Tais ideais, que buscam uma análise maior da realidade, também devem ser levados às práticas jurídicas. Acontece que uma observação melhor de um crime, por exemplo, pode levar ao descobrimento de sua origem, seus antecedentes, e de sua possível solução. Isso levaria a uma diminuição considerável do número de crimes semelhantes e acarretaria a outras melhoras para a sociedade, já que os problemas, assim como todo o universo, são interdependentes.



José Eduardo Garcia Tavares

Por quem os sinos dobram ?

Meditation XVII

No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main; if a clod be washed away by the sea, Europe is the less, as well as if a promontory were, as well as if a manor of thy friend's or of thine own were; any man's death diminishes me, because I am involved in mankind, and therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee.

John Donne

Nenhum homem é uma ilha isolada, em ode à Donne. Somos fragmentos compositórios de um sistema que se interliga por fatores bióticos e abióticos.
Os cartesianos estavam equivocados, fragmentar a ciência é limitá-la e domá-la é, antes de tudo, datar seu fim. Descartes e seus conterrâneos ao proporem uma forma desenvolvimentista da ciência se espelharam nas necessidades e carências de seu tempo. O homem moderno designou-se tal fazendo uso de tais princípios e ao esbarrar-se com a contemporaneidade, onde as demandas foram alteradas e o conceito de pós-moderno faz jus a sua designação de consumo, não repensou em tais conceitos, que já se encontravam enraizados em sua essência.
Evoluir não o é por si só, ninguém há de evoluir sozinho e caso tamanho equivoco ocorra não há função para tal. Devemos repensar a sistemática com a qual olhamos e mundo , sem fragmentá-lo em apêndices irresolutos , mas tratando-o como um todo, zelando por tal holisticamente, uma vez que o conhecimento só é base para que novo conhecimento desponte concomitante com seu tempo e hábil de reconhecermo-nos como iguais e membros de um mesmo espaço indissoluto, afinal, o sino dobra por ti.

Do reduzido ao holístico: as diferentes formas de ver o mundo


No filme “Ponto de Mutação”, nos deparamos com uma forte crítica ao atual sistema em que vivemos: o da especialização, separação e reducionismo das áreas, tanto na medicina, quanto na economia, biologia ou psicologia.
Tal método científico foi introduzido pelo francês René Descartes, no século XVII e se caracteriza pela análise do reduzido, separando cada área para uma análise mais detalhada, prejudicando o conhecimento integral ou holístico. A crítica também é estabelecida ao pensamento de “escravização da natureza” proposto pelo Francês, no qual ele defende a ideia de que se deve estudar a natureza e, após entender seu funcionamento, usa-la a favor das necessidades humanas, esquecendo-se de avaliar os danos causados a ela mesma e, posteriormente, refletidos aos homens. Descartes enxergava a natureza e o mundo como uma grande máquina; dessa forma, acreditava que ao conhecermos as ‘peças’ integrantes dessa maquina, conheceríamos o sistema e então poderíamos usa-lo ao nosso favor.
O método de Descartes é posto em cheque ao avaliarmos a sua validade ao analisarmos o mundo atual, cada vez mais complexo. O filme baseia sua crítica ao afirmar que, ao analisarmos a realidade em partes, acabamos não entendendo o todo, tornando clara a defesa de um pensando holístico e sistêmico, onde tudo está interligado e é indissociável.