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domingo, 20 de agosto de 2017

A amplitude do fato social: apartheid, nazismo e Geisy Arruda

Positivista, funcionalista e evolucionista. Essas são as principais características epistemológicas do sociólogo francês Émile Durkheim que, apesar de ter sido marcante no século XIX, conseguiu manter a contemporaneidade de suas principais ideias, tais como a anomia e a reação social pela consciência coletiva presentes no fato social.

O conceito de anomia descreve as patologias sociais a partir da ruptura da ordem, bem como a fratura das normas. Toma-se como exemplo a luta dos negros e da comunidade LGBT que, mesmo sendo oprimidos, afrontaram a ordem vigente e alcançaram, progressivamente, direitos fundamentais tal como o fim do apartheid na África do Sul e o casamento homoafetivo em alguns países.

Já a reação social exposta por Durkheim está intrinsecamente ligada à consciência coletiva, bem como uma resposta da sociedade perante uma determinada ação. Isso se comprova historicamente diante do exemplo da Alemanha pós-Primeira Guerra Mundial. Totalmente destruída e com forte sentimento de revanchismo, o povo alemão se viu acolhido pelas ideias nazistas a partir da figura do líder Adolf Hitler. Dessa forma, a reação social dos alemães foi de culpabilizar os judeus do mercado financeiro e disseminar o ideal da supremacia ariana.

No Brasil, o fenômeno Geisy Arruda também pode elucidar a reação social. O simples fato de a garota usar um microvestido rosa causou um tumulto de proporções homéricas na Uniban, faculdade em que Geisy estava matriculada. A confusão resultou em muitos xingamentos pelos colegas da estudante, sendo necessário o uso da força policial para escoltá-la para casa. Assim sendo, a conduta dos agressores frente à Geisy explicita os valores e o senso de justiça de uma sociedade ainda marcada pelo machismo e o patriarcalismo.

O fato social, portanto, não se caracteriza somente pelo caráter geral, coercitivo e exterior ao indivíduo. É preciso analisar, também, a anomia e a consciência coletiva macroscópica. Além do mais, as teorias de Durkheim são atemporais, visto que ainda existem muitos exemplos palpáveis de anomia e reações sociais na atualidade.

Fernando Jun Sato, 1º Ano Direito Diurno

Você é motivo de riso para o palhaço

A sociedade acaba impondo padrões de comportamento. Todos os dias somos bombardeados por informações que ditam nossas vidas e que acabam determinando o que é o certo e o errado para nós. Como se não bastasse nossos familiares decidirem o que vamos fazer, qual curso seguir, o que devemos vestir, quantos filhos devemos ter e para qual times vamos torcer, ainda temos outro fator que acaba nos modelando como indivíduos: a mídia. Esse instrumento utiliza de propagandas sedutoras e artifícios argumentativos para estereotipar o “individuo ideal”, o qual consome os produtos da “marca X”, tem o corte de cabelo do “ator Y”  e por conta disso tem uma vida bem sucedida.

Esses fatos corroboram aquilo que Durkheim analisou como coercitividade e fato social. Acontecimentos que ocorrem de forma constante em uma sociedade e se tornam um hábito acabam sendo aceitos como o certo e moralmente aceito. Tudo aquilo que foge do padrão estabelecido tende a sofrer sanções. No âmbito jurídico, por exemplo, aquele que está em desacordo com  o que é estipulado pela Lei sofrerá penalidades. Além disso, na questão social temos que a conduta diferente pode provocar inúmeras consequências, como a exclusão de um grupo, preconceito e até o riso. Sim, o riso. O que é então o palhaço além de um indivíduo que não segue os padrões aceitos pela sociedade e está constantemente quebrando a expectativa social ? O que leva alguém a ler um livro e dar risada se não é o desvio daquilo que é tido como moralmente correto ?

Isso confirma que não somos livres, e que nossas decisões são baseadas naquilo que a sociedade nos impõe. Até mesmo aquelas pessoas que dizem “não sofro influência de ninguém e criei meu próprio estilo de vida” não são livres, pois se espelharam em algum modelo para seguir esse padrão.


Estamos vivendo em um mundo o qual devemos seguir aquilo que nos é imposto e temos a falsa ilusão de sermos donos do nosso próprio destino. No final das contas, somos apenas clones uns dos outros e a aqueles que são motivo de risada para nós estão rindo nesse exato momento pois estão pensando “pobrezinhos...como deve ser chato viver nesse mundinho de padrões”. Lembra do “palhaço” que você deu risada esses dias ? Então...você é motivo de piada para ele.

