Total de visualizações de página (desde out/2009)

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

O mercado determina a vida e a morte

            O materialismo dialético como método científico sistematizado por Engels, intencionava mostrar que o socialismo não era simplesmente um voluntarismo, mas sim uma teoria profunda baseada num método científico. Para Marx e Engels, só poderia se chegar à interpretação real dos fatos, a partir de hipóteses, não de princípios, tal como o marxismo, com a sociologia como ciência.
            Eles acreditavam que o socialismo é o estudo, a teoria da sociedade burguesa e do capitalismo com um manual para colocar o socialismo em prática, transformando o que é fogo destrutivo num calor acalentador, transformando os bens da modernidade em algo para todos, através da ciência. Como eles são produtos da modernidade, se utilizam da ciência para superar a sociedade burguesa.
            Para Marx, diferentemente de Hegel, são as determinações que se fazem de uma forma de produzir no mundo que vão dizer o que é real; desta forma, ele utiliza do modo de produção para explicar sociedade. O ser humano, ontologicamente, se distingue pela razão, a qual é questionada por Marx se é livre, pois não é somente a razão que define o ser social, mas sim o trabalho pelo fim racional, através da ciência, transformando o espaço. O trabalho com fim é a ontologia do ser social.
            Há uma superação da filosofia, a dialética histórica busca as causas através da análise científica histórica, não a explicação racional. Em uma crítica à filosofia alemã, não basta uma batalha entre conceitos, estes devem ser provados cientificamente. Para Marx e Engels, a história natural é o “espelho da dialética” (transformação permanente), analisa-se historicamente as causas mais profuundas dsa coisas para entender a função das coisas, o que elas sintetizam. É necessário ir além do instantâneo, do que os olhos vêem, ver as múltiplas faces e realidades das coisas.
            “O concreto é concreto, porque é a síntese de muitas determinações”, é um elemento em permanente tensão, entre tese e antítese, sendo a dialética como real.
            Portanto, o materialismo dialético consiste em uma missão de desvendar as leis do desenvolvimento histórico. A resposta para os males de qualquer época não está nas ideias, mas sim na própria história.
            O socialismo para Engels é um percurso natural incontornável da história e não uma obra do gênio humano. A ciência social tem cono objetivo a análise histórica da sociedade. A cientificidade do “novo socialismo” estava em decifrar as leis históricas e as contradições inerentes ao capitalismo, como a “mais-valia” por exemplo, segredo da produção capitalista e principal mecanismo de exploração da classe trabalhadora.
            O capitalismo por si só, de acordo com Marx e Engels, irá sucumbir, sua natureza o faz assim, já que suas maiores crises são de superprodução. A libertação das forças produtivas se dá quando estas saturam o mundo e se disponibilizam a todos através da ciência moderna. Isso é o socialismo, superando o mercado. Transformando o fogo destruidor em uma chama de construção do homem, por isso, a fase burguesa faz-se necessária.

            Desta forma, a ideologia meritocrática de mercado assume papel central nas nossas vidas, determinando as relações sociais, uma vez que determina a economia. Segundo ela, os mais competentes enriquecem, através do trabalho. É exatamente neste ponto que o materialismo histórico não iria analisar se um trabalhador que é competente enriquece, analisaria as condições que este foi submetido durante toda sua vida, se teve as mesmas oportunidades e se há chances reais dele ascender economicamente de fato.  E baseado nessa ideologia, as pessoas ocupam seu tempo trabalhando exaustivamente na tentativa de “subir na vida”, enquanto na realidade, estão contribuindo para que os donos dos meios de produção enriqueçam ainda mais, através da “mais-valia”. Assim, o mercado determina a vida e a morte. O capital determina quem vive e quem morre. 

Henrique Lopes Mazzon - Direito Noturno