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segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Tirem seus rosários dos meus ovários


De nada adianta se o Direito apenas pairar sobre o plano social, como um sistema autônomo. Seu objetivo não era o de regular as relações sociais? Ele tem que ouvir os clamores da multidão. Os engravatados devem descer de seu pedestal divino para ouvirem os outros, principalmente os que pertencem a um grupo diferente do que eles.
Porém, parece que pedir que a mulher tenha uma voz efetiva na sociedade, em pleno século XXI, é demais.
A descriminalização do aborto de anencéfalos é uma conquista a se comemorar; mas apenas um pequeno degrau de uma escada muito grande, e que já estamos ameaçando de descê-lo com a PEC 181, que por uma manobra de um jogo de palavras passaria a proibir o aborto em todos os casos.
É impossível não sentir raiva de todos aqueles deputados da bancada Evangélica comemorando a PEC 181. É horrível e frustrante ter que seguir leis feitas por homens e que versam sobre nossos corpos. Eles não sabem, nunca saberão.
Eles veem tanta vida no feto e tão pouca na mãe. Não se importam com as milhares de mulheres que morrem todo ano por não possuírem o direito de escolha, e por não terem acesso a condições minimamente humanas e dignas para levarem sua escolha a diante. As ricas sobrevivem, as pobres já não possuem tanta sorte.
Dá vontade de gritar que mulheres não são simplesmente “encubadoras” da sociedade. Sobre o quanto que a gravidez é romantizada, tanto o processo de nove meses quanto o que ela, em tese, significa: o suposto ápice da vida de uma mulher.
Eu queria falar sobre agulhas de crochê e chás de canela. Sobre como métodos contraceptivos são quase sempre direcionados para as mulheres e não para os homens. Como o anticoncepcional tem efeitos horríveis e ainda é esperado que as mulheres se submetam a ele.
Eu queria falar sobre como a responsabilidade da criação de um filho cai quase que 100% sobre os ombros da mãe. Sobre como um pai que troca fraldas e posta no Facebook é louvado e ovacionado como “paizão do ano”, e uma mãe que faz o mesmo apenas está fazendo o seu trabalho.
Eu queria lembrá-los da quantidade absurda de mães solteiras e de filhos que não possuem sequer o nome do pai em seus documentos. Sobre a condenação do prazer feminino, a repreensão da sexualidade das mulheres. Sobre como a sociedade quer para si o domínio sobre os corpos femininos.
“Na hora de fazer tava gostoso, né?”

Eu queria falar tudo isso, mas não seria ouvida. Aparentemente as vozes das mulheres não chegam ao Olimpo dos engravatados que decidem sobre suas vidas (ou mortes). 

Lara Estrela Balbo Silva - 1º ano Direito Noturno

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