Wagner Galdino 1º Ano Direito Noturno

A Dissociação do "eu"?

Émile Durkheim foi um grande pensador francês que trabalhou com as relações dos indivíduos e da sociedade, incitando toda uma influência da sociedade nos indivíduos.  Neste cômpito, um prisma interessante de se abordar é a possível dissociação do “eu” de seus papéis e status sociais e históricos, trazendo a tona questões modernas de dívidas e perdões históricos e individualismo moral.
As últimas décadas trouxeram uma grande quantidade de questões polêmicas sobre desculpas públicas por injustiças históricas. Recentemente, países como a Alemanha, Japão, Estados Unidos realizaram declarações nas quais faziam pedidos oficiais de perdão aos indivíduos ou grupos sociais que foram vítimas de alguma forma de atrocidades passadas. Diante disso surge a pergunta: nós devemos pagar pelos pecados de nossos antecessores?
Sob a perspectiva do individualismo moral, não se presume que o indivíduo seja egoísta. Na verdade a ótica é a de ser livre, submetendo-se apenas às obrigações escolhidas voluntariamente.  Immanuel Kant e John Rawls foram dois grandes pensadores que dissertaram sobre tal ponto, através, respectivamente de suas ideias sobre lei moral e princípios de justiça. Nesse diapasão, é passível de se argumentar que o alemão de hoje não tem relação com os que no passado participaram do holocausto, e, destarte, um pedido de desculpas seria desnecessário e ineficaz.
Por outro lado, os críticos dessa doutrina argumentam que não é possível raciocinar sobre questões atreladas a uma justiça desconectando-se do que estamos inseridos, a que estamos ligados. Alasdair MacIntyre, em sua obra Depois da Virtude, menciona que primeiramente deve se fazer a pergunta: “De que histórias eu faço parte?”.  Ela presume que o “eu” não possa ser desvinculado de todo seu contorno social e histórico. Responde que o argumento do jovem alemão não tem a devida densidade moral.

A importância das bases científicas fundadas por Émile Durkheim mostra-se por, justamente, apontar o quanto o contexto social nos responsabiliza e nos conforma: com poucas lacunas para uma possível liberdade individual. Por conseguinte, observar-se-ia a necessidade de se conhecer mais a fundo toda uma gama de determinantes sociais. Para Durkheim, se pedir desculpas é um “dever cívico” o indivíduo será instado a concordar, coercitivamente. Qual será, então, a dinâmica de forças sociais?

Douglas Toci Dias - 1º Ano Matutino

A padronização impede a desconstrução

É possível criticar a padronização e os conceitos pré-estabelecidos pela sociedade, argumentando que eles reforçam a criação de indivíduos como “robôs”, seguindo um padrão inerente ao ser humano. Ainda que a tese de Durkheim acerca dos fatos sociais não seja uma completa mentira, ela ainda necessita de várias observações críticas. A educação que o sociólogo retrata como fato social é, sem dúvidas, fundamental para a sociedade, de forma que ela é a base para a construção da mente humana, desde a infância até a vida adulta, e uma das maiores pontes entre o indivíduo e o conhecimento. No entanto, a reflexão que pode ser estabelecida diante desse tema é: seria a educação tradicional a melhor forma para levar o conhecimento às nossas crianças e jovens?
Nos dois últimos anos, ganhou força no país um movimento chamado Escola Sem Partido, assinado por pais, responsáveis e educadores, no qual eles lutam contra a “doutrinação ideológica” nas escolas brasileiras. Afirmo, sem hesitar, que esse projeto visa apenas à manutenção de uma educação conservadora, tentando impedir que professores inovem o nosso sistema educacional trazendo pautas extremamente importantes, principalmente na sociedade do século XXI. Portanto, precisamos entender que a nossa forma de educação talvez não seja mais adequada aos tempos modernos, visto que ainda vivemos em um mundo repleto de violência, preconceito, ódio e discriminação; em um mundo onde pobre é humilhado, onde preto é tachado de ladrão, onde homossexuais são vistos como abominação, onde mulheres são vistas como submissas ao homem, entre tantos outros absurdos.
Pergunto-me se nós tivéssemos uma educação mais libertadora, que reforçasse o nosso pensamento crítico e que seguisse menos os padrões que sempre foram impostos pela sociedade, nós viveríamos em um mundo melhor e mais progressista? A crítica que deixo é que precisamos parar de educar nossa juventude para obedecer e seguir todos os padrões, de ensiná-los as mesmas coisas de sempre, de moldá-los de forma que sejam todos iguais. A educação precisa ser reelaborada de acordo com a evolução do mundo.

Kelly Akemi Isikawa - 1º Ano/Diurno


Desejos oprimidos. Sonhos abdicados.


  Lucas é um jovem de 18 anos. Desde a infância ele se interessa por moda, roupas, confecção e desenho. Quando pequeno, economizava sua mesada para comprar revistas da Vogue na banca de jornal e juntava retalhos para costurar  roupinhas para seus bonecos. Hoje ele cursa Moda em uma Universidade renomada, é uma pena que ele não cause orgulho para ninguém, além de si mesmo. Seu pai detesta a escolha que o filho fez, sua mãe prefere não tocar no assunto. Na escola, sempre que o assunto vinha à tona, seus colegas não hesitavam em lançá-lo olhares de deboche, comentários preconceituosos. “isso é coisa de viado”, frase que já havia se tornado frequente para ele.
  Raíssa, uma adolescente de 16 anos. Com paixão por futebol. Palmeirense fanática, assistia, religiosamente, todos os jogos nas tardes de Domingo, acompanhada de seu pai e seu irmão mais velho. Seu sonho era entrar em um time, tornar-se jogadora profissional. Ela só não sabia como. Nenhuma escola de futebol que ela procurava aceitava meninas ou tinha um número de interessadas o suficiente para montar um time. Quando Raíssa propôs montar um time com suas amigas de escolas, a resposta era uma só: “Credo, claro que não, isso é coisa de homem”.
  O que Lucas e Raíssa têm em comum? Ambos são jovens reprimidos e desencorajados por uma sociedade padronizada e engessada por regras construídas sem o menor sentido. Não existe nada de mal em um garoto gostar de moda, não existe uma lei que impeça que homens gostem de moda, muito menos esse “gostar de moda” interferirá na sua sexualidade ou orientação. Tampouco está na legislação que mulheres não possam jogar futebol. Este esporte não é restrito apenas ao sexo masculino.
  Mas se tais atos não são ilegais, por que é que são tão fortemente reprovados pela sociedade? Simples, pelo chamado “Fato Social”, estudado pelo sociólogo Émile Durkheim. Sobre este, o pensador afirma ser um fenômeno que se dá coletivamente e pressupõe a aceitação da maioria. Esse fenômeno deve ser visto como “coisa”, mesmo sendo imaterial. Está fortemente presente e vivo na sociedade em que vivemos e possui um poder coercitivo que supera o livre arbítrio de um indivíduo em realizar suas ações pela sua própria vontade, obrigando-o a seguir a vontade da maioria.
  É isso que coloca na cabeça das pessoas que futebol é para meninos, moda é para meninas. Que azul é cor de menino e rosa é cor de menina. Que assistir animações é coisa de criança e dominó é coisa de velho. Que não se pode fazer barulho enquanto toma sopa, ou não possa entrar de chinelos em uma boate. No fundo, todos sabem que tais pensamentos não possuem lógica ou razão. Realiza-los não torna ninguém errado ou “pior” que ninguém. Mesmo assim, as pessoas julgam. E você, o quanto se parece com o Lucas ou com a Raíssa? Quantos de seus desejos e sonhos são oprimidos e abdicados por conta do Fato Social?


Yan Douglas A. Teles – 1º Ano Direito/Noturno

A obrigatoriedade da vida perfeita

Ao final do século XIX, o sociólogo Émile Durkheim estudou intensamente os fatos sociais, que para ele devia ser o objeto de estudo da sociologia. De acordo com Durkheim, esses fatos sociais se apresentam em toda e qualquer sociedade e tem como característica seu poder coercitivo e sua exterioridade aos indivíduos. Suscintamente, esses seriam padrões de agir impregnados na sociedade, fazendo com que os indivíduos ajam seguindo sempre determinadas regras. Comparando seus estudos com nossa realidade, podemos perceber que suas conclusões podem explicar diversos problemas atuais.
No nosso cotidiano podemos perceber os fatos sociais como todas essas imposições que recaem sobre os indivíduos. Exemplos são o que não faltam: o corpo das mulheres deve ser tão escultural quanto os corpos das “Angels” da Victoria’s Secrets; a família ideal é formada por um pai, uma mãe e um ou dois filhos; a vida perfeita depende do casamento; etc. A escola talvez seja o local onde observamos mais explicitamente essas imposições. A criança ou adolescente deve seguir um certo padrão, deve usar tênis da marca x, casaco da marca y e seu comportamento não pode destoar dos demais, caso isso ocorra haverá- em grande parte dos casos- uma punição: o bullying.
Na vida adulta essa pressão se dá de diferentes formas. No instagram são expostas vidas perfeitas, corpos perfeitos, viagens perfeitas, famílias perfeitas... Será que toda essa perfeição realmente existe? Se existe ou não, nos vemos coagidos a seguir um padrão e se, por acaso, algum aspecto de nossa vida não se encaixar nesse “molde” nada parece valer a pena. Mas vale lembrar que essa busca inalcançável por padrões preestabelecidos gera consequências, quando a pressão atinge determinado limite podem aparecer doenças como a ansiedade e a depressão, as chamadas “doenças do século”.

Desse modo, fica fácil ver a genialidade de Durkheim que estudou tal fenômeno no século XIX  e ainda assim podemos observar na prática suas conclusões.

Érika Luiza Xavier Maia - 1º Direito Noturno

Um texto autobiográfico demais para ser considerado acadêmico

Perdoe-me pela falta de rigor acadêmico deste texto. Descartes e Bacon, até mesmo o próprio Durkhein reviram-se em suas respectivas covas; porém eu simplesmente não consigo tratar esta ferida aberta com frieza e imparcialidade.
“Você não exerce o papel que a sociedade acha que você deveria exercer. E isso causa dois tipos de reações nas pessoas: ou elas te amam e te acham maravilhosa, ou elas te odeiam porque você as incomoda.”
Há algumas semanas atrás ouvi isso do meu melhor amigo. E confesso que, enquanto me arrumo para a festa de quinta feira, essa frase ecoa em minha mente. Eu, que não me encaixo nem um pouco nos padrões de beleza, ainda tenho a audácia de me maquiar. De colocar uma roupa diferente, mais estilosa. Passar batom escuro, pintar o cabelo de azul e colocar piercing no nariz. Sentir-me bonita, não ter medo de conversar com os outros, ser extrovertida, recusar o papel de coadjuvante que me é imposto. Não ter medo de chamar a atenção.
Você não é bonita o suficiente pra ele.
Entretanto, a luta não está totalmente ganha- talvez ela nunca esteja. Eu adoro fingir que tudo melhorou; que eu não sou mais aquela garotinha insegura que detestava se olhar no espelho. Mas talvez minhas inseguranças só estejam disfarçadas. Meus demônios nunca foram embora, eles sequer tiraram férias.
Sabe que ele é ex da fulana, não sabe? Ela é tão linda. E loira. E magra.
Por tanto tempo eu fui ensinada a não gostar de mim. A evitar qualquer superfície espelhada, assim como roupas claras e carboidratos. Que meu rosto era bonito, meu cabelo também. Tantos anos de desconforto, de vergonha, de raiva com meu corpo. Inúmeras crises de choro.
Ele pode até ficar com você, mas vai rir disso quando estiver com os amigos e falar que estava muito bêbado.
Criar amor próprio é o maior ato de resistência em uma situação dessas. Mas não é nem um pouco fácil. Essas vozes que me xingam, me depreciam... São tão fortes, tão ensurdecedoras. Elas nunca tiram folga, mas eu continuo tapando meus ouvidos com força.
Imagine só conhecer a família dele! O que eles vão pensar de você? Já consigo até ouvir os comentários...

E toda a minha força surte efeito. Depois de anos, eu finalmente consigo falar sobre as minhas inseguranças de modo aberto e para quem quiser ouvir – tanto que estou falando sobre elas em um texto que estará disponível publicamente. E o faço sem nenhum tipo de pudor pelo simples fato de que todos nós possuímos demônios de estimação de variados tipos, tamanhos, cores e espécies que nos acompanham desde a infância. Eu simplesmente estou expondo o meu e, ao fazer isso, matando-o um pouquinho mais. 

Lara Estrela Balbo Silva
1º ano - Direito Noturno
Dust in the Wind

Um dos conceitos mais interessantes de Émile Durkheim diz respeito à relação entre o indivíduo e a sociedade. Para o autor, a individualidade não existe, pois nossas ações e vontades são pautadas apenas na dinâmica social, sem que tenhamos alguma relevância nesse aspecto. Ou seja, nessa visão somos apenas expressões do coletivo, sem autenticidade e completamente desprezíveis, visto que todos os outros indivíduos exercem esse mesmo papel.
Nesse sentido, podemos dizer que: “tudo o que somos é poeira no vento” (do original: “All we are is dust in the wind”), trecho presente na canção Dust in the Wind da banda Kansas. Somos como um grão de poeira, apenas um insignificante grão de poeira em meio a bilhões de outros tão minúsculos e relevantes como nós. A sociedade, por sua vez, manifesta-se como o vento, que sopra à sua própria maneira, levando consigo todas aquelas indefesas partículas, que vão de um lado a outro seguindo seus sopros.

O individuo, portanto, é moldado por forças externas a ele, de modo que não tem escolha em sua própria formação. Esse processo pode não ser percebido por seu alvo, já que o individuo acredita que possui uma individualidade, crendo que está seguindo seus próprios desejos, enquanto apenas está manifestando fenômenos coletivos aos quais foi intensamente exposto.

Liberdade ilusória


Somos robôs programados para servir o organismo social
Aja assim, vista-se deste modo, pense como tal
Aonde já se viu subverter a ordem e o "status quo" das coisas?
Quando nasceste o mundo já era assim, então por que te incomodas?

Vivemos em uma sociedade na qual tudo é taxado como errado, imoral
Querem moldar-me um "ser social", mas tudo o que desejo é minha liberdade individual
Reforma da educação pra quê? Se continuamos com o velho formato arcaico
Carteira atrás de carteira, mesa, professor, lousa e o velho dicionário

Sociedade excludente, sociedade limitada, na qual poucos têm muito e muitos têm nada
Quem rouba é marginal, vagabundo e olhado torto, aqui impera o lema "bandido bom é bandido morto"
Para explicar o fato social é preciso analisar, 
Antes do efeito ver qual é sua causa, sem julgar

Viver e não ter vergonha de ser feliz,
Mesmo rodeada de padrões  
Que me impedem de ser quem eu sempre quis

Juliana Beatriz de Paula Guida - 1° ano - Direito Matutino



Fato Social do dia a dia

Em uma delegacia, um homem é levado pelo policial a uma cela provisória onde aguardaria. Quando adentrou a cela, passou a refletir intensamente sobre o que fez, ao ponto de exteriorizar seu conflito.
  - Por que ? Por que fiz isso ? Normalmente não tomaria uma atitude dessas, mas mesmo assim por alguma razão eu fiz parte daquilo, algo que me parece tão incomum e sem sentido agora, mas que horas atrás fazia todo o sentido do mundo....
 -  Você deve ter feito algo muito ruim para estar se arrependendo assim - diz uma voz vinda de um dos cantos da cela.
 O primeiro subitamente se vira em direção a voz e percebe a presença de um homem  sentado ao fundo. Estava tão compenetrado buscando explicação para o que fizera  que nem ao menos se importou em observar a cela  em busca de outra pessoa.
 - Quem é você ? - pergunta contidamente
 - Ah , perdão, me chamo Ricardo - responde o homem de forma amistosa - E você seria ?
 - Pedro, me chamo Pedro.
 - Pois bem Pedro, se importe de compartilhar comigo sua história ?
 Inicialmente Pedro reflete se deve ou não contar a história, mas pensando que talvez conversar com alguém o faça entender o que fez, decidiu por fim contar. Pedro se encontrava em um jogo de futebol, onde acompanhava seu time em meio a torcida. Era uma partida muito importante, os dois times em campo partilhavam grande rivalidade, assim como suas respectivas torcidas. Em meio a provocações da torcida rival, pessoas da torcida onde Pedro era parte começam a se irritar, o resultado se agrava com a derrota de seu time. O atrito se intensifica e pela mesma razão Pedro se irrita também, e quando se deu conta estava acompanhando seus colegas. O atrito se inicia e a violência é generalizada.
 - Agora, pensando no que aconteceu e no que eu fiz, me sinto estranho, por mais que goste e leve a sério o futebol nunca participei de algo assim - lamenta Pedro.
 - Entendo. Isso explica suas roupas - comenta Ricardo - sabe, lembro-me de uma teoria que poderia explicar o que aconteceu.
  Ricardo passa a falar sobre a teoria de um Sociólogo famoso, Émile Durkheim que falava sobre o Fato Social que se configura por maneiras de agir, pensar e sentir que são exteriores ao indivíduo, ou seja independente de do pensamento individual e que possuem poder coercitivo. Instituições sociais e hábitos  são provas da generalização desses fatos. A educação funciona como agente formador para a concepção de agir, pensar e sentir que é conveniente para a sociedade. As pessoas são imbuídas de valores e princípios sociais que harmonizam com os conceitos da religião e do direito em si. Mesmo quando tentamos ir contra ele, sua força se demonstra pela coerção que exerce caso eu me oponha a sua maneira de ser, tornando difícil realizar aquilo que quero, se isso fugir ao que esse fato emprega. Como se manifesta de forma coletiva e geral, não se caracteriza pelo individuo e como ele sozinho absorve o reflexo desse fato, pois frente a sua influência todos  tendem a agir de acordo com seus padrões.
 - Logo, em um grupo, a ideia concebida do futebol, do time, a força cultural que isso tem na sociedade brasileira se torna uma corrente de pensamento a se seguir, e nesse meio você se sente estimulado a corroborar com essa ideia, uma vez sozinho, tendo esse principio relacionado agora com suas concepções individuais, você não identifica mais as sensações que o coletivo te proporcionava, portanto sente um estranhamento - conclui Ricardo
 - Nossa, que teoria louca, se for assim tudo o que fazemos relacionado a nosso trabalho, nossos ciclos sociais, nossas vidas, tem influência de fatos sociais, nossa individualidade de pouco vale ? - Questiona incrédulo Pedro.
 - É uma forma de ver essa teoria que especifica o objeto da sociologia para Durkheim, mas podemos lutar contra o fato social, mas como disse há a coerção que dificulta seu exito, aliás é por isso que estou aqui. - completa Ricardo.
 - Como assim ? O que você fez ?
 - Fui preso pela unica forma de dívida que socialmente e institucionalmente é ainda capaz de prender alguém.Não paguei pensão. Por mais que a sociedade e seu andar não sejam absolutos, por mais que as instituições mudem de funções, ou seu repertório de ideias, a natureza delas nunca deixa de existir, não enquanto essa sociedade existir.
 - Entendo. Bom sendo fato social ou não uma coisa é certa, só vou assistir o jogo em casa de agora em diante. - Conclui Pedro.

Leonardo Garcia - Direito -1ºAno - Noturno

Adeus, mãe

Querida mãe,

Eu sei que você estará triste no momento em que ler essa carta. Espero que isso a ajude a entender que nunca foi sua culpa. Desde novinhaqueria ser modelo. Gisele Bündchen, Isabeli Fontana... maiores ídolos da minha vida. Você sempre dizendo que eu era linda e que meus olhos de jaboticaba a encantavam. E por muito tempoassim eu acreditei. Até que em meus 11 anos me mudei de escola, quando a senhora conseguiu o serviço que me dava aquela bolsa de estudos. E como somos pobres, toda esmola que vem é bem aceita. E lá, mãe, encontrei o que seria por muito tempo meu inferno. Não digo isso numa tentativa de te culpar. Sei que o melhor era o que você queria para mim. Digo isso porque durante 6 anos escutei todos os dias "preta imunda, suja, estranha, gorda, cabelo ruim, filha de lixo, pobre, nojenta." Machuca me expressar assim, mas, depois de um certo tempo, eu acreditei que eu era resumida nisso. Meu sonho de ser modelo se tornava mais distante. Meus olhos de jaboticaba não conseguiam ver nada mais que uma escória em frente ao espelho. Comecei com as dietas em que, você mesma sabe, não comia durante dias. Se comesse, punha para fora. Me achava cada vez mais ridícula. Não conseguia olhar para mim mesma. Até que chegou o dia em que parei de ligar, de tentar me encaixar em algo que não caibo, em algo que a minha existência é irrelevante e descartável. E hoje, o que eu sinto se resume em dor. Marcas no meu corpo mostram que a dor não é suficiente dentro de mim. E a angústia de saber que sou um peso, me faz querer partir. E assim eu vou. A sociedade me fez assim, e assim devolvo meu cadáver de entranhas e resquícios para essa morte suja. A anomia de minha vida se resumiu em um adeus.


Seja feliz.
Sempre sua pequena, Carla.
20/08/2025


Izadora Barboza Maia - 1° Ano Direito (Noturno